PERFIL

Da portaria à presidência do TRE-PE, uma história de sucesso

Novo presidente do TRE, desembargador Antônio Carlos teve seu primeiro contato com a Justiça quando virou auxiliar de portaria do Fórum, na década de 1960

Carolina Albuquerque
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Carolina Albuquerque
Publicado em 01/08/2015 às 16:00
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Novo presidente do TRE, desembargador Antônio Carlos teve seu primeiro contato com a Justiça quando virou auxiliar de portaria do Fórum, na década de 1960 - FOTO: Ricardo Labastier/JC Imagem
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Quarenta e sete anos separam a imponência do gabinete de presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) da simplicidade de cumprir a função de auxiliar de portaria do Fórum de Justiça. Um longo caminho que divide o ápice de uma carreira da primeira porta de entrada. Recém empossado na cadeira de presidente do TRE, o desembargador Antônio Carlos Alves da Silva, 66 anos, olha com generosidade e orgulho para aquele jovem de 19 anos, que soube aproveitar a oportunidade e teve seu primeiro contato com a suntuosidade que envolve o Poder Judiciário.



Eleito no dia 7 de julho de 2015 para a presidência da Justiça Eleitoral em Pernambuco, Antônio Carlos costuma dizer que “está” na função. Posto que o cargo, cobiçado por qualquer magistrado, é passageiro. A simplicidade do pensamento é só a consequência de uma trajetória humilde que demandou dele, a todo momento, coragem, atitude e confiança.
 
Nascido numa família pouco abastada e sem “sobrenome”, Antônio Carlos teve que começar a trabalhar cedo, aos 11 anos, para ajudar a mãe, dona Therezinha de Jesus Alves da Silva. Ela, que trabalhava em dois turnos, e ainda cuidava da família. Cabia a Antônio Carlos, o mais velho de seis irmãos, cumprir esse papel.

Ainda na adolescência trabalhou em muitos lugares. Varreu chão, atuou em estoque de loja, foi office boy. Antônio Carlos nasceu no Recife e viveu no bairro do Espinheiro, na rua Venezuela. Na rua vizinha, calhou de encontrar um “mentor” e o homem que primeiro lhe emprestou um paletó. Ao advogado e ex-vereador do Recife José Oliveira da Silva Guimarães, já falecido, guarda um sentimento de gratidão.


“Foi ele quem me deu praticamente todas as oportunidades que tive. O pai que tive por adoção. Que me criou, me dava as coisas quando precisava”, contou o presidente do TRE. “A nossa amizade começou aí, morávamos próximos. O meu pai sempre foi uma pessoa presente para ele, visualizou nele alguém que merecia, como se filho fora. Deu todo apoio e orientação. E consequentemente a minha relação com ele é como se irmão fosse”, contou o desembargador André Guimarães, filho de José Guimarães.

Em 1968, passou num concurso para auxiliar de porteiro do Fórum de Justiça. Depois, virou oficial de gabinete da secretaria da Cava Civil do Governo do Estado. Sem tempo para fazer o ensino médio regular, recorreu a um supletivo e, em seguida, conseguiu passar no vestibular para o curso de Relações Públicas. Anos depois, já formado, Antônio Carlos foi indicado para ficar na vaga de secretário de Administração do Fórum.

“Minha preocupação era ajudar minha mãe. Aí me disseram que para eu virar diretor no Tribunal tinha que fazer Direito. Fiz, mas minha intenção era ficar como administrador”, lembrou. 

Desse tempo, ele lembra quando ajudou um ascensor do prédio. “Carlos Fernando Medeiros Salgado, que hoje é médico urologista, pediu um dia para ser exonerado pois a sua aula era no mesmo horário do trabalho. Eu não deixei e prometi que quando ele fosse para a aula, eu ia para o elevador. E fiz isso”, contou. 

Mas o destino reservou outro caminho para Antônio Carlos. Formado em Direito em 1985, ele foi aconselhado a prestar concurso para juiz, obtendo êxito em 1989. “Minha mãe faleceu muito jovem, aos 55 anos. E não pode me ver juiz”, lamentou. O prazer da magistratura só veio com o ofício de fato. A primeira comarca foi em Parnamirim.

“Eu cheguei lá de madrugada. Abri a casa e tinha goteira em tudo que era lugar. Aí peguei a rede, botei dentro do quarto. No outro dia, botei minha sandália havaiana, bermuda, camisa e fui comer na pensão de dona Jana. O pessoal da cidade comentou que tinha chegado um juiz muito moderno que circulava de bermuda”, rememorou. Em 2008, ele virou desembargador pelo critério do merecimento. 

Entre os colegas e amigos, as características que mais se destacam em Antônio Carlos são a simplicidade, o gosto pela brincadeira e o temperamento fácil. “Tirei um ensinamento de tudo isso. Que é preciso ter coragem e lutar, então conseguimos o que queremos. E que tudo isso tem que ser feito com simplicidade, humanidade e bom senso, tendo tudo isso não há como ser uma má pessoa”, reflete. Antônio Carlos é casado com Zilma Maria Lustosa da Silva, com quem tem dois filhos Ricardo Antônio Lustosa da Silva e Tatiana Lustosa da Silva e quatro netos.

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