Desafio da CPI da Covid é deixar de ser palanque e provar que houve crime. Sem isso, servirá de nada
Até agora, os senadores da CPI conseguiram, apesar do sapateado vaidoso diário, colocar os fatores sob os holofotes e expor elementos que indicam crimes do governo e de pessoas ligadas a ele. Falta fazer a ligação entre eles, falta somar os fatores.
Os senadores de oposição na CPI da Covid conseguiram expor o governo de Jair Bolsonaro (sem partido).
Reforçou-se a comprovação da inutilidade de medicamentos que foram defendidos pelos bolsonaristas.
Comprovou-se também a existência de um "gabinete paralelo", que atuou orientando o presidente e fazendo com que ele ignorasse e desautorizasse os ministros da Saúde, pagos com dinheiro púbico, e especialistas no assunto.
Muitas das declarações dadas pelo presidente, imagina-se, partiram da orientação desse gabinete das sombras, como foi chamado por um de seus integrantes.
Ao mesmo tempo, e até agora, 500 mil pessoas morreram vítimas da doença.
Ao mesmo tempo, e até agora, empresas farmacêuticas declararam ter faturado milhões acima do previsto com a venda de medicamentos que foram induzidos pelo presidente e pelo tal gabinete paralelo.
Isso é o que existe até agora.
O que não existe? Conexão materialmente comprovada entre todos esses fatores.
É o maior desafio da CPI. Porque ter um gabinete paralelo orientando contra especialistas e contra a ciência é prova de ignorância, negacionismo, desprezo pela pesquisa. É prova até de burrice ou maldade, mas não é crime.
Os laboratórios terem lucrado com isso, mesmo que nunca tenham dito que os remédios não serviam para covid, apesar de saberem disso, é prova de ganância e imoralidade, mas não é crime.
Ignorar o ministério da Saúde não é crime.
O que a CPI precisa fazer é provar, por exemplo, que alguém ligado ao presidente ou ao gabinete paralelo recebeu alguma vantagem de empresa farmacêutica que produz remédios do famigerado "Kit Covid". Isso é crime.
Precisa provar, juridicamente e não apenas com argumentação política, que o presidente agiu ou se omitiu de propósito para que mais pessoas morressem. Ele chegou a declarar, é verdade, pensamento nesse sentido. Mas, até que ponto suas ações ou omissões acompanharam o pensamento?
Até agora, os senadores da CPI conseguiram, apesar do sapateado vaidoso diário, colocar os fatores sob os holofotes e expor elementos que indicam crimes do governo e de pessoas ligadas a ele.
Falta fazer a ligação entre eles, falta somar os fatores. Sem isso, não tem resultado.