Prometida como o grande vetor de desenvolvimento da Zona Oeste da Região Metropolitana do Recife, e um dos grandes trunfos da gestão Eduardo Campos (PSB), a Arena Pernambuco virou um pesadelo para o erário estadual. Deixou, em tempos de crise, um buraco de R$ 122,5 milhões nos cofres do governo de Pernambuco entre julho de 2013 e junho de 2015 como compensação adicional pelos custos de operação do estádio. A cifra é o grande problema do contrato entre o governo e a Arena Pernambuco Negócios e Participações, o braço da Odebrecht que administra o estádio desde o fim da Copa das Confederações (2013). Foi por causa desse valor que o governador Paulo Câmara (PSB) anunciou, na semana passada, o rompimento da Parceria Público-Privada (PPP) por meio de uma nota à imprensa.
O projeto da Arena Pernambuco foi planejado para incluir a construção de um complexo imobiliário e empresarial em seu entorno, a Cidade da Copa, com centro de convenções, hotéis, escritórios, universidade, hipermercado e mais de 4,5 mil unidades habitacionais. Sem prazo, nada disso saiu do papel.
O estudo de viabilidade econômica também previa que obras públicas de mobilidade facilitariam a chegada dos torcedores à Arena. A lista contava com a duplicação e requalificação da BR-408, o Ramal da Copa, a estação de metrô de Cosme e Damião e a implantação dos corredores de BRT Norte-Sul e Leste-Oeste. Dessa lista, só a BR foi duplicada e a estação de metrô foi concluída, mas funciona parcialmente e só em dias de jogos.
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Juntos, todos esses elementos eram importantes para que o negócio fosse rentável. Assim como a promessa do governo de levar os 60 melhores jogos de Náutico, Santa Cruz e Sport para o estádio. Como só o Náutico topou, um aditivo foi assinado em dezembro de 2010. Ele mudou a fórmula como era calculado o risco financeiro entre empresa e Estado com ônus para os cofres públicos. Sempre que a Arena arrecadasse menos da metade do previsto no contrato, o governo completaria o valor até que ele atingisse 70% da receita operacional projetada. Foi o que ocorreu nos dois primeiros anos e levou o governo a desembolsar os R$ 122,5 milhões.
Segundo o relatório da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que embasou o rompimento do contrato, a receita projetada para os dois primeiros anos da PPP era de R$ 226,9 milhões. Os balancetes da Arena mostraram que a receita realizada foi de apenas R$ 47,2 milhões - 20,8% do esperado. Os dois valores foram atualizados pela inflação.
Além do impasse nas cifras operacionais, governo e Arena não se entendem sobre o valor total da obra. Orçada em R$ 479 milhões, a construção do estádio foi antecipada a pedido do Estado para que Pernambuco pudesse sediar a Copa das Confederações. A Odebrecht cobra um aditivo de R$ 264 milhões, mas o governo só reconhece R$ 30 milhões.
As exigências para viabilizar o negócio também entram na conta. Enquanto o Palácio do Campo das Princesas critica o atraso na Cidade da Copa e a falta de grandes eventos na Arena, a concessionária lembra que um relatório do Tribunal de Contas da União apontava as obras de mobilidade como "requisito necessário" para tornar o empreendimento rentável. A assessoria da Arena preferiu não responder aos questionamentos do JC.
O relatório da FGV também faz uma série de projeções e sugestões para viabilizar financeiramente o estádio. Além de empreendimentos no entorno da Arena, há projetos de mobilidade como a melhoria do metrô e serviços como ônibus para levar os torcedores ao local dos jogos. Na previsão mais otimista apresentada no texto, a Arena só receberia os 60 jogos dos três times da Capital a partir de 2029. Os dois cenários também levam em conta um crescimento do serviço de season tickets, modelo em que os torcedores compram ingressos para jogos de toda uma temporada, pouco comum por aqui.
A secretaria de Imprensa foi procurada para confirmar os valores, informando que a Procuradoria-Geral do Estado é quem responderia as dúvidas da reportagem. Mas não houve resposta até o fechamento desta edição.
Confira a íntegra do estudo da FGV sobre a Arena Pernambuco: