Quando Eduardo Campos disputou a Prefeitura do Recife em 1992, com o aval de Miguel Arraes, e ficou na penúltima colocação com 25.605 votos - bem atrás dos 270.330 votos recebidos pelo prefeito eleito Jarbas Vasconcelos (PMDB) -, pouca gente poderia imaginar no que ele se transformaria duas décadas depois. Um ano após a sua morte em um acidente aéreo, Eduardo é considerado uma das maiores referências políticas que o Estado produziu. A afirmação é feita por aliados e analistas e até reconhecida por quem esteve em lado contrário ao do ex-governador.
“A carreira de Eduardo foi forjada desde que ele começou a atuar com o avô Miguel Arraes, isso ainda nos anos 1980. Com o episódio dos precatórios, o PSB, Arraes e Eduardo ficaram em um período no limbo. O momento de inflexão se deu quando ele assumiu o Ministério de Ciência e Tecnologia no governo Lula (PT). Isso possibilitou que fosse candidato em 2006 e vencesse a eleição dentro de uma faixa própria. Era obstinado, vivia a política 24 horas por dia e conseguiu vencer todas as forças que eram competitivas em Pernambuco”, destaca o cientista político Túlio Velho Barreto.
Para o cientista político Juliano Domingues, Eduardo elegeu a eficiência administrativa como uma de suas principais bandeiras. “A principal marca é a ênfase à gestão pública. Uma gestão baseada em metas, prazos e monitoramentos para se atingir determinados resultados”, pontua, destacando a aposta do ex-governador em candidatos de perfil técnico, como o governador Paulo Câmara e o prefeito do Recife, Geraldo Julio, ambos do PSB.
Os socialistas exaltam o legado do padrinho político. “Ele era uma pessoa capaz e realizadora. Procuro honrar essa responsabilidade. Sem Eduardo, a gente aumenta o esforço. Tudo tem que ser redobrado”, fala o prefeito. O governador também tenta seguir os passos do ex-chefe. “Eduardo criou uma cultura do planejamento, de entregar bem feito. Ele dizia que era preciso se dedicar de corpo e alma ao serviço. Faço o que ele fazia, não porque quero imitá-lo, mas porque é o certo. As pessoas querem que eu cuide de Pernambuco como Eduardo cuidava”, declara Paulo.
Muitos dos atuais secretários estaduais atuaram sob a chefia de Eduardo em funções distintas e alegam que continuam a trabalhar inspirados no ex-governador. “Pernambuco não é um modelo para muitos Estados do País à toa. Isso tem a ver com o grande papel de Eduardo como gestor”, afirma o secretário de Educação, Fred Amâncio. Na pasta de Desenvolvimento Econômico, Thiago Norões reforça as credenciais do ex-governador. “Ele concentrava as qualidades de líder, gestor e político”, elogia.
Titular da secretaria de Planejamento e Gestão, Danilo Cabral se espelha no ex-chefe. “Ele tinha grande capacidade de liderar as pessoas”, destaca. O secretário da Fazenda, Márcio Stefanni, segue a louvação. “Ele resgatou o orgulho de ser pernambucano”, diz.
É difícil encontrar quem, publicamente, fale mal de Eduardo Campos. O senador Humberto Costa (PT), que já foi aliado e depois virou opositor, trocou farpas com o ex-governador, mas hoje ressalta os feitos da gestão eduardista. “Exerceu um papel político e administrativo muito importante. Ele realmente revolucionou a gestão no Estado”, destaca. O ministro Armando Monteiro (PTB), que também militou no mesmo campo, mas em seguida virou desafeto de Eduardo, sobretudo nas eleições do ano passado, destacou a capacidade de liderança e trabalho. “Ele deixou marcas importantes ao longo dos seus dois governos”, declara.