ENTREVISTA

Jungmann rebate Moro e coloca Estados como responsáveis por queda de mortes

O pernambucano defendeu realizações de sua gestão, mas disse que muita coisa precisa mudar na sociedade para que o combate ao crime seja efetivo

Da editoria de Política
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Publicado em 13/01/2020 às 11:59
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
O pernambucano defendeu realizações de sua gestão, mas disse que muita coisa precisa mudar na sociedade para que o combate ao crime seja efetivo - FOTO: Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil
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Após uma tensão, via redes sociais, com o ministro da Justiça, Sérgio Moro, o ex-ministro da Segurança Pública Raul Jungmann concedeu entrevista à Exame, na qual defende que medidas de sua gestão foram importantes para a queda nos indicadores de criminalidade. "Lançamos os fundamentos da política. Sem eles, não existiria uma política nacional. Não pode se condenar o que foi feito no passado. A causa das mensagens foi que o ministro Sérgio Moro disse que, se não fosse o atual governo o responsável pela queda, tinha sido o Mago Merlin. Diversos internautas começaram a me citar e eu decidi fazer a retrospectiva, disse Jungmann.

Na última semana, Sérgio Moro comemorou a redução no número de crimes em 2019. Mas, ironizou os críticos que afirmam que o atual governo não é o principal responsável pela queda dos índices. “Se quiserem atribuir a queda ao Mago Merlin, não tem problema”, escreveu ele.

Na entrevista, Jungmann também destaca que os Estados são os grandes responsáveis pela queda do número de mortos, mas admite que o governo federal também tem participação, mas "de coadjuvante", segundo ele. "Os estados são responsáveis pelo combate ao crime e tem mais de um milhão de homens e mulheres em suas forças. O governo federal só tem 22.000 espalhados pela Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal, que não têm como papel combater homicídios. Além disso, os Estados são responsáveis por 85% dos recursos da segurança. O governo federal contribui com menos de 10%", afirmou o ex-ministro.

FACÇÕES CRIMINOSAS

Outro tema abordado foi a atuação das facções criminosas no País. Ainda como ministro do governo de Michel Temer (MDB), em 2018, Jungmann chegou a afirmar que o Brasil havia perdido o controle dos presídios e que as facções que garantem a vida dos presos. Agora, o ex-ministro diz que a atual política de repressão total, "sem nenhum foco em ressocialização", está piorando a situação. “As pessoas não querem saber o que vai acontecer com os jovens depois de presos. O jovem, se cair lá dentro, precisará se filiar a essas facções para sobreviver. A sociedade, então, funciona como gerentes de recursos humanos dos soldados do crime organizado”, disse Jungmann à Exame.

As facções estão na mira de Jungmann desde o antigo governo. Quando ministro ele afirmou que não há outra fórmula para reduzir o poder das facções que não seja o Estado garantindo a vida do preso em custódia. "Assim podemos tirá-lo das mãos das facções. Claro, ele vai continuar a pagar pelo que fez, mas, se deixar ele absolutamente indefeso em relação à sua vida lá dentro, a pergunta que faço à sociedade é: isso está valendo a pena?", questionou o ministro ainda em 2018.

SÉRGIO MORO

O pernambucano também avaliou a gestão de Moro e lembrou que o atual ministro enfrentou um contingenciamento de recursos "muito severo". De acordo com Jungmann, o fundo nacional de segurança tinha 1,7 bilhão de reais, mas 1,3 bilhão foi contingenciado. "Isso reduz muito a capacidade de ofertar resultados. A outra coisa é que pegaram os recursos remanescentes e usaram para custear a Força Nacional, que sempre foi de responsabilidade do Tesouro", disse. Ainda assim, ele apontou que importantes realizações como colocar a liderança do PCC em um presídio de segurança máxima e o aumento da apreensão de drogas. "Dentro de suas limitações, o ministro tem procurado manter as políticas", afirmou.

Como forma de diminuir a superlotação dos presídios, Raul colocou que é necessário ampliar o sistema semi-aberto. "Hoje, prendemos muito e prendemos mal. E a sociedade paga duplamente: tem que pagar para mantê-los lá dentro e para saírem recriminalizados, não ressocializados. E essa superlotação só facilita o controle das facções. Mas quem discute isso? Ninguém. Se discutir falam que está passando mão na cabeça de bandido, fala que está ficando ao lado dos criminosos. Sem debate não há política", afirmou.

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