JORNAL DO COMMERCIO - Como é o trabalho que o senhor desenvolve com políticos?
ODILON WAGNER - Uma construção. Busco conhecer os detalhes da personalidade de cada um deles e ajudá-los a explorar suas qualidades, melhorando a forma de se comunicar. Eles não podem querer ser alguém que eles não são, porque em algum momento o público vai perceber falhas. Existem fatores internos que se trabalhados em consonância com a personalidade de cada um, ajudam muito a se comunicar. Tive um caso no passado de um político que tinha a língua presa e que machucava muito ele, o fazia se sentir ridículo. Era tão difícil que ao falar em público ele gaguejava, parecia um bôbo. E na verdade era um homem super inteligente. Mas ele achava que estava sendo julgado. Quando você desconstrói e diz que ele pode tirar proveito daquela situação, até criando um personagem que todos nós temos no nosso íntimo, tudo muda. É um pouco de técnica e um pouco de psicologia.
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JC - Certamente, o senhor não atende somente a políticos. Qual o tipo de pessoa que precisa de treinamento como este?
ODILON - É bem dividido o perfil das pessoas que atendo. São empresários, presidentes de grandes empresas, de bancos, pessoas que precisam lidar diariamente com a imprensa. O media training existe para que o fluxo de comunicação siga seu curso. Muitas vezes para facilitar a comunicação interna de uma empresa também. Jornalistas, publicitários e até atores eu já treinei. Quando vou trabalhar com um político em época de campanha, procuro entender também um pouco o perfil daquela cidade, de seus moradores, que tipo de imagem ele está trabalhando. Em geral, meu primeiro contato é com o marqueteiro político ou com assessores que percebem que aquela figura pública precisa dos meus serviços. Trabalho muito no Nordeste, Sul e Centro-Oeste.
JC - As maiores dificuldades são falar em comício ou nos programas eleitorais?
ODILON - Os programas são sempre mais temidos, mesmo que seja um ambiente teoricamente seguro, já que se o cara errar, tranquilamente é possível recomeçar. Mas existe uma influência muito grande desses programas no eleitorado. A câmera provoca um certo bloqueio, intimida. Nós oferecemos um suporte para que isso seja superado e ainda pareça natural. Trata-se de uma preparação tão importante que consta na grade curricular da maioria dos cursos nas universidades dos Estados Unidos. E veja que ainda assim o americano é muito travado.
JC - Sua formação teatral foi que possibilitou sua entrada nesse ramo?
ODILON - Sim, especialmente. Mas ao longo do tempo desenvolvi uma técnica que associa interpretação, música, fonoaudiologia. Quem me procura está buscando se comunicar melhor e podemos usar todas as ferramentas para que isso ocorra. Costumo dizer que se a comunicação fosse uma tarefa simples não teríamos guerras. Quem se comunica bem conquista muito mais, não tenho a menor dúvida disso. Tem aqueles que nascem com o dom, esses são copiados porque nada no mundo se cria: tudo se copia.