Cena Política

Socialistas e oposição em Pernambuco estão na mesma estrada e parecem brigar por um empate. O jogo está diferente

Todo mundo corre para não ficar para trás, embora o medo de avançar e cair num precipício seja maior.

Igor Maciel
Igor Maciel
Publicado em 06/12/2021 às 10:09
ROBERTO JAYME/ASCOM TSE
CAMPANHA Ao invés de ficar mais curta, como se pretendia, disputa acabou tomando todo o mandato - FOTO: ROBERTO JAYME/ASCOM TSE
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O ex-vice-presidente Marco Maciel tinha uma frase para todo mundo que lhe perguntava sobre eleição muito antes da eleição: "Quem tem tempo, não tem pressa".

Ao menos ele não negava que as discussões estavam acontecendo, apenas dizia que não tinha nenhuma resolução até ali.

Já Eduardo Campos transformou o ato de negar estar fazendo articulação eleitoral em algo um pouco mais fingido. Era comum, em 2009, ouvi-lo dizer que a "a eleição de 2010 se discute em 2010", quando a discussão, todo mundo sabia, já havia começado em 2006.

A maneira de despistar é diferente, mas a intenção era a mesma: não antecipar jogadas.

Vejam Raquel Lyra (PSDB). A prefeita de Caruaru só entrou no jogo eleitoral quando a pressão para que ela se declarasse candidata ao governo do Estado se tornou insuportável. Apesar de nunca ter se apresentado oficialmente como candidata, ela foi obrigada a pegar a estrada e começar a construir suas bases nos municípios. Caso contrário, corria o risco de ficar para trás nas discussões de formação de palanque.

Às vezes, porém, é preciso fingir que está escondendo a solução quando, na verdade, você não a tem mesmo. O PSB pode até dizer que "tem tempo e não tem pressa". Mas, aliados estão bastante inquietos com a falta de um nome para a campanha.

Geraldo Julio (PSB), depois de conversar com outros socialistas que ainda estavam esperançosos, teria voltado a afirmar que não é candidato em 2022.

O PSB tem vários nomes como opção, que precisarão ser trabalhados, mas a indefinição existe e deixa o PT, por exemplo, ouriçado pela chance de indicar o candidato.

Estamos há quase um ano das eleições. O que aconteceu que faz com que tudo tenha se acelerado? As frases de Marco Maciel e Eduardo Campos, hoje, parecem excentricidades políticas de um tempo passado.

Aconteceram as redes sociais e as novas leis eleitorais.

E, nos dois casos, a ideia era que os processos se tornassem mais curtos, uma corrida de cem metros, quando, na verdade, transformaram-se em maratonas.

No caso das redes sociais, apesar de a comunicação ser mais direta e rápida, as construções são demoradas. É preciso alcançar volume, escalar em número de apoiadores virtuais, criar um ambiente favorável nas redes.

Bolsonaro construiu uma imagem dentro de uma bolha nas redes, mas não fez isso de uma hora para outra. Demorou alguns anos e muitas e muitas postagens com vídeos de grupos o recebendo em aeroportos.

Quando a eleição chegou, o ambiente virtual estava pronto e fortalecido para resistir a qualquer contra-argumentação. Independe se a base era real ou construída sobre fake news. Depois que a bolha está consolidada, é difícil furá-la.

Já a mudança nas leis eleitorais é um caso curioso. Quando o legislador modificou a estrutura da campanha e fez com que ela se tornasse mais curta, tinha como objetivo diminuir seus custos. Um processo de campanha que, antes, durava três meses, passou a ser feito em 45 dias oficiais.

A questão é que o número de eleitores a serem impactados não diminuiu, continuou o mesmo. Se, antes, cada candidato tinha três meses para alcançar 100 mil eleitores, agora tem 45 dias.

Tem que ser mais rápido. Ao invés de economizar, isso tornou as campanhas mais caras.

Como ninguém gosta de gastar, a solução foi diluir a busca pelo voto. A pré-eleição passou a se estender pelos quatro anos que antecedem cada pleito. Acaba um e começa outro. Não admira se, hoje, em 2021, já houver negociações sobre 2024 e 2028.

Neste ano, há, ainda, outro fator que está sendo considerado e complicou tudo: as federações. As coligações disfarçadas estão empurrando decisões importantes para o ano que vem e obrigando a ignorar a urgência dos palanques.

Se, em Pernambuco, parece que oposição e PSB estão com estratégias diferentes, a estratégia, na verdade é igual e, este é o ponto em que quero chegar.

O PSB está prestes a fechar uma federação com o PCdoB e com o PT. Já o PSDB conversava com o Cidadania e com o PV para uma federação, embora a escolha de João Dória tenha atrapalhado tudo.

Todo mundo precisa definir e não pode definir nada ainda. A necessidade de votos empurra e o contexto político puxa.

O prazo para firmar as federações é o início de abril de 2022. Enquanto nada se resolve, tanto o PSB quanto a oposição resolveram pegar a estrada e tentar fortalecer as bases.

Raquel e Anderson fazem isso a partir do Levanta Pernambuco. Os socialistas estão circulando pelos municípios usando o programa Retomada.

Ambos os grupos levam seus possíveis candidatos e vão apresentando ao público enquanto se reúnem com prefeitos.

Não querem perder tempo e não querem se antecipar demais.

Parece que estão em caminhos diferentes, mas estão percorrendo exatamente as mesmas estradas esburacadas. Ninguém quer ficar parado, mas ninguém quer arriscar.

Parece uma disputa pelo empate. E talvez seja.

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