Quem não lembra do cientista Sílvio Meira falando que as pessoas iriam se concentrar em atividades que exigissem mais conhecimento e habilidades humanas enquanto os robôs fariam atividades mais repetitivas? E isso está acontecendo com o uso da Inteligência Artificial (IA) em algumas repartições públicas do Estado, como a Vara dos Executivos Fiscais Municipais da Capital do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE). Lá, o robô Elis está “fazendo” a primeira parte dos processos de execução fiscal, o que inclui classificar o mesmo, realizar a triagem e até mandar citar as partes do processo.
É impressionante a velocidade do robô. Elis fez essa primeira etapa de 69.351 processos em 15 dias. Antes dela existir, uma equipe de 11 servidores levaria um ano e meio para concluir a fase inicial. “Estamos usando a inteligência artificial a serviço da recuperação do crédito público. São R$ 6,5 bilhões a serem recuperados. Esta vara tem mais de 445 mil processos, o que daria, em média, 8.240 processos para cada servidor”, resume o juiz auxiliar da Vara dos Executivos Fiscais Municipais da Capital, José Faustino. Essa vara recebe processos que envolvem tributos cobrados pelo município.
Segundo Faustino, a instituição escolheu começar o uso da IA pela vara dos Executivos Fiscais porque um dos critérios mais técnicos para a experiência dar certo é a riqueza de dados a ser usada para a máquina “aprender” e os dados devem ser, de alguma forma, parecidos. A IA é um ramo da computação que permite que os sistemas se comuniquem e simulem uma inteligência similar à humana.
Para “aprender”, Elis passou a utilizar os critérios usados por um funcionário que classificava os processos em cinco tipos. Também foram disponibilizados 4 mil processos para o robô “compreender” o que ocorreu com os mesmos, incluindo informações como os campos a serem observados para identificar o tipo de processo. “Iniciamos com 100 processos. Depois, 200. E fomos testando o nível de confiança dessa etapa dos processos feitos pela Elis”, diz Faustino.
ACERTOS
O percentual de acertos surpreendeu. “A cada 100 casos, Elis acertou 96%. A qualidade dos dados, as técnicas de inteligência artificial aplicadas e o tipo de treinamento realizados com os funcionários foram importantes para chegar no grau de acerto elevado”, conta a secretária de Tecnologia da Informação e Comunicação do TJPE, Juliana Neiva, que tem mestrado em IA, sendo autora de uma tese sobre redes neurais. Tanto ela como José Faustino fazem parte do Comitê de Inteligência Artificial do TJPE, criado em agosto de 2018. Esse grupo – formado por cinco servidores – desenvolveu Elis, projeto concluído em novembro, quando começaram os testes. Ainda no comitê, dois funcionários estão fazendo doutorado em IA.
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Outro motivo que fez o TJPE iniciar o uso dessa tecnologia pela Vara dos Executivos Fiscais foi a quantidade de processos. São mais de 445 mil processos que tramitam na mesma. “Era necessário desenvolver uma tecnologia para melhorar os números e prestar um serviço melhor”, argumenta Justino.
O custo do projeto foi quase zero porque não houve investimentos a não ser o pagamento dos salários dos servidores. A expectativa é que, a partir deste mês, Elis comece a atuar em outra área que é juntar os avisos de recebimento dos Correios, outra parte do processo feita manualmente. Nessa etapa, serão usados apenas softwares de automação.
“Elis não se esgota em si. Serão incorporadas novas funcionalidades e temos estudos em andamento para novos produtos”, adianta Faustino, sem detalhar quais são os novos projetos. E os funcionários que trabalhavam na primeira parte dos processos – que hoje é feita por Elis – estão fazendo atividades menos repetitivas.