Acusado pelo Ministério Público Federal de participar da compra de medidas provisórias (MP) que beneficiaram o setor automotivo, o lobista Mauro Marcondes Machado disse nessa quarta-feira (9) ao juiz federal Vallisney de Souza, da 10ª Vara Federal, em Brasília, “ser impossível” comprar a aprovação de medidas provisórias (MPs).
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Preso desde o fim do ano passado, o lobista defendeu a regulamentação do lobby (atividade de pressão de um grupo organizado sobre políticos e poderes públicos para exercer qualquer influência ao seu alcance, mas sem buscar o controle formal do governo) durante interrogatório em uma ação penal decorrente da Operação Zelotes, que investiga a manipulação de julgamentos do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), do Ministério da Fazenda, além da compra de medidas provisórias.
“Quem faz lobby não precisa corromper. Que faz corrupção não precisa fazer lobby”, disse Marcondes. “Tenho 56 anos de atividade profissional e nunca precisei corromper ninguém”. Segundo ele, as MPs 471, 512 e 627, de estímulo ao setor automotivo, ajudaram o país. “[Se não fossem as MPs] hoje nós estaríamos invadidos de carros chineses, importados”.
O advogado de Marcondes, Roberto Podval, disse ao fim do interrogatório que outras testemunhas ouvidas no processo também descartaram a possibilidade de “venda de MPs”. “[As MPs] eram uma política de governo, tinha interesse nacional nas medidas provisórias. Acho absolutamente natural que aquela medida fosse aprovada. Não há espaço para compra de medida provisória”, argumentou.
O interrogatório foi marcado por diversos desentendimentos entra a defesa do lobista e o promotor da República Frederico Paiva, responsável pela Zelotes. Por isso, a defesa de Marcondes o orientou a não responder aos questionamentos feitos pelo promotor.
Um dos momentos de discussão entre a defesa e o representante do MP foi provocado por uma pergunta sobre pagamentos feitos pelo lobista a empresas de Luís Cláudio Lula da Silva, filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo os investigadores da Zelotes, Marcondes repassou cerca de R$ 1,5 milhão à LFT Marketing Esportivo, que é administrada por Luís Claudio.
“Isso não é objeto da denúncia. Só ia politizar um processo que a gente não ganha nada com a politização dele. Na denúncia não consta, não está sendo investigado aqui, mas em outra investigação. No momento oportuno, a gente vai explicar. A politização do processo só me atrapalha, não me ajuda”, justificou Podval.