Cena Política

Nos últimos anos, o golpe acontece a cada pleito e não vem com tanques, mas sob estelionato eleitoral

Acreditar que Bolsonaro pode usar o Exército para dar um "autogolpe" é um pouco de exagero. Ele até deve ter vontade, até pode tentar. Mas não é simples.

Imagem do autor
Cadastrado por

Igor Maciel

Publicado em 31/03/2021 às 10:45 | Atualizado em 31/03/2021 às 11:08
Análise
X

Os três comandantes entregarem o cargo nas Forças Armadas é sinal inconteste de protesto. Antes de Bolsonaro (sem partido), só aconteceu com Lula (PT).

Foi em 2009. Na época, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, em protesto a uma revisão que o petista queria fazer na Lei de Anistia, pediu demissão.

Forças Armadas não são instrumento de intimidação política, diz Santos Cruz após Bolsonaro retirar comandantes

Em solidariedade, os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica o acompanharam. O simbolismo da quebra de sintonia entre governo civil e militares é tão forte, e preocupante, que Lula não arriscou: desistiu de mexer na lei.

Jobim ficou ministro e os comandantes permaneceram.

Em 2021, paz é algo distante e os comandantes cumpriram a ameaça. O simbolismo, contra Bolsonaro, é muito grande, maior do que seria com Lula na época.

Porque o petista nunca foi militar e nem foi eleito exaltando as Forças Armadas.

Bolsonaro é militar, tem muitos militares no governo e sempre exaltou essa proximidade.

Mas, o prejuízo real é político. A consequência também.

Acreditar que Bolsonaro pode usar o Exército para dar um "autogolpe" é um pouco de exagero. Ele até deve ter vontade, até pode tentar. Mas não é simples.

Exército, Marinha e Aeronáutica são instituições sólidas. O Legislativo e o Judiciário também.

Golpes de estado, hoje, para terem sucesso, não acontecem com tanques, mas com desinformação, estelionato eleitoral e falsas promessas. É o tipo de golpe que o Brasil sofre há muitos anos.

Bolsonaro é apenas o "da vez".

Ele se elegeu como liberal, militar, municipalista e ávido no combate à corrupção.

Depois de eleito, defende intervenção estatal, briga com os militares, esquece os municípios e acaba com a Lava Jato.

E há quem espere tanques pra temer um golpe. Precisa?

Com Dilma (PT) tivemos promessas de que tudo estava sob controle para, logo após a reeleição, em 2014, descobrirmos que era mentira.

Foi um golpe também.

Mas, enquanto pudermos trocar um "golpista" por outro, respeitando a Constituição, ainda temos futuro.

Tags

Autor