Coluna Cena Política

Bolsonaro faz campanha de reeleição ou contra impeachment. Em ambas, ideia é fingir que não tem culpa

No momento em que for cobrado, ele vai dizer que "fez de tudo, mas sofreu com a perseguição dos opositores que não querem o melhor para o Brasil".

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 17/04/2020 às 12:56 | Atualizado em 17/04/2020 às 13:05
MARCELLO CASAL JR./AGÊNCIA BRASIL
"Ter divergência não é ter conflito, por isso que a saída foi confortável', disse - FOTO: MARCELLO CASAL JR./AGÊNCIA BRASIL

É falso que Nelson Teich, o novo ministro da Saúde, tenha como missão reabrir a economia. Porque são os governadores e prefeitos que vão decidir sobre isso na hora em que eles acharem que é prudente dependendo do número de leitos de UTI prontos para a população.

A decisão do STF no meio da semana tirou o poder da caneta de Bolsonaro e determinou que Estados e Municípios é que devem controlar isso.

A alternativa do Presidente da República seria mandar um projeto (que ele disse já ter) colocando todas as profissões possíveis como essenciais, para que as pessoas sejam obrigadas a voltar ao trabalho, dando um drible no STF.

Mas o projeto teria que ser aprovado pela Câmara, onde ele costuma ter seis vezes menos votos do que a oposição e o centrão. Pra piorar, Bolsonaro briga com Rodrigo Maia (DEM) na mesma entrevista em que disse ter o projeto, a única pessoa que poderia ajudá-lo a aprovar o texto. Ele sabe que não será aprovado. Ele nem quer que seja mesmo.

Alguns podem dizer que Bolsonaro é simplesmente estúpido, não é. Bolsonaro só consegue funcionar pela guerra ou pela piada. Quando não está fazendo alguma brincadeira de humor duvidoso, precisa brigar com alguém. Tirando esse aspecto da natureza dele, o que fica é a necessidade de fugir do problema, de fingir que não tem nada a ver com aquilo, de se esconder das responsabilidades para ficar bem com seu eleitorado mais fiel. 

Não é nenhuma novidade. Bolsonaro age da mesma forma que sempre agiu quando era deputado federal.

Para agradar seu pequeno grupo, defendia a "liberação de armas”, porque sabia que os colegas deputados nunca iriam aprovar, então não teria consequências, mas ele ficaria bem no coração dos próprios eleitores.

Defendia a Pena de Morte, porque sabia que nunca seria aprovada, é inconstitucional, cláusula pétrea, mas ele ficaria bem entre os próprios eleitores. Então defendia e depois dizia aos apoiadores que "o Sistema não o deixava trabalhar pelo bem". E os eleitores fieis aplaudiam. E ele sobrevivia.

Agora, como presidente, ele apresenta projetos já sabendo que será derrotado, apenas para criar uma lista de argumentos que possa ser usada no futuro. É como se estivesse produzindo material para uma campanha, e está. Na hora certa, ele vai apresentar todos os projetos absurdos e impossíveis de serem aprovados para se fazer de vítima e dizer que não deixaram ele trabalhar.

No momento em que for cobrado, ele vai dizer que "fez de tudo, mas sofreu com a perseguição dos opositores que não querem o melhor para o Brasil”.

Em que momento será? É a dúvida.

Ele pretende usar isso em duas situações: num processo de Impeachment ou na tentativa de se reeleger em 2022. O que vier primeiro.

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