Em Berlim, o ex-deputado federal pelo Psol Jean Wyllys afirmou nesta segunda-feira (18) que não tem onde morar na cidade e que está vivendo com a ajuda de amigos. Ele falou em entrevista coletiva sobre sua situação desde a saída do Brasil, no fim de janeiro. Jean disse que está na capital da Alemanha para procurar uma bolsa de doutorado em uma universidade do país europeu.
No dia 24 de janeiro, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o então deputado eleito relatou estar recebendo ameaças de morte e, por isso, desistiria do terceiro mandato na Câmara e sairia do país. O teor das mensagens recebidas por ele iam de ofensas a e-mails contendo projetos de bomba e endereços de Wyllys e parentes dele.
Após o autoexílio, o ex-deputado apareceu pela primeira vez na última sexta-feira (15), onde ganhou um selinho do cineasta Wagner Moura após a sessão do filme Marighella, no Festival de Berlim.
Hoje, na coletiva, Wyllys fez duras críticas à política de segurança defendida pelo atual governo. Para ele, este seria um primeiro passo para legitimar a violência contra minorias e uma futura repressão a opositores.
"A única coisa proposta claramente ao país foi um programa de segurança pública oferecido por Sergio Moro que quer legalizar o que a polícia brasileira já faz todos os dias, que é matar pessoas. A polícia brasileira já é campeã de assassinatos de pobres e pretos no Brasil. E os policiais saem impunes desses crimes", reclamou.
França
Jean contou que teve uma oferta de asilo político por parte do governo da França, mas que não pretende aceitar. “Há outras pessoas que precisam de asilo político. Para mim, permanecer aqui com um visto de estudante ou pesquisador é muito melhor”, afirmou.
"Estou em Berlim, não tenho moradia, conto com ajuda de amigos. Ainda não tenho um novo trabalho. Provavelmente vou me inscrever em um programa de doutorado, para fazer doutorado. Existem conversas com instituições que podem me receber como pesquisador, como professor visitante. Existem conversas com diferentes instituições mas ainda não há nada acertado", relatou.
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Críticas a Bolsonaro
Para Wyllys, a reação do presidente Jair Bolsonaro no dia do anúncio de que o ex-deputado sairia do Brasil foi uma confirmação de que não havia mais lugar para ele no Brasil. "Ele e seu filho, o "Zero Dois" [o senador Flávio Bolsonaro], comemoraram nas redes sociais. Esse é o nível do presidente do Brasil", destacou.
"Não basta ser um energúmeno, um incompetente, uma pessoa que esteve 30 anos no Parlamento e não produziu nada. Não basta ser um imbecil e incompetente que nada sabe sobre economia, políticas de saúde, educação, moradia e infraestrutura. Tem que ser esse debochado, esse moleque que trata a democracia dessa maneira. Ele só confirmou a minha decisão, só me deu razão de que, de fato, o Brasil não era mais o lugar para mim", disse.
Bolsonaro postou em seu perfil no Twitter a frase “grande dia” horas depois de Wyllys anunciar sua saída do Brasil.
Grande dia! ????
— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) 24 de janeiro de 2019
O ex-parlamentar também frisou a posição do vice-presidente Hamilton Mourão sobre o episódio. O general, na ocasião, disse que ameaças ao deputado eram crimes contra a democracia. "Chegamos a um ponto no Brasil em que consideramos o general Hamilton Mourão, com um histórico de extrema-direita, como moderado. A que ponto chegamos?", questionou. "Ele é um militar de extrema-direita, mas ainda consegue ser minimamente moderado, lúcido, diante do sujeito que é hoje presidente da república e que comemorou a saída de um deputado por conta de ameaças de morte", disse
Segundo Jean, “um presidente deve cuidar da população do seu país”. As atitudes de Bolsonaro seriam provas de que o presidente “continua agindo como se estivesse em campanha, tratando as outras 40 milhões de pessoas que votaram em outros candidatos como inimigos”.
Wyllys disse que pretende continuar sendo uma “voz ativa” na política brasileira. “Essa voz permanecerá falando, ainda que nesse momento eu me recolha um pouco mais porque estou emocionalmente ainda muito afetado com tudo o que aconteceu", destacou. "Isso não significa que vou deixar o front. É possível fazer política fora do Parlamento”, concluiu.