ENTREVISTA

Autoras do livro "Sucesso: o que elas PEnsam" explicam os desafios enfrentados por mulheres no mercado de trabalho

Em seu livro, as primas Eduarda e Camila Haeckel entrevistaram as mulheres de maior relevância em Pernambuco

Felippe Pessoa
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Felippe Pessoa
Publicado em 21/09/2020 às 7:29 | Atualizado em 21/09/2020 às 7:31
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Camila e Eduarda Haeckel, autoras do livro Sucesso: o que elas PEnsam - FOTO: DIVULGAÇÃO

A coluna de hoje traz uma entrevista com as primas Eduarda e Camila Haeckel, da Editora Inspiração e autoras do livro Sucesso: o que elas PEnsam, em que entrevistam as mulheres de maior relevância em nosso estado.

Na conversa, elas destacam as dificuldades que as mulheres ainda encontram no mercado de trabalho e histórias de sucesso inspiradoras.

Felippe Pessoa: O irmão/primo de vocês, Felipe, lançou o livro Sucesso: o que eles PEnsam, onde entrevistava nomes relevantes de Pernambuco. Como vocês perceberam a baixa participação de mulheres na publicação e como surgiu a ideia de fazer uma edição dedicada exclusivamente sobre elas?

Camila Haeckel/Eduarda Haeckel: Sempre admiramos muito o espírito empreendedor de Felipe. Em 2003 o livro “Sucesso: o que eles PEnsam” foi inovador, reunindo parte expressiva do capital humano Pernambuco. Em 2016, com a reedição do livro, focado apenas em líderes, nos apaixonamos novamente pelo projeto e observamos que a presença feminina poderia ser mais expressiva.

Por que um número tão discreto de personalidades femininas se hoje nós mulheres assumimos o comando de mais de 40% dos lares brasileiros? Podemos perceber que apesar das indicações do livro terem sido aleatórias, elas não eram representativas. Foi então que resolvemos nos juntar para fazer uma versão exclusiva com nomes femininos. Sendo uma forma de homenagear e representar. Pernambuco é um celeiro de grandes mulheres, referências nas suas áreas de atuação e verdadeiros cases de sucesso.

Felipe não é machista. Ao contrário: diria que nós da família, de maneira geral, temos referências muito fortes de empreendedorismo feminino. A ideia da gente ao lançar o livro apenas com mulheres não foi pra competir quem tinha mais ou menos sucesso. Queríamos dar ênfase a mulheres que mereciam independente do gênero.

O importante é que temos com a soma de todos os livros um ótimo panorama do capital humano de Pernambuco. Reunindo cabeças diferentes, que respondem perguntas iguais, gerando um conteúdo singular.

FP: Em 2018 vocês lançaram o livro Sucesso: o que elas PEnsam, dedicado à líderes do sexo feminino. Vocês acreditam que a publicação conseguiu estimular outras mulheres a crescerem e não desistirem de seus sonhos profissionais? Como?

CH/EH: Sim! Desde então, recebemos feedbacks muito positivo de pessoas que foram tocadas de alguma forma pelas lições contidas no livro e partiram para a ação, aprendendo com quem de fato realiza! Acima de tudo, percebemos que nossos leitores, a partir do contato próximo com nossas entrevistadas, tiveram a confiança necessária de que as lições não se aplicam apenas “aos outros”, que cada um de nós pode ser um líder de sucesso e contribuir para o crescimento do seu estado e para o seu próprio desenvolvimento pessoal e profissional.

A obra ajudou a valorizar mais os talentos locais. Nossas entrevistadas provaram através das suas trajetórias que não precisamos ir muito longe para encontrar grandes talentos em todas as áreas.

FP: Durante as entrevistas com essas 150 mulheres retratadas no livro, o que vocês perceberam que elas têm em comum e o que as diferenciam dos homens no mundo corporativo?

CH/EH: Nos 6 livros, podemos observar que todos os entrevistados, sejam eles homens ou mulheres, compartilham de algumas características em comum, tais como: Disciplina, Dedicação, Esforço, Foco, Determinação e Garra.

Ok! Isso não é uma novidade para ninguém, mas o que percebemos claramente é que as mulheres se diferem dos homens em alguns pontos. E são nessas diferenças que queremos focar.

O primeiro ponto que nos deparamos foi que ao falarem do seu sucesso, elas não têm vergonha de compartilhar seus fracassos, e enxergam isso como parte de sua trajetória. Tem orgulho do que construíram e aonde chegaram, falam com naturalidade das suas dificuldades e enxergam os erros como forma de aprendizado. Elas acabam entendendo que o fracasso pode ser uma ponte para o sucesso.

Muitas delas compartilharam conosco que trabalharam anos sem ganhar nada, chegaram a perder tudo, ou começaram do zero. Outras pediram dinheiro emprestado, trabalharam em locais sem prestígio, passaram por situações que não se orgulham... Nenhuma delas teve vergonha de comentar estes e outros fracassos, de agiota à morar de favor, todos foram compartilhados e junto com eles a determinação e o sentimento de gratidão às pessoas que as ajudaram a chegar onde chegaram.

O segundo ponto de destaque é que as mulheres agradecem. Agradecem a quem as incentivam, inspiram ou estão juntos no dia a dia. Isso pode ser percebido na valorização da família, sempre colocando pessoas próximas como destaque para seu sucesso. A mulher ela tem mais humildade para ser grata e é genuíno. Agradecem principalmente aos pais, à família e à sua equipe. E quando fazem algo que ajuda ao próximo, em geral não gostam de expor isso.

Tornando o senso de coletividade dessas mulheres o terceiro ponto. Todas reconhecem a importância do trabalho em equipe para a suas conquistas.

O altruísmo de investir na equipe e ver sua felicidade e satisfação no sucesso do outro, tornam o trabalho com pessoas um destaque.

Isso tudo leva a algo além da riqueza financeira. A associação do sucesso com a paz de espírito e uma vida equilibrada. Afinal, “a maior empresa que nós temos é a nossa vida, então temos que investir nela”, conforme Roseana Amorim brilhantemente destaca.

E isso é um outro ponto: resiliência e reinvenção, saber se adaptar ao mercado. Do fracasso ao sucesso, as mulheres passaram por diversas áreas diferentes, sabendo se adaptar e se erguer às situações.

Isso leva à paixão, todas elas são apaixonadas pelo o que fazem de uma forma diferente. Isso é o que as fazem trabalhar todos os dias com afinco, garra, determinação para enfrentar os desafios e as dificuldades cotidianas, sem perder a alegria e o entusiasmo.

Em contra partida, algumas delas não têm uma relação bem resolvida com o sucesso, relutam diante dele, não se sentem merecedoras e ao contrário, algumas até tem vergonha e não se autorizam a aproveitar a recompensa que vem com ele. Comparando os livros, isso aconteceu várias vezes com as mulheres e pouquíssimo com os homens.

FP: De acordo com uma pesquisa divulgada pela McKinsey & Company esse ano, para cada 100 homens promovidos e contratados para o cargo de gerente, apenas 72 mulheres são promovidas e contratadas. Por que vocês acham que ainda existe essa desigualdade no mercado? E como reverter essa situação?

CH/EH: Essa desigualdade é uma herança de gerações e décadas em que predominava o patriarcado. Não se muda da noite para o dia hábitos e valores culturais históricos. Mas vemos cada vez mais mulheres crescendo em suas carreiras, se desenvolvendo pessoal e profissionalmente e sendo admiradas ao redor do mundo.

O simples fato de ter filhos pode prejudicar a mulher profissionalmente. A penalização da maternidade não se limita ao acesso a um emprego, mas segue as mulheres durante grande parte de sua trajetória profissional e dificulta suas possibilidades de chegar a postos de liderança, segundo a Organização Internacional de Trabalho.

Até 1962, mulheres não podiam ter CPF, nem conta no banco — falar de dinheiro era "coisa" de homem. Além disso o salário médio dos homens é proporcionalmente maior, o que diminui a capacidade de poupança das mulheres e a autonomia das mulheres.

Nosso objetivo com nossa obra jamais foi criar uma queda de braço entre homens e mulheres, que são indivíduos diferentes e complementares. Somos a favor de que ambos trabalhem e caminhem de mãos dadas por uma sociedade mais justa e igualitária.

FP: Historicamente, as mulheres que trabalham fora precisam se desdobrar para dar conta da família, da casa e do trabalho. Vocês acreditam que essa realidade está mudando e os homens têm adotado uma postura mais participativa em relação as atividades além do trabalho?

CH/EH: Na nossa experiência durante o processo criativo deste livro, pudemos vivenciar um pouco do dia a dia, rotina de trabalho e valores dessas mulheres que são ativas e múltiplas, assumindo as mais diversas funções sem perder a delicadeza e a garra feminina. Por outro lado, também pudemos observar a admiração e entusiasmo da ala masculina ao protagonismo feminino, aplaudindo seu sucesso!

Para especialistas em trabalho e comportamento, o contato maior dos pais e maridos com as tarefas domésticas durante o home office pode inaugurar nova época com homens mais ativos nos lares.

Além disso, quando houver outros períodos de distanciamento compulsório das mães de seus filhos, não em decorrência de uma pandemia, mas de obrigações profissionais, esses momentos tenderão a ser vistos com naturalidade. Trata-se de um interessante movimento social, agora construído em bases mais fortes.

Acreditamos e lutamos para que esta realidade se concretize e seja cada vez mais comuns esses exemplos positivos.

FP: Apesar de serem maioria na população, durante a pandemia, 7 milhões de brasileiras deixaram o mercado de trabalho, 2 milhões a mais que o número de homens. A que vocês creditam essa maior evasão de mulheres do mercado durante a crise e por quê?

CH/EH: Pesquisando sobre esse assunto, analisamos dados recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) revelam que, mesmo com empregos assalariados, as mulheres brasileiras dedicam oito horas a mais que os homens aos afazeres domésticos. Enquanto as mulheres estão numa taxa de desemprego de 14% os homens estão em 12%. A maioria das mulheres com filhos pequenos compartilham do mesmo problema, a recolocação profissional, pois elas não têm com quem deixar os filhos.

As mulheres já estavam enfrentando esta crise no mercado de trabalho antes mesmo da pandemia e neste novo momento, com isolamento social e o fechamento das escolas, o cenário se agrava. Isso porque a questão dos cuidados é ainda mais necessários e são elas, ainda, as responsáveis, em grande maioria, por esta função.

FP: Quais são os planos de vocês para o pós-pandemia e como o público feminino estará presente nesses novos trabalhos?

CH/EH: Em 2021 a editora InspirAÇÃO lançará seu sexto livro. Dedicado exclusivamente ao polo médico de Pernambuco. Nosso objetivo é celebrar a trajetória de êxito e fazer uma justa homenagem àqueles que constroem a história da medicina do estado. Através de um conteúdo inovador, grandes médicos e médicas abordam os aspectos essenciais para o sucesso, nesse mercado que atravessa profundas transformações, através de importantes lições de vida e carreira.

Esta é a oportunidade de conhecer mais profundamente os homens e mulheres para além do jaleco, as longas jornadas nos consultórios e a pressão diante das crises, tendo acesso a curiosidades como a admiração pelos filhos ou companheiros, o prazer cultivado pela música, esportes, viagens ou pela gastronomia. Nestas páginas, estão reunidas histórias de profissionais que traçaram um caminho marcado pelo êxito e o reconhecimento.

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