Decisões

Em silêncio sobre presidência da Câmara, Bolsonaro evita erro de antecessores

Em silêncio, Bolsonaro apoia Maia para não ter mesmo problema de Dilma e Temer

Anna Tenório e Cássio Oliveira
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Anna Tenório e Cássio Oliveira
Publicado em 15/01/2019 às 8:52
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Em silêncio, Bolsonaro apoia Maia para não ter mesmo problema de Dilma e Temer - FOTO: Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
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Apesar da bancada do PSL já ter formalizado apoio à candidatura de Rodrigo Maia (DEM), o presidente Jair Bolsonaro (PSL) segue em silêncio sobre o assunto, cumprindo o protocolo de não defender candidatos à presidência da Câmara Federal. Ainda que silencie, a vitória do representante democrata atende aos anseios da nova gestão federal, uma vez que, de acordo com o regimento, cabe ao presidente da Casa escolher as pautas que seguem para a votação. Segundo especialistas, a boa relação de Bolsonaro com Maia deve facilitar os trâmites com o legislativo e, por conseguinte, ampliar as chances do governo de emplacar privatizações e articular as reformas importantes – como a tributária e da previdência.

Além das atribuições do comando do País, já nos primeiros dias do mandato, Bolsonaro precisou enfrentar questões relacionadas a articulações políticas importantes. Recentemente, um imbróglio entre dois dos seus principais auxiliares, iniciado por conta de declarações desencontradas de aumento de impostos, pôs os holofotes em cima de um problema já previamente especulado: a disputa de protagonismo entre o Ministro da Economia Paulo Guedes e o Ministro da Casa Civil Onyx Lorenzoni (DEM). Neste episódio, coube ao próprio presidente correr para amenizar a situação, já que uma crise política pode afetar diretamente a pauta econômica.

Para resolver os desafios da recuperação econômica, sem cometer os mesmos erros que as gestões anteriores, o chefe do executivo vai precisar mais do que manter um bom diálogo com o parlamento. De acordo com a cientista política Priscila Lapa, a equipe econômica vai precisar acertar o tom com a ala política, ou corre o risco de não conseguir a aprovação dos seus projetos. “Não foi feito, isso ficou evidente com a ausência de debates, uma discussão mais profunda das propostas econômicas, e isso foi se refletindo na transição. E agora parece que existem pensamentos individuais, muitas vezes, sobre as mudanças que tinham que ser feitas, mas não se tem ainda um projeto desenhado.”

Negociações

No campo das negociações, o diálogo com o Congresso é crucial para a implantação de uma política econômica. Nesse sentido, ao olhar pelo retrovisor, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) verá erros de seus antecessores que não pode repetir.

Alçado ao posto de ministro da Fazenda para o desafio de arrumar as contas públicas no segundo mandato de Dilma Rousseff (PT), Joaquim Levy deixou o governo após uma sequência de derrotas em sua batalha para promover o chamado ajuste fiscal – plano de austeridade para reequilibrar as contas públicas. O próprio PT à época colocou que a posição do partido em torno das medidas para equilibrar a economia divergiam do governo. Joaquim Levy teve discurso que se encaixava com o que mercado financeiro queria ouvir. Mas as propostas não foram levadas adiante em função da dimensão política. Ainda mais porque a política de aumento de impostos não atenderia demandas de deputados e senadores da base aliada em véspera de ano eleitoral nos municípios.

Nome mais badalado do governo de Michel Temer (MDB), o ex-chefe da área econômica Henrique Meirelles também enfrentou dificuldades, principalmente após revelações da delação do empresário Joesley Batista, dono da JBS, que inverteram o rumo da economia brasileira. Depois da acusação de que Temer teria dado aval para comprar o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha, houve uma paralisia decisória no Congresso e inviabilizou a aprovação da reforma da Previdência. Isso também acentuou a deterioração das contas públicas, com efeitos em cadeia na economia: mais inflação, cortes menores nos juros e menos investimento e emprego. Na época, o próprio Temer chegou a afirmar que “o fantasma” da crise política voltava a ameaçar a estabilidade econômica.

Sobre as afirmações de Bolsonaro de que não vai existir toma lá, dá cá em seu governo na relação com o Congresso, o cientista político Elton Gomes avalia que o presidente vai sim fazer as negociações, mas elas irão acontecer no segundo e terceiro escalão.“Se você tira 22 cargos de ministro e mais cinco ou seis diretorias de cada ministério desse, ainda sobram mais de 34 mil cargos para lotear, ele tem expertise, está no jogo há 30 anos, mesmo sendo baixo clero. Ele sabe que não é de nicho que prega para convertidos vai distribuir os benefícios entre aliados no segundo e no terceiro escalão, pois ele entende que quando o escândalo ocorre no primeiro escalão, geralmente se responsabiliza o presidente, quando é no segundo e terceiro, se responsabiliza o ministro. Em política tudo tem duplo propósito, quando ele faz isso ele cria mecanismo de autodefesa e dá satisfação ao eleitorado dele que não fará velha política”, explicou.

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