Os deputados investigados na Operação Lava Jato apoiaram em peso a cassação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) - que também é alvo da apuração da força-tarefa. Dos 26 integrantes da Câmara que estavam aptos a votar e que são alvos de inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF) ou já foram denunciados por se beneficiar do esquema do petrolão, 22 foram favoráveis à perda do mandato.
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O resultado contrariou especulações de que a "bancada da Lava Jato" poderia optar por salvar Cunha do afastamento definitivo, ante à possibilidade de que futuramente seja alvo de processos semelhantes. Até mesmo ex-integrantes da chamada "tropa de choque" do peemedebista se posicionaram contra ele.
A maioria dos votos pela cassação veio do PP, que tem o maior número de investigados na Lava Jato (18). Quinze deputados apoiaram a perda do mandato. Um - Arthur Lira (AL) - votou contra. Nelson Meurer (PR) se absteve e Luiz Fernando Faria (MG) não compareceu ao plenário, conforme os registros do painel eletrônico.
A maioria dos deputados do PP foi citada pelo doleiro Aberto Youssef em depoimentos de colaboração com o Ministério Público Federal (MPF) como beneficiária de mesadas que variavam de R$ 30 mil a R$ 300 mil.
Seria a "cota" do partido no esquema na Petrobras, que incluiria também doações milionárias para custear campanhas eleitorais. Eles também são investigados no inquérito do chamado "quadrilhão", que apura a participação de políticos numa organização criminosa formada para desviar recursos da estatal.
No PP, os votos pela perda do mandato de Cunha vieram de Afonso Hamm (RS), Jerônimo Goergen (RS), José Otávio Germano (RS), Luiz Carlos Heinze (RS), Renato Molling (RS), Dilceu Sperafico (PR), Roberto Balestra (GO), Sandes Júnior (PP), Lázaro Botelho (TO), Simão Sessim (PP-RJ), Aguinaldo Ribeiro (PB), Eduardo da Fonte (PE), Mário Negromonte Júnior (BA), Roberto Britto (BA) e Waldir Maranhão (MA). Este último, vice-presidente da Câmara, que substituiu Cunha após renunciar ao comando da Casa, foi um dos principais aliados do deputado fluminense em manobras para atrasar o processo de cassação.
A posição dos investigados na Lava Jato foi uma incógnita até a abertura dos votos, já que eles não discursaram ao longo da noite. Alguns só registraram presença bem depois de iniciada a sessão.
Alguns ex-aliados de Cunha, que no passado integraram a tropa de choque do agora ex-deputado, também disseram sim à cassação. É o caso de Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) e Manoel Júnior (PMDB-PB). A mesma posição teve Altineu Cortes (PMDB-RJ).
Os três, juntamente com Cunha, são alvos de inquérito que tramita no Supremo por, supostamente, apresentar requerimentos de convocação, solicitação de documentos e pedidos de auditoria em comissões da Câmara para pressionar o grupo empresarial Schahin a pagar prejuízos de um negócio ao corretor Lucio Funaro, aliado de Cunha. O líder do governo na Câmara, André Moura (PSC-SE), também investigado, se absteve. Ele é um dos principais apoiadores de Cunha.
Os demais votos pela cassação do peemedebista vieram de Missionário José Olímpio (DEM-SP), também citado por Youssef como beneficiário de propinas, e da bancada do PT: Vander Loubet (MS), acusado de participar de esquema envolvendo a BR Distribuidora; Marco Maia (RS), que faria parte de um grupo de parlamentares que cobrou doações de empreiteiras em troca de derrubar requerimentos na CPI mista da Petrobras; e José Mentor (SP), suspeito de receber ilegalmente R$ 380 mil de Youssef.
O deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE), alvo da Lava Jato, não estava apto a votar, pois está licenciado do cargo.