Reabertura

Algumas lacunas e contradições do plano de reabertura do Governo de Pernambuco

Construção civil pode voltar, mas construtoras não sabem como vão cumprir regras que não se encaixam com o funcionamento do setor. Estado vai fiscalizar lista de espera de salões de beleza? E correr na praia ou no parque, mesmo sozinho, continua proibido e sem data para liberação.

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 02/06/2020 às 12:41 | Atualizado em 02/06/2020 às 13:00
LEO MOTTA/ACERVO JC IMAGEM
Praias foram esquecidas no plano. Não pode nem fazer exercício. - FOTO: LEO MOTTA/ACERVO JC IMAGEM

A queda no isolamento social era uma consequência esperada após o anúncio do plano de reabertura do Governo de Pernambuco. O que não se esperava era que as medidas fossem anunciadas sem que houvesse diálogo com os setores.

Há críticas na construção civil, por exemplo, sobre as as medidas terem sido anunciadas sem entendimento básico de como as contratações funcionam. Entre as regras, está que a construção voltará com 50% dos funcionários.

O plano ignorou que algumas contratações para obras são feitas pontualmente, com prazos determinados para a entrega do empreendimento. Em reportagem de Edilson Vieira para este JC, há questionamentos do tipo: “teremos que contratar 100 operários e mandar 50 para casa?”.

A pergunta é básica, mas válida e reflete uma decisão tomada sem diálogo com o mercado e sem conhecimento da rotina.

As regras especificadas para cada fase também deixam dúvidas sobre a capacidade do poder público para agir e impedir uma reabertura total clandestina. Mais uma vez, arrisca-se a ver ações de fiscalização para “inglês ver”. Os salões de beleza, por exemplo, pelo plano só podem atender um cliente por vez, com hora marcada, a partir do dia 15.

É fácil acompanhar o movimento em algum salão grande, mas a maioria funciona em espaços pequenos, nos bairros. Quantos fiscais o governo está designando para conferir as listas de espera dos cabeleireiros do Estado? A pergunta é séria mas, depois de escrever, percebi que parece piada.

Conheça as 11 etapas do plano para reabertura de 100% das atividades econômicas de Pernambuco

Fora isso, as contradições nos critérios são curiosas também. Por exemplo, a praia. Não há nenhuma palavra sobre liberação de praias e parques, nem mesmo para exercícios físicos. Nada sobre isso no anúncio.

O plano libera atividades que haviam parado desde a fase inicial das infecções, quando o risco ainda era pequeno, e mantém proibições que só foram ordenadas quando a situação ficou muito crítica.

A construção civil foi obrigada a parar logo em março, quando a situação não era tão grave. As praias só foram fechadas em abril, dias depois, quando a crise de saúde começou a fugir do controle.

Agora, no plano de reabertura, com número de mortes ainda muito altos e taxa de ocupação de leitos ainda acima de 90%, a construção civil pode voltar, mas se você insistir em correr na praia ou no parque, mesmo sozinho, pode até ser preso.

Fica a dúvida: está tranquilo ao ponto de a construção civil poder voltar às atividades ou está crítico ao ponto de não poder liberar uma corrida na praia?

É essencial ter um plano. Ele deveria estar disponível há mais tempo, inclusive, mas as contradições e as dúvidas precisam ser sanadas. Os setores que vão reabrir precisam ser ouvidos.

Muito pior do que não abrir é abrir errado.

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