O presidente Jair Bolsonaro negou nesta quinta-feira (22) que suas políticas causem os incêndios que estão se espalhando no Brasil e acusou a imprensa de prejudicar os interesses do país, ao apresentá-lo como um "Capitão Nero" da Amazônia.
"Não estou defendendo as queimadas, porque sempre houve e sempre haverá, infelizmente acontece isso ao longo da vida da Amazônia", declarou Bolsonaro aos jornalistas ao deixar sua residência oficial em Brasília.
Leia Também
- Após repercussão negativa, Bolsonaro insiste em culpar ONGs por queimadas
- Ibama vai contratar empresa que monitore desmatamento na Amazônia
- Senadores da Rede vão ao STF pedir impeachment do ministro Ricardo Salles
- Salles admite em debate com ex-Inpe que desmatamento cresce desde 2012
- Ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles é vaiado no Senado
"Agora, me acusar como capitão Nero tocando fogo lá é uma irresponsabilidade, é fazer campanha contra o Brasil", acrescentou o presidente, referindo-se ao imperador Nero a quem algumas tradições atribuem o grande incêndio de Roma no século no I.
"Se o mundo lá fora começar a impor barreiras comerciais, cai nosso agronegócio (...), a economia começa piorar, a vida de vocês, editores de jornais, donos de televisões, vai ficar complicada como a vida de todos os brasileiros, todos sem exceção, é um suicídio o que vocês estão fazendo. A imprensa está cometendo um suicídio", enfatizou calmamente.
Bolsonaro, que nega a mudança climática e defende que as reservas indígenas e as zonas protegidas da floreta sejam abertas a atividades agropecuárias e à mineração, voltou a criticar a "psicose ambiental" que obstruiria o desenvolvimento do país.
"Essa psicose ambiental não deixa fazer nada. Eu não quero acabar com o meio ambiente. Eu quero é salvar o Brasil", afirmou ainda, defendendo a mudança de orientações em relação às últimas décadas.
"Se era para fazer a mesma coisa que fizeram até agora, o povo tinha que ter votado em outras pessoas, o povo está com a gente, minha base é o povo", enfatizou.
Acusações contra ONGs
Na véspera, Bolsonaro levantou suspeitas de que as Organizações Não-Governamentais (ONGs) que recebem ajuda externa poderiam ter causado incêndios voluntariamente.
Nesta quinta, ficou indignado com publicações que teriam dito que eram acusações formais.
"Nunca acusei as ONGs", afirmou, para depois esclarecer: "Eu disse que suspeitava das ONGs".
Entre janeiro e 21 de agosto, 75.336 focos de fogo foram registrados no Brasil, 84% a mais que no mesmo período de 2018, segundo dados do Programa de Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Esse número mostra um aumento de 2.493 focos em comparação com a segunda-feira passada.
Segundo especialistas, esses focos se intensificaram dentro de um quadro de rápido avanço do desmatamento na região amazônica, que em julho quadruplicou em relação ao mesmo mês de 2018, segundo dados do Inpe.
Essas controvérsias ocorrem enquanto, em Salvador, é realizado um evento preparatório para a cúpula da ONU sobre mudança climática, que acontecerá em 23 de setembro, em Nova York, e a conferência climática da COP25, em Santiago, no Chile, em dezembro.