O governo já avalia que pode conseguir conquistar 190 votos para derrotar o impeachment na Câmara, apesar do rompimento anunciado pelo PMDB e de hoje ter no máximo 150 aliados. No Palácio do Planalto, o diagnóstico é de que, embora a situação seja muito difícil, a caneta da presidente Dilma Rousseff, "com tinta", começa a fazer efeito na atração dos aliados e o PMDB deu um "tiro no pé".
Leia Também
Dilma recebeu nesta quarta-feira (30) os seis ministros do PMDB e ficou surpresa com a disposição manifestada por eles de permanecer na equipe, um dia após a cúpula do partido decidir que todos os filiados devem entregar os cargos. Por ora, eles ficarão em seus postos, mas pode haver uma dança das cadeiras mais adiante.
Tudo está dependendo das negociações com aliados do chamado centrão, como PP, PR e PSD. Nos bastidores, auxiliares de Dilma diziam ontem que o vice-presidente Michel Temer brigou pelo divórcio, mas agora seus discípulos não querem "desencarnar". Até agora, apenas Henrique Eduardo Alves, que é do PMDB e ligado a Temer, pediu demissão do Turismo.
Antes da decisão dos ministros do PMDB, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já havia conversado com o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP. Na mesa estava a oferta do Ministério da Saúde, o maior orçamento da Esplanada, hoje com o PMDB. Em troca, o governo quer que o PP consiga o maior número de votos para barrar o impeachment no Congresso. O PP é hoje a terceira maior bancada da Câmara, com 49 deputados, e já comanda a Integração Nacional. Assumiria o papel de novo PMDB de Dilma.
Cobiçados
O Ministério de Minas e Energia, controlado pelo PMDB, já é cobiçado pelo PR, que detém Transportes. Na guerra para Dilma se manter no poder, o PT pode perder espaço. A presidência da Caixa Econômica e o Ministério da Educação, hoje com PT, são objeto do desejo de muitos partidos.
O ritmo do balcão de negócios foi acelerado. Na operação de construir um "blocão" com PP, PR, PSD e PRB e um "bloquinho" com os nanicos PTN, PHS, PROS, PT do B, PSL e PEN, cargos eram negociados em alto e bom som, numa "feira livre" no Salão Verde da Câmara.
Na contabilidade do Planalto, Dilma tem entre 130 e 150 votos contra o impeachment, número inferior aos 172 necessários. Mesmo computando mais traições, o governo acredita que, fechando acordo com PP e PR, atraindo dissidentes do PMDB e diminuindo resistências no PSD do ministro das Cidades, Gilberto Kassab, consegue derrubar o processo.
Impedido de despachar no Planalto após ter a nomeação como ministro suspensa pela Justiça, Lula faz uma reunião atrás da outra num hotel ao lado do Alvorada. O ex-presidente tem o mapa de cargos e está conversando com deputados, senadores e dirigentes de partidos aliados. A tarefa é compartilhada com os ministros Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e Jaques Wagner (Gabinete Pessoal). "Cada dia com sua agonia", costuma dizer Berzoini, quando questionado sobre o desfecho das negociações.