LAVA JATO

Moro se manifesta após site publicar correção em matéria sobre vazamento

O site The Intercept Brasil publicou duas correções neste sábado (29) a respeito de mensagens envolvendo o ministro da Justiça

JC Online
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Publicado em 29/06/2019 às 18:00
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
O site The Intercept Brasil publicou duas correções neste sábado (29) a respeito de mensagens envolvendo o ministro da Justiça - FOTO: Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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Atualizado às 21h44: O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, usou o Twitter para se manifestar sobre correções feitas em mais uma matéria publicada pelo The Intercept Brasil na madrugada deste sábado (29), envolvendo o ex-juiz federal. Nos novos trechos, conversas são atribuídas a procuradores da força-tarefa da Operação Lava Jato, que criticam duramente a atuação de Moro. Em nota enviada ao site OAntagonista, a procuradora Monique Checker, citada na reportagem, disse "não reconhecer os registros" divulgados pelo site. No início da noite, o Intercept publicou uma sequência de 15 tweets explicando como teria chegado à conclusão de que ela seria a autora das mensagens.

Ainda pela manhã, às 9h40 e às 10h40, foram publicadas duas notas no site para corrigir informações. A primeira, é sobre uma data. "Devido a um erro de digitação, marcamos uma conversa do grupo BD como se ele tivesse ocorrido em 1º de novembro de 2019, quando, na verdade, a data era 1º de novembro de 2018. Isso já foi corrigido", diz a correção. "A primeira versão desse texto indicava que a procuradora Monique Checker atua no Ministério Público Federal em Barueri e Osasco, São Paulo. Na verdade, ela trabalha no Ministério Público Federal de Petrópolis, RJ. Isso já foi corrigido", mostra a segunda.

Na rede social, Moro criticou as publicações feitas pelo The Intercept Brasil. "A matéria do site, se fosse verdadeira, não passaria de supostas fofocas de procuradores, a maioria de fora da Lava Jato. Houve trocas de nomes e datas pelo próprio site que as publicou, como demonstrado por OAntagonista", escreveu. E completou afirmando que "isso só reforça que as msgs não são autênticas e que são passíveis de adulteração. O que se tem é um balão vazio, cheio de nada. Até quando a honra e a privacidade de agentes da lei vão ser violadas com o propósito de anular condenações e impedir investigações contra corrupção?".

OAntagonista publicou que, antes da reportagem do Intercept ir ao ar, ainda de madrugada, Glenn Greenwald postou no Twitter uma amostra das mensagens que foram divulgadas, mas com trechos atribuídos ao procurador Ângelo Goulart Villela, que foi preso em 2017. O tweet foi apagado, e, quando o artigo foi publicado, o nome já havia sido substituído para o do procurador Ângelo Augusto Costa.

Na mais recente reportagem do The Intercept Brasil, dois procuradores do Ministério Público Federal (MPF) aparecem fazendo duras críticas ao então juiz Sergio Moro. Em conversa no dia 1º de novembro de 2018, pelo aplicativo Telegram, a procuradora Monique Cheker disse que Moro “viola sempre o sistema acusatório e é tolerado por seus resultados”. Em outro trecho, Antônio Carlos Welter, também procurador da operação, afirmou: “Cara, eu não confio no Moro”. Segundo o The Intercept Brasil, a troca de mensagens ocorreu uma hora antes de o ex-juiz anunciar ter aceito o convite de Jair Bolsonaro (PSL) para integrar o alto escalão do Executivo.

A procuradora Monique Checker enviou uma nota ao portal O Antagonista afirmando não reconhecer "os registros remetidos pelo The Intercept, com menção a minha pessoa, mas não posso assegurar que possui dados errados e alterações de conteúdos". No Twitter, retweetou a matéria publicada intitulada de "Monique não é Monique". Até a publicação desta matéria nenhuma outra correção havia sido feita pelo The Intercept Brasil.

O perfil do The Intercept Brasil no Twitter respondeu com uma sequência de quinze publicações em que reafirma que "Monique é a "Monique". O site detalhou como chegou à conclusão de que Checker seria a autora das mensagens. 

Leia a íntegra da nota enviada ao O Antagonista

"Sobre a parte em que o The Intercept diz que escrevi: ‘Desde que eu estava no Paraná, em 2008, ele (Sergio Moro) já atuava assim. Alguns colegas do MPF do PR diziam que gostavam da pro atividade dele, que inclusive aprendiam com isso’, esclareço que, conforme pode ser obtido publicamente dos meus assentos funcionais, durante praticamente todo o ano de 2008 eu trabalhei como procuradora de contas do Ministério Publico junto ao TCE do Rio de Janeiro, cargo que assumi em 2006. Nunca tinha ouvido falar do ex-juiz Sergio Moro, muito menos tive contato com alguém do MPF/PR. Tomei posse no MPF em dezembro de 2008, com lotação numa cidade do interior do Paraná. Da posse, seguiu-se logo o curso de ingresso e vitaliciamente em Brasília, e o recesso judicial, e só fui conhecer alguém do MPF/PR que já tinha trabalhado com o ex-juiz Sergio Moro, ou menção a esse nome, tempos depois.

Não reconheço os registros remetidos pelo The Intercept, com menção a minha pessoa, mas posso assegurar que possui dados errados e alterações de conteúdo, pelos motivos expostos acima."

Leia a íntegra dos tweets do The Intercept Brasil

"1/15 Em nota enviada a um site, e não ao @TheInterceptBr, a procuradora @MoniqueCheker diz que não reconhece como suas as mensagens publicadas na reportagem mais recente da #VazaJato. Para que não haja dúvidas, vamos mostrar como checamos seu nome. Segue:

2/15 Nesse caso (como em outros), buscamos em outras conversas do arquivo da #VazaJato as evidências sobre a identidade de uma pessoa. No caso de @MoniqueCheker, recorremos ao chat privado dela com @deltanmd. Em 9 de setembro do ano passado eles travaram o seguinte diálogo:

3/15 Deltan – 00:17:33 – Mo, como faço a citação do artigo? Preciso dos dados da obra em que estará inserido. Vc me passa ou indica nome se estiver já online?

4/15 Monique – 01:10:06 – Pela ABNT, faça a citação e coloque a informação “no prelo” após o nome do autor.

5/15 Monique – 01:11:50 – O nome da coletânea será “Desafios contemporâneos do Sistema Acusatório”

6/15 Uma simples busca pelo nome do livro citado a Deltan por Monique nos levou ao site da Amazon:

7/15 A pré-visualização da livraria online permite acessar o índice do livro. Nele, consta o nome de @MoniqueCheker (e de nenhuma outra Monique, apenas ela), confirmando o que ela disse a @deltanmd. Monique é Monique.

8/15 Mas isso não nos satisfez. Consultamos também a base de dados do portal de transparência do @MPF_PGR para checar quantas Moniques havia no período no quadro de membros ativos do MPF: https://www.transparencia.mpf.mp.br/conteudo/gestao-de-pessoas/quadro-de-membros/ativo/2018/quadro-de-membros_2018_Novembro.pdf

9/15 O link se refere aos membros ativos em novembro de 2018, quando houve a conversa. Uma simples busca nominal nele revela que existe apenas uma procuradora chamada Monique no grupo: @MoniqueCheker.

10/15 Mas e se a Monique que participa do grupo BD fosse uma procuradora aposentada? Para excluir essa possibilidade, consultamos também a base de membros inativos do @MPF_PGR em novembro de 2018: https://www.transparencia.mpf.mp.br/conteudo/gestao-de-pessoas/quadro-de-membros/inativo/2018/quadro-de-membros_2018_Novembro.pdf

11/15 Qual o resultado? Nenhuma procuradora aposentada nas datas se chamava Monique. Concluímos, assim, acima de dúvida razoável, como gostam de dizer os juízes, que a Monique que aparece no grupo BD é @MoniqueCheker.

12/15 Também encontramos em informações públicas o nome de um parente muito próximo de Monique, citado por ela nos chats privados. Não diremos de quem se trata para não expor uma pessoa que não é pública, mas isso foi útil para a confirmação da identidade da procuradora.

13/15 Mas e os diálogos? Ah, sim: jamais editamos o CONTEÚDO das mensagens, que são publicadas inclusive com eventuais erros de digitação cometidos pelos participantes das conversas.

14/15 Os nomes dos destinatários aparecem no arquivo como estão originalmente nos chats e, muitas vezes, estão sem sobrenome. Por isso, eventualmente é necessário investigar o sobrenome correto e acrescentá-lo – como no caso de @MoniqueCheker, que aparece apenas como "Monique".

15/15 Quando erramos, assumimos o erro. Dissemos inicialmente que @MoniqueCheker trabalha atualmente em São Paulo, mas erramos: ela trabalha no Rio de Janeiro. A correção deste erro (uma informação que não está nos chats e não é crucial para a reportagem) está indicada no texto.

Deltan Dallagnol

O procurador da República e coordenador da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, também se pronunciou sobre o caso no Twitter. "As mensagens que circulam como sendo de integrantes da Força-Tarefa da Lava Jato já acumulam diversas evidências de adulteração, além de serem produto de um crime cibernético. Os procuradores da FT e outros que seriam os autores das mensagens não as reconhecem como autênticas", disse na rede social.

Entenda o caso

The Intercept iniciou este mês uma série de publicações com base em vazamentos do Telegram que comprovariam a parcialidade do então juiz Moro em relação ao julgamento do ex-presidente Lula. Um julgamento de suspeição do hoje ministro deve ocorrer em agosto, no Supremo Tribunal Federal.

09/06 – As primeiras publicações da série de reportagens pelo The Intercept mostram que Dallagnol tinha dúvidas pessoais quanto ao conteúdo da denúncia contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso tríplex. Também acusam uma suposta atuação irregular entre Moro e Deltan.

14/06 – O The Intercept divulga novos trechos de conversa em que Moro, em 2017, teria sugerido pelo Telegram ao ex-procurador da República Carlos Fernando Santos Lima enviar uma nota oficial à imprensa para rebater o depoimento do ex-presidente Lula no caso triplex, pelo qual foi preso e condenado.

18/06 - O site mostra suposto diálogo que teria ocorrido entre Moro e o Dallagnol, que implica que o ex-juiz teria repreendido a investigação da Lava Jato contra o ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso, em 2017, porque não queria “melindrar alguém cujo apoio é importante”.

23/06 - O jornal Folha de S.Paulo, em parceria com o site The Intercept Brasil, publica mensagens que sugerem que, em 2016, membros da força-tarefa do Ministério Público Federal se articularam para proteger Moro e evitar tensões com o Supremo Tribunal Federal (STF).

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