Sob o sol inclemente de Brasília, um reduzido, mas combativo grupo de partidários da presidente Dilma Rousseff disse estar em "luta" até o último minuto contra a sua destituição, mesmo quando admitem que esta parece ser uma batalha perdida.
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Ao lado do estádio Mané Garrincha se reuniram 200 manifestantes, um reflexo da força perdida pelo Partido dos Trabalhadores (PT), de Dilma e Lula, um dos atores mais emblemáticos da esquerda latino-americana.
Nesse domingo (28) de calor, participaram de um "ato contra o golpe" que - afirmaram - foi orquestrado pela direita para terminar com os mais de 13 anos do PT no poder e instalar no lugar um governo "das elites".
Trazem bandeiras de movimentos sindicais, sociais e políticos e muitos têm estampado em suas camisetas o rosto de uma jovem guerrilheira Dilma Rousseff, que lutava contra a ditadura militar (1964-85).
"Todos amanhã com muita coragem para apoiar a Dilma!", convoca do palanque um dos oradores deste ato, que ocorre na véspera de a presidente afastada se apresentar no Congresso para apresentar sua defesa perante os senadores que a julgam.
"No podemos permitir que se desconheçam as eleições de 2014 quando Dilma foi eleita", afirmou à AFP Ricardo Machado, trabalhador e sindicalista bancário de 55 anos.
"Isto não significa que não tenhamos críticas ao PT ou a Dilma, mas o momento agora é de luta e de apoio", insistiu este homem que veste camiseta vermelha.
No estádio foi montado um acampamento para receber pelo menos 2.500 manifestantes, que começaram a chegar na noite deste domingo, um número muito pequeno em comparação com mobilizações anteriores.
Há bandeiras e cartazes que proclamam "Dilma é nossa presidenta" e "Fora Temer!", dirigidos ao presidente interino Michel Temer, que assumiu o poder em maio, quando Dilma foi suspensa do cargo.
As palavras que mais se repetem entre os apoiadores de Dilma são "golpe", "luta" e "resistência". É o que diz Carolina Modesto, simpatizante "de toda uma vida" do PT, que assistiu ao ato ao lado da mãe.
"Todo este processo foi de uma violência enorme contra a democracia e está muito bem arquitetado. Não se se a esta altura poderemos revertê-lo, mas eu vou apoiá-la até o final", promete Carolina, assistente social de 38 anos.
"Amanhã vai ser outro dia"
Na tarde de domingo, na Esplanada dos Ministérios, no coração de Brasília, outro pequeno grupo com 50 pessoas se manifestava a favor da presidente.
Foram convocadas para esta segunda manifestações em frente ao Congresso em apoio a Dilma Rousseff, que deve chegar ao Senado por volta das 08H30 para uma sessão histórica. O objetivo é acompanhar a votação final, que deve acontecer entre terça e quarta-feira.
Primeira mulher presidente do Brasil, Dilma Rousseff foi eleita em 2010 para suceder no cargo seu mentor político, Luiz Inácio Lula da Silva, que a acompanhará na segunda-feira no Congresso, junto com outros convidados.
Pouco após a reeleição de Dilma, protestos de rua maciços começaram a pedir sua saída enquanto ganhava força no Congresso um movimento para destituí-la. O processo teve início em dezembro e agora está na etapa final.
Muitos já se vêm na oposição e acreditam que as coisas só poderão se reverter por milagre.
Entre eles, Carolina Modesto, simpatizante "de toda a vida" do PT, que compareceu ao ato junto com a mãe.
"A luta continua e sempre podemos pensar que amanhá será outro dia", afirma, argumentando que a esquerda brasileira agora tem a chance de olhar para si mesma.