Do ponto de vista político, Michel Temer (PMDB) precisará acertar a mão ao convocar o capital humano que formará o seu governo. Ele terá que achar o equilíbrio entre atender os interesses da sua base de apoio e passar uma mensagem à população de que não irá lotear os cargos do governo federal de maneira irresponsável, seja no ministério, seja nos demais escalões administrativos de sua gestão.
“São dois grandes desafios a enfrentar. Um, mais de natureza interna, diz respeito à distribuição de recursos entre aliados, alguns deles insaciáveis, em um ambiente de fragilidade institucional. Outro, de natureza externa, diz respeito à tentativa de superar a profunda desconfiança da opinião pública em relação à classe política”, aponta Juliano Domingues, doutor em Ciência Política e professor da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap).
A desconfiança da opinião pública foi retratada em uma pesquisa realizada em abril pelo Instituto de Pesquisa Maurício de Nassau (IPMN). O estudo indicou que 85,5% dos recifenses não confiam no peemedebista e que apenas 4,2% acreditam a situação do País irá melhorar com ele na presidência.
Coordenador da pesquisa, o cientista político Adriano Oliveira, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), lembra que a relação de Temer com a opinião pública é, de fato, delicada. “Ele assume o governo sem apoio popular e tem que fazer reformas estruturadoras que não têm a simpatia da população”, diz.
Sem conseguir criar um ministério de “notáveis”, como havia sinalizado, e pressionado pelas legendas do chamado Centrão – PP, PSD e PR –, Temer deverá restringir o espaço desses partidos o máximo que puder, se quiser manter o controle do governo. “Ele tem uma habilidade de negociar muito grande, pois foi presidente da Câmara por três vezes e deve usar sua experiência para blindar alguns ministérios e abrir espaço em pastas menores para os partidos da base”, diz o cientista político Márcio Coimbra, do Ibmec do Distrito Federal.
A Operação Lava Jato também estará no radar de Temer. Ele, inclusive, já foi citado em delações premiadas, mas até o momento não sofreu maiores danos por conta disso. “A Lava Jato não deve causar problema a ele, porque se tivesse algo mais grave, já teria aparecido. Mas Temer não pode manter pessoas no governo que têm seu nome envolvido na operação”, diz o sociólogo Rodrigo Prando, do Instituto Mackenzie.
Para Márcio Coimbra, Temer não pode menosprezar a Lava Jato e nem tentar interferir nas investigações. “Ele tem que deixar os investigados no Congresso e eles que tratem de se defender. Não deve chamá-los para o governo”, analisa.
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