Investigado no inquérito que apura os homicídios da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, ocorrido em abril, o vereador do Rio de Janeiro Marcello Siciliano (PHS) depôs nesta sexta-feira (14) por mais de cinco horas na Delegacia de Proteção ao meio Ambiente. Ele informou que entregou seu telefone celular à Polícia Civil.
Na manhã desta sexta-feira, o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) e a Polícia Civil cumpriram mandados de busca e apreensão na casa e no gabinete do vereador. Em seguida, Siciliano se apresentou na Cidade da Polícia. "Vim espontaneamente, desbloqueei meu telefone e entreguei", disse ao deixar o local. Questionado por um repórter se resistiu a entregar o aparelho, ele negou. "Eu mais do que ninguém quero a verdade". Procurados pela reportagem, o MPRJ e a Polícia Civil ainda não confirmaram a entrega do celular.
Siciliano chegou à Cidade da Polícia por volta de 10h40 e se dirigiu à sala da Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente (DPMA), para onde foram levados o material apreendido em sua casa e em seu gabinete. Seu depoimento se encerrou às 16h. Em recente entrevista ao jornal O Estado de São Paulo, o secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, general Richard Nunes, afirmou que Marielle foi assassinada porque interferiu em interesses de milicianos sobre loteamento de terras na periferia da capital fluminense. "Nunca participei de grilagem", declarou Siciliano.
Mais cedo, o vereador já havia divulgado um áudio criticando a busca e apreensão. “Continuo indignado com essa exposição toda da minha família. Depois de nove meses, eles não terem nada contra mim, inventarem agora uma operação pela Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente, para tentar me incriminar em alguma coisa, para achar um motivo para eu ter feito essa tamanha covardia”, disse.
Em outro trecho do áudio, ele disse não ser criminoso e reiterou não ter qualquer rivalidade com Marielle. “Os votos não batem, a disputa territorial não bate. Não tive voto onde me acusam".
As buscas em endereços vinculados à Siciliano ocorreu um dia após a Polícia Civil sair às ruas para cumprir uma série de mandados de prisão e de apreensão contra suspeitos de envolvimento na morte de Marielle e Anderson. A operação ocorreu na cidade do Rio de Janeiro, em Angra dos Reis (RJ), Nova Iguaçu (RJ), Petrópolis (EJ) e Juiz de Fora (MG).
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Crime
As mortes de Marielle e Anderson completam hoje (14) exatos nove meses. O carro onde eles estavam foi alvejado quando passava pelo bairro Estácio, no Rio de Janeiro. Os autores dos disparos estavam em outro veículo e fugiram.
No mês seguinte, o nome de Siciliano foi citado por um ex-miliciano que depôs na condição de testemunha. Além do vereador, o depoimento implicou o ex-policial militar Orlando de Araújo, conhecido como Orlando Curicica, que atualmente está preso em decorrência de condenação por outros crimes.
Segundo a testemunha, o homicídio estaria relacionado com a atuação de Marielle em áreas comandadas por milicianos vinculados à Orlando Curicica, na zona oeste do Rio de Janeiro. Na época, Siciliano já havia negado participação no crime. O ex-policial também refutou as acusações.
Após o depoimento prestado hoje, Siciliano voltou a dizer que as alegações dessa testemunha são falsas. "É um miliciano confesso, inimigo de outro, e que inventou uma história para tentar ter credibilidade e me colocou no meio. Tudo que ele falou até hoje é mentira e nunca foi provado nada".
O vereador disse ainda que as buscas realizadas hoje em sua casa são uma covardia e expõe sua família e seus filhos. "Fui surpreendido com isso que ocorreu hoje e vim aqui mais uma vez me colocar à disposição da Justiça, como fiz inicialmente quando fui acusado por uma pessoa sem credibilidade nenhuma. O processo se arrasta a sete meses desde que eu fui acusado. E hoje, aos 44 do segundo tempo, quando a intervenção federal está para acabar, eles fazem uma busca e apreensão na minha casa".