A presidente Dilma Rousseff realizou seu primeiro ato oficial de campanha ontem, em bate-papo com internautas em página de uma rede social dedicada ao seu projeto reeleitoral. Ela escolheu como tema o programa Mais Médicos, criticado dois dias atrás por seu principal adversário na corrida ao Planalto, o tucano Aécio Neves, e bandeira de campanha do nome do PT ao governo paulista, o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha. Dilma aproveitou para dar estocadas no governador Geraldo Alckmin, adversário de Padilha e aliado de Aécio.
A primeira investida de cunho estritamente eleitoral de Dilma desde o início oficial da disputa ocorre um dia após a divulgação de pesquisa Datafolha que aponta empate técnico entre ela e Aécio na simulação de 2.º turno.
A campanha começou oficialmente em 6 de julho. Naquela data, Dilma divulgou vídeo previamente gravado no qual previa uma eleição “politizada”. E desde então vinha se dedicando à agenda institucional do cargo, como entregar a taça na final da Copa do Mundo e participar de reuniões dos Brics em Fortaleza.
“As críticas ao programa feitas pelo senador (Aécio) não significam uma sugestão para a melhoria do programa. Na verdade, essas críticas demonstram simplesmente que o senador é contra o Mais Médicos, aliás como foi a posição do seu partido ao longo de todo o processo de aprovação”, disse Dilma via Facebook.
Na quarta-feira, Aécio disse que, se for eleito, não se submeterá às regras impostas por Cuba para a participação do país no programa. Dos 14 mil profissionais que atuam sobretudo em cidades do interior do País, 11 mil são cubanos. Eles não recebem diretamente do governo federal.
O Brasil paga R$ 10,4 mil por profissional à Organização Pan-americana de Saúde (Opas), que transfere o dinheiro ao governo de Cuba - e este, por sua vez, paga os médicos. Os cubanos recebem por mês US$ 1.245, o equivalente a R$ 3 mil. A disparidade foi usada como argumento para que alguns médicos cubanos deixassem o programa de Dilma.
Ontem, a presidente foi questionada por um internauta sobre por que o Brasil “paga apenas 3.000,00” para cada médico cubano. “Eles (médicos cubanos) são funcionários do governo cubano, mantêm seus salários e benefícios em Cuba e recebem este valor pago pelo governo brasileiro como uma ajuda de custo adicional”, respondeu. Os gastos com moradia, alimentação e transporte para o posto de saúde, observou Dilma, são de responsabilidade das prefeituras.
“Não há evasão significativa de médicos do programa. Apenas 1,2% dos médicos desistiram por razões diversas. Dos 174 que saíram, 144 eram brasileiros. Ou seja, a grande maioria, 82%. Portanto, há uma grande desinformação”, escreveu.
Dilma cutucou os tucanos em outro momento, ao ressaltar que São Paulo, “o Estado mais rico do País, foi também aquele que mais demandou médicos”. “Na periferia das regiões metropolitanas, como a de São Paulo, a de Campinas, a das grandes cidades do interior, por exemplo Ribeirão Preto, Bauru, havia uma profunda carência de médicos. Por isso, ao resolver um problema dessa gravidade num tempo tão curto, consideramos que o programa deu certo”, disse.
A presidente até postou mapas que ilustravam a distribuição de médicos - que não são do programa - pelo território brasileiro, considerada “distorcida e injusta” por Dilma. “Veja você que todos os médicos preferiam o litoral e as regiões ricas das cidades”, disse Dilma.
À noite, Aécio também foi ao Facebook. “É uma pena que o resultado das pesquisas eleitorais afete tanto o equilíbrio da candidata que hoje tem a responsabilidade de dirigir o País”, escreveu.
A conversa de Dilma com internautas ocorreu na página da petista administrada pelo partido. Até então, ela tinha realizado bate-papos (chamados de “Face to Face”) na página institucional do Planalto no Facebook.
A presidente decidiu montar o fórum virtual no site da campanha porque o governo considerou “arriscado” usar o site oficial do Palácio do Planalto.
ESCOLHA- No dia 7 deste mês, já havia ocorrido um curto-circuito sobre que site usar para fazer o “Face to Face” sobre a Copa do Mundo. Naquela ocasião, decidiu-se usar a página do Planalto por se considerar que o assunto era específico de governo. De acordo com assessores da presidente, o fato de ser um site de campanha também ampliou a repercussão das discussões sobre o Mais Médicos.
No site do PT, as postagens foram mais agressivas e sem a mediação por palavra que há na página do Planalto. O bate-papo de ontem registrou cerca de 6 mil perguntas, mais que os “Face to Face” anteriores, que tiveram menos de mil.