No dia seguinte à votação da Câmara que deu prosseguimento ao processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, jornais do mundo todo repercutiram os impactos para o governo e o comportamento dos parlamentares durante a sessão. O pedido de afastamento foi apoiado por 367 dos 513 deputados que compõem a casa. A corrupção e o perfil dos sucessores de Dilma foram alguns dos assuntos mais analisados pelas publicações internacionais.
Leia Também
O jornal inglês "The Guardian" foi o mais duro no resumo da votação, definindo como esmagadora a derrota sofrida pelo governo diante de uma Câmara "contaminada" pela corrupção. Na descrição do momento da votação, o texto diz que entre os berros dos deputados o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, era a figura mais impassível, e o classifica como "arquiteto" do atual cenário político.
O "The Guardian" afirma que o voto pelo impeachment foi a escolha da maioria de 150 deputados envolvidos em crimes. Sobre os membros do legislativo, o jornal destaca os discursos de Jair Bolsonaro e seu filho, Eduardo Bolsonaro, descritos como membros da extrema direita, que enalteceram a ditadura militar que teve início em 1964. Paulo Maluf também foi lembrado por ter o nome na lista da Interpol.
O americano "The New York Times" destacou o cenário de corrupção, crise econômica e sentimento de desilusão da população como as causas do desgaste do governo Dilma Rousseff. O jornal ainda avalia que é provável que o processo seja aprovado por dois terços do Senado, resultando no afastamento da presidente.
A aprovação do impeachment seria, segundo vários analistas ouvidos pela a publicação, um dano à "jovem democracia brasileira". O jornal detalha que os nomes da linha sucessória do governo brasileiro também correm risco de sofrerem o mesmo processo. O atual vice-presidente, Michel Temer, por envolvimento em um esquema de corrupção, e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, por possuir uma conta na Suíça com U$ 40 milhões fruto de propinas.
Já o espanhol "El País" se concentrou nos impactos econômicos da votação, destacando que, em um clima de instabilidade, a reação dos mercados pode ser um termômetro dos efeitos do afastamento futuro de Dilma.
O texto trouxe as palavras de otimismo da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) com o resultado da votação, já que a entidade esteve engajada nos atos contra o governo. O jornal não deixou de tratar do clima durante a sessão de votação, classificando-a em alguns momentos como "puro surrealismo".