Com informações do Blog de Jamildo
As mais recentes declarações do secretário de Desenvolvimento Agrário de Pernambuco, Dilson Peixoto, contra a deputada federal Marília Arraes reacenderam mais uma vez as divergências internas no PT de Pernambuco. Em entrevista a Rádio Vila Bela FM, de Serra Talhada, no último sábado (5), Dilson chamou Marília de "menina mimada", o que provocou uma série de notas de repúdio por parte da Executiva Nacional do PT, da deputada estadual Teresa Leitão e do presidente do PT-PE, Glaucus Lima. O grupo de Marília Arraes e do senador Humberto Costa (PT) disputam atualmente o comando do diretório estadual do PT no Estado.
“É um jeito diferente de fazer política, na minha opinião é o jeito amador, que quer ganhar no grito, (ela) tentou ganhar no ano passado no grito e deu no que deu. Agora repete a mesma tática né, de ficar nervoso com entrevista, de ameaçar sair de entrevista, (porque) ‘se não for o que eu quero’…”, afirmou Dilson. “Parece mais aquela menina mimada que sempre o pai e a mãe sempre deu tudo né. Aí quando não é do jeito que quer, então ameaça fazer confusão e por aí vai", completou o petista.
No Processo de Eleição Direta (PED) do PT, no início de setembro, que elegeu os presidentes dos diretórios municipais e os delegados para os congressos estadual e nacional do partido, a chapa liderada por Humberto ficou em 1º lugar, conquistando 36,77% dos votos. Posteriormente, foi anunciada a junção com mais duas chapas que também disputaram a eleição, a liderada pelo secretário de Saneamento da Prefeitura do Recife, Oscar Barreto e a do ex-vereador do Recife, Osmar Ricardo. No fim das contas, a chapa ficou com 65,77% e terá, portanto, 2/3 dos delegados que elegerão o novo diretório do partido no Congresso Estadual, marcado para os dias 19 e 20 de outubro.
Já a chapa liderada por Marília Arraes e por Teresa Leitão ficou em 2º lugar, com 29,12% dos votos. Seu candidato é o atual presidente, Glaucus Lima. O grupo defende o resgate do protagonismo do PT no Estado através de candidaturas próprias no município e o desembarque do PT da Frente Popular liderada pelo governador Paulo Câmara (PSB).
"A gente fez agora a renovação da direção do PT em todos os municípios brasileiros, eleição direta, no voto. A chapa que Marília representava juntava ela, a deputada Tereza Leitão, o companheiro Múcio Magalhães e outras forças políticas. Essa chapa, num universo de 6 mil votos teve pouco mais de 600, tiveram pouco mais de 10% dos votos, então mostra que o filiado do PT do Recife não foi seduzido por esse fenômeno, entre aspas, Marília Arraes", disse Dilson Peixoto.
Por fim, o petista ainda afirmou se depender do diretório municipal do Recife "Marília Arraes não é candidata à Prefeita". Na capital pernambucana, Cirilo Mota foi eleito presidente do diretório municipal. Ele é da chapa “Frente ampla – Lula Livre”, do ex-vereador Oscar Barreto (PT), também aliado de Humberto."Agora, esse vai ser um debate que vai ser feito com a direção nacional. Ninguém vai ganhar no grito, não vamos atropelar as forças do PT para definir qual a tática que vai ser adotada no município de Recife", afirmou Dilson.
Represália
Em nota assinada pela presidente nacional do PT, Gleisi Hoffman (PT) e pelo líder do PT na Câmara dos Deputados, Paulo Pimenta (PT-RS), a Executiva Nacional do PT ressaltou a democracia interna da sigla e disse estranhar e repudiar as declarações de Dilson Peixoto. "Ataques pessoais, descabidos e que vão frontalmente de encontro ao trabalho, empenho e importância de Marília não só para nosso partido, mas para Pernambuco e para o Brasil. A luta que temos pela frente é grande demais para que possamos permitir que interesses pessoais, pontuais, que não são aqueles coletivos, partidários, nos tirem do caminho e do lado certo da história", disse nota da Executiva.
Também por meio de nota, Teresa Leitão afirmou que "atacar as opiniões políticas de uma parlamentar, com adjetivos jocosos, de forma machista" não não é papel de um secretário estadual. "Indignar-se não é 'birra', tampouco quem expõe suas opiniões não é necessariamente uma pessoa 'mimada'. Uma grande parte da militância petista queria e quer candidatura própria em muitos municípios porque anseia em ser protagonista no processo eleitoral, defender o PT e fortalecer a chapa de vereadores e vereadoras", disse Teresa. As eleições municipais de 2020 serão as primeiras sem coligações nas eleições proporcionais. Os partidos estão se articulando para formar candidaturas para prefeitos e assim fortalecer a eleição dos seus vereadores.
Teresa disse ainda que ataques a uma parlamentar do PT "não deve ser prova da fidelidade radical ao governo". "Lideranças de outros partidos estão discutindo suas candidaturas, não sendo necessário a alguns petistas serem mais realistas que o rei e se anteciparem em posições de adulação aos partidos aliados", disse.
"Atacá-la, em uma entrevista onde as ações da Secretaria eram a temática, denota a insensatez de um discurso raivoso que não agrega valor ao Partido dos Trabalhadores. Referir-se ao PED como espaço de revanche, demonstra o quanto o debate sobre a cidade pode ser apequenado por interesses pessoais. A conjuntura exige mais de todos nós", completou Teresa na nota.
Glaucus Lima afirmou, por meio de nota, que a sigla não pode concordar com as atitudes do secretário "que vem através da imprensa explicitar divergências que devem ser tratadas internamente no Partido dos Trabalhadores e desrespeita de forma desnecessária a Deputada Federal Marília Arraes", disse. "O respeito ao debate interno, à democracia interna e às instâncias do partido deve nortear a ação dos militantes do PT, principalmente de um filiado que ocupa um cargo público da importância de uma secretaria de estado", completou Glaucus.
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Humberto
O senador Humberto Costa reconheceu, durante entrevista nesta que as declarações de Dilson Peixoto, seu aliado, foram "infelizes" e que ele foi "injusto". Ele destacou, porém, a preocupação do PT com a participação feminina na sigla garantindo 50% dos cargos de direção para as mulheres. O senador também fez questão de destacar a trajetória política do secretário, como vereador e presidente da Câmara Municipal do Recife, presidente da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU). "É uma pessoa que tem uma história, uma estratégia e tem um capital político próprio, ele fala por ele, na verdade não falou em nome do PT, da CNB, que é a nossa corrente interna dentro do partido, ele tem a liberdade de opinar, mas nós não temos a obrigação de concordar", contou.
Humberto rechaçou o que chamou de tentativa de tirar proveito da situação por parte de integrantes do partido para transformar o fato em "conflito político". "Não estou acusando ninguém especificamente, mas se você olhar as redes sociais de pessoas do PT hoje, está uma verdadeira festa de ataques e acusações exatamente logo depois da gente ter tido um processo eleitoral no nosso partido que foi extremamente importante, altamente participativo, vários municípios que participaram, inclusive alguns que estavam há muito tempo sem que tivéssemos o partido organizado", disse Humberto.
Segundo Humberto, esse não é o momento de "brigar por causa de candidatura para a Prefeitura de Recife", disse. "Na hora adequada, o partido vai discutir qual é a sua posição em Recife, em Olinda, em Serra Talhada, em Petrolina, onde for, então eu entendo que um erro não deve justificar outro. O fato de um militante ter cometido um equívoco, não justifica que se queira agora incendiar o debate interno no PT e querer transformar a eleição em um tema principal", completou o senador.
Procurada, Marília Arraes informou, por meio de sua assessoria, que não comentaria as declarações de Dilson Peixoto.