STF

Marco Aurélio vê 'ambiente conflituoso' que gera insegurança em cenário político

Ministro do STF disse que não poderia se pronunciar sobre as últimas declarações de Bolsonaro

Estadão Conteúdo
Cadastrado por
Estadão Conteúdo
Publicado em 30/07/2019 às 19:43
Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil
Ministro do STF disse que não poderia se pronunciar sobre as últimas declarações de Bolsonaro - FOTO: Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil
Leitura:

O ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou nesta terça-feira, 30, à reportagem, que vê um "ambiente conflituoso" que "gera insegurança" na atual conjuntura política do País. O tribunal retoma suas atividades na próxima quinta-feira, 1º, quando vai decidir se confirma ou não a liminar do ministro Luís Roberto Barroso, que suspendeu trecho de uma nova medida provisória que transferia a demarcação de terras indígenas para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Marco Aurélio disse à reportagem que não poderia se pronunciar sobre as últimas declarações do presidente Jair Bolsonaro, que afirmou nesta terça-feira que não existem documentos que possam comprovar como se deu a morte do pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, durante a ditadura militar. Bolsonaro ainda questionou a veracidade dos documentos produzidos pela Comissão Nacional da Verdade, criada pela ex-presidente Dilma Rousseff.

Felipe é filho de Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira, integrante do grupo Ação Popular (AP), organização contrária ao regime militar. Ele foi preso pelo governo em 1974 e nunca mais foi visto. Em 2012, no livro "Memórias de uma guerra suja", o ex-delegado do Dops Cláudio Guerra revelou que o corpo de Fernando foi incinerado no forno de uma usina de açúcar em Campos.

"Eu sou amplamente a favor da liberdade de expressão e não sugeri colocar mordaça em quem quer seja, muito menos no presidente da República. Você não pode, a priori, antecipadamente proibir alguém de veicular ideias. De início, não pode proibir. Jamais preconizei censura. Sou a favor da liberdade de expressão, de manifestação. Quem precisa de mordaça sou eu", disse Marco Aurélio Mello à reportagem, enquanto cuidava de processos em sua casa, em Brasília.

"Estaria sendo leviano se me pronunciasse (sobre a fala do presidente) porque não vi o que ele disse exatamente em que contexto. Agora, tudo que vem de cima tem uma repercussão muito grande - e a fala é do presidente da República. Se fosse de alguém da esquina, um cidadão comum, não teria importância. O que o presidente da República diz repercute muito", completou o ministro.

Ao comentar o cenário político nacional em linhas gerais, o ministro disse ver um "ambiente conflituoso" que "preocupa a todos". "Tempos estranhos, onde vamos parar? Onde?", questionou. "É um ambiente conflituoso, preocupa a todos e gera insegurança. Parece que a crise é indispensável."

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) informou na segunda-feira, 29, que vai acionar o STF para pedir que Bolsonaro diga o que sabe sobre o desaparecimento do seu pai. Para Marco Aurélio, trata-se de um "procedimento normal" em que o destinatário confirma ou não o que disse. "É o que a organicidade do direito dita", comentou.

Evangélico

Sobre as intenções do presidente da República de indicar um nome "terrivelmente evangélico" para o STF, o ministro afirmou esperar que Bolsonaro faça uma boa escolha. "Que escolha um bom nome, de conhecimento jurídico e que preze o vernáculo", afirmou

O presidente Jair Bolsonaro poderá indicar dois nomes para o Supremo neste mandato. A primeira vaga a ser aberta será a do ministro Celso de Mello, que se aposenta compulsoriamente em novembro de 2020, quando completa 75 anos. Marco Aurélio, por sua vez, deixará a Corte em julho de 2021, quando também chegará à idade de aposentadoria compulsória.

O advogado-geral da União, André Mendonça, é um dos nomes mais cotados para a vaga de ministro "terrivelmente evangélico".

Últimas notícias