Cena Política

O que o desejado Fusca Itamar e o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin têm em comum?

O bom e velho fusquinha não entrou para a política, apesar de ter apelido de ex-presidente, e o ex-governador de São Paulo não vai virar nome de carro.

Igor Maciel
Igor Maciel
Publicado em 30/11/2021 às 19:03
Análise
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Em 1993, o então presidente Itamar Franco se empenhou para trazer o veículo de volta à cena - FOTO: Divulgação
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Geraldo Alckmin (PSDB) e o Volkswagen Fusca da década de 1990, conhecido como Fusca Itamar, têm muito em comum. O bom e velho fusquinha não entrou para a política, apesar de ter apelido de ex-presidente, e o ex-governador de São Paulo, que já teve "picolé de chuchu" como apelido, não vai virar nome de carro.

Mas, ambos pareciam ser apenas uma página nos livros da História quando renasceram.

Depois de ser retirado de linha em 1986, com a montadora vendendo todo o maquinário de sua produção, o fusca voltou quase 10 anos depois por uma conveniência política, quando Itamar Franco, querendo deixar alguma marca em seu governo e preocupado com o alto preço dos carros populares, pressionou a VW a reproduzir o veículo.

O Fusca, que ninguém mais queria, teve em seu relançamento uma fila de compradores antecipados que chegou a 13 mil pessoas.

Geraldo Alckmin (PSDB), perdeu a eleição presidencial em 2006 e em 2018. Nesta última, protagonizou a redução do partido a um "nanico", alcançou pouco mais de 4% dos votos, 42 p.p. atrás do primeiro colocado, ficou em quarto lugar e praticamente foi aposentado.

Após o pleito, chegou a fazer participações como especialista na área de saúde em programas de TV (ele é médico).

Tudo indicava uma aposentadoria na política, mas mudou após pesquisas mostrarem que ele seria o candidato favorito ao governo de São Paulo.

De repente, de participação em programas de TV como médico, Alckmin tornou-se a "noiva" da eleição de 2022. Como é inimigo de João Dória (PSDB), e este ganhou o direito de ser candidato pelo partido à presidência, deve deixar ninho tucano e ainda não resolveu para onde vai. Pode ir para o PSB para ser vice de Lula (PT).

Isso mesmo, o ex-presidente da República, por quem foi derrotado em 2006, e hoje é líder nas pesquisas presidenciais, é a opção melhor encaminhada até o momento para o quase ex-tucano.

E não para por aí.

Há alguns dias, Tarcísio de Freitas, o ministro da Infraestrutura de Bolsonaro, o procurou. Queria saber sobre a disponibilidade de Alckmin para formar uma aliança em São Paulo com o atual presidente, que está em segundo lugar nas pesquisas presidenciais.

E... não parou por aí. O terceiro colocado nas pesquisas começou a ter o nome ligado a Alckmin. Não se sabe se houve algum contato, mas circulou nos bastidores a possibilidade de Sergio Moro e o ex-governador paulista terem uma conversa.

Não acabou ainda. No PT há uma imensa preocupação. Alguns petistas entendem que seria uma grande jogada para Lula ter o ex-adversário como companheiro, mas temem que, com o PT chamando atenção para o tucano e o fazendo crescer, o "mercado financeiro pode achar que ele é uma opção mais segura que o petista", descartando Lula no meio do processo.

Faz tempo que não se via alguém ser tão disputado num processo eleitoral e com tanta antecedência, há quase um ano da eleição.

Quando o Fusca Itamar foi anunciado, vinha com câmbio manual de quatro marchas sincronizadas, ia de 0 a 100 km/h em 14,3 segundos, tinha máxima de 140 km/h e, dependendo da versão, tinha até toca-fitas.

Eram novidades para o fusca de 1986, mas não para o mercado na metade dos anos 1990.

Quando a empolgação passou e concorrentes como o Corsa Wind e o Pálio foram aparecendo, em 1996, o Fusca saiu de linha novamente.

Para Geraldo Alckmin, é importante saber como aproveitar o "mercado" político quando a empolgação passar. O fusca serviu para Itamar, como Alckmin serve para Lula.

O que vai além disso?

Quando o petista se mostra empolgado com a parceria, tem sua razão estratégica. A aliança com um símbolo do PSDB (mesmo que esteja em outro partido), coloca Lula mais ao centro na disputa e atrapalha Sergio Moro (Podemos) e Ciro Gomes (PDT), além de reforçar sua posição sobre Bolsonaro (PL).

Também abre espaço para o PT numa área dominada pelos tucanos, o Sudeste. Tendo o Nordeste já garantido, a aposta é muito boa.

Mas, o que Alckmin tira disso?

Que vantagem ele leva?

Indo para o PSB ele fará parte de um arranjo que não é dele entre socialistas e petistas. Qual a influência que ele terá dentro do PSB? Vai ser mero passageiro?

Hoje o Fusca Itamar é muito valorizado no mercado, uma unidade bem conservada chega a custar mais de R$ 100 mil para colecionadores. Porque, após a empolgação, os executivos da VW entenderam que deviam preservar a sua história.

Saber a hora de parar é algo essencial para a forma como você vai ser visto no restante da sua vida.

É a lição que o Fusca Itamar deixou para Geraldo Alckmin.

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