Nessa quinta-feira (16), um dia após o Tribunal de Contas da União (TCU) apreciar o parecer prévio das contas da presidente afastada Dilma Rousseff (PT), o ministro José Múcio Monteiro, relator do processo, chegou ao Recife e falou sobre como foram as semans anteriores à finalização do seu relatório. Em seu apartamento, no sexto andar de um prédio localizado a poucos metros da praia de Boa Viagem, um dos cartões postais da cidade, ele disse que conseguiu escrever seu relatório com a tranquilidade necessária.
“O quadro está tão policialesco que não tive essas pressões. As pessoas estão preocupadas com seus CPFs e estão cuidando de si”, disse.
Acostumado a passar os finais de semana no Recife, José Múcio disse que ficou os últimos 15 dias em Brasília “mergulhado” no relatório do TCU. Com o hábito de receber deputados e senadores que lhe pedem audiência, garantiu não ter sido importunado por governo ou oposição nesse período. Se um pedido impertinente viesse de algum ex-colega de bancada na Câmara Federal, onde ocupou o cargo de líder do governo Lula (PT), o ministro disse que seria neutralizado.
“Posso ter alma política, mas tenho juízo. Não posso, nenhum ministro tem condições de fazer política no tribunal”, afirmou.
Antes da análise do parecer das contas de Dilma, o ministro do TCU estava evitando dar entrevistas. Ele afirma que trabalhou de forma discreta para não acirrar mais os ânimos em Brasília.
“Procurei não falar sobre as contas porque nesse momento temos dois governos. Um fora que quer voltar e um que está trabalhando para ser defintivo. Me perguntaram se mandei as contas para Dilma ou para Temer (PMDB). Analisei as contas do governo e eles é que vão dizer quem vai responder. É inusitado? É. A gente está com dois governos. Eles que vão dizer: ‘isso não é meu não’”, falou.
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Para o ministro do TCU, o atual cenário político não tem precedentes. “Nunca ninguém viu nada parecido. A democracia está sob risco e a forma de governo também. Ninguém governa com 34 partidos. Ninguém governa. Juntam-se 10 ou 15 deputados e reivindicam um ministério. Se o governo não der, vota-se contra. O Legislativo está completamente desacreditado pela sociedade”, criticou.
O ministro enfatizou que uma reforma política é necessária, mas, com a experiência de quem teve cinco mandatos consecutivos de deputado federal, ele é realista sobre as possibilidades de mudança. “A reforma política é como o paraíso: todo dia você pede a Deus que lhe leve para lá, mas que não marque a data”, comentou.