O presidente Mauricio Macri recebe nesta segunda-feira seu colega brasileiro Michel Temer com o objetivo de reimpulsionar a relação entre os dois maiores sócios do Mercosul, em sintonia quanto à economia e a abertura dos mercados.
A visita de Temer, a primeira depois do impeachment de Dilma Rousseff em agosto, gerou a convocação de manifestações por parte de grupos sociais e sindicatos de esquerda.
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"O pensamento do presidente Macri é muito parecido com o que temos. Acho que pensamos da mesma maneira. Isso vai facilitar muito as coisas", assinalou Temer, em uma entrevista em Brasília, ao jornal argentino La Nación, divulgada no domingo.
Desta maneira, se espera uma visita com foco nos temas comerciais acima das questões políticas para assim poder traçar um plano que fortaleça o Mercosul, as negociações externas do bloco, que busca um acordo de livre comércio com a União Europeia, e o desenvolvimento da região fronteiriça.
No entanto, a crise política na Venezuela poderá fazer parte dos pronunciamentos em Buenos Aires e Assunção, onde Temer passar algumas horas na tarde desta segunda, com o presidente Horacio Cartes
Macri, Cartes e Temer já se expressaram abertamente a favor de um referendo revogatório do governo de Nicolás Maduro este anos, como pede a oposição na Venezuela.
"Apoiamos que o referendo seja realizado este ano. É nossa proposta. Caso contrário, veremos que atitude tomar no futuro", assinalou Temer na mesma entrevista.
Temer esclareceu que a intenção não é tirar a Venezuela do Mercosul e sim obedecer às regras democráticas que o bloco possui, que denuncia prisões arbitrárias e abusos contra a oposição.
Reafirmando vínculos
Temer viaja acompanhado por seus ministros das Relações Exteriores, Desenvolvimento Industrial e Comércio Exterior, Defesa, Segurança Institucional e Justiça, e busca eliminar o quanto antes as barreiras comerciais entre os dois países.
"Haverá uma reafirmação de vínculos entre Brasil e Argentina", assinalou Temer.
O governo Macri foi o primeiro a reconhecer a nova administração brasileira após o impeachment da ex-presidente.
Os dois se reuniram no início de agosto, quando o presidente argentino viajou para a abertura dos Jogos Olímpicos no Rio.
Depois voltaram a se encontrar em setembro, na cúpula do G-20 na China, e na Assembleia Geral da ONU, em Nova York.
"Não creio que nesta visita inaugural se entre em detalhes operacionais, mas a reunião será a de duas figuras com um potencial de afinidade significativo", afirmou à AFP Celso Lafer, que foi chanceler em 2001-2002, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso.
A reunião confirmará uma mudança de rumos, tanto na relação bilateral, como no que diz respeito ao papel que deve ter o Mercosul, afastando-o da agenda "bolivariana" impulsionada pela
Venezuela, mergulhada numa grave crise econômica e política, acrescentou.
No Paraguai, país com que o Brasil compartilha a estratégica hidroelétrica de Itaipu, Temer se reunirá com o presidente Cartes, que foi um dos mais acirrados adversários externos de Maduro.
"A visita a nosso do presidente Temer reflete o excelente momento pelo qual passam as relações e as coincidências em assuntos regionais", afirmou, na semana passada, uma nota da chancelaria paraguaia.
O Brasil é o principal destino das exportações argentinas e a Argentina é o terceiro sócio comercial do Brasil, depois da China e Estados Unidos.
O comércio bilateral totalizou 23 bilhões de dólares em 2015 e 14 bilhões nos primeiros oito meses de 2016, segundo dados do Itamaraty.
Mas as estimativas da consultora argentina ABECEB afirmarem que 2016 terminará com um saldo deficitário para Buenos Aires de 4 bilhões de dólares.
"Talvez a melhor notícia é que o Brasil deixou de cair e começa lentamente sua recuperação", assinalou Dante Sica, diretor da ABECEB.
"Hoje não se discute se vai crescer no ano que vem, nem quanto, mas se o Brasil crescer 1% já é uma excelente notícia para o setor industrial em geral e para o automotivo em particular", destacou Sica.
O Brasil também é o principal destino das exportações paraguaias, com um comércio bilateral que chegou aos 3,3 bilhões de dólares em 2015 e 2,1 bilhões em janeiro a agosto deste ano, também segundo o Itamaraty.