Cena Política

Bolsonaro constrange embaixadores. São hóspedes obrigados a se envolver em briga doméstica

Reunião está marcada para esta segunda-feira (18).

Igor Maciel
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Igor Maciel
Publicado em 18/07/2022 às 11:34
MARCOS CORREA/PR
Bolsonaro já tinha anunciado que convocaria os embaixadores para tentar convencê-los de suas teses sobre as urnas - FOTO: MARCOS CORREA/PR
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Muitas vezes, ser hóspede é tão ingrato quanto ser hospedeiro.

Ser embaixador no Brasil, inclusive, deve ser um dos piores trabalhos quando se trata de constrangimento.

Por exemplo, hoje, quarenta embaixadores foram chamados para uma reunião com Bolsonaro.

Ele quer dar gás na própria campanha eleitoral, colocando os representantes de dezenas de países para ouvir as acusações de sempre contra as urnas, o TSE e os ministros da Suprema Corte.

A esperança é que eles saiam de lá dando razão a Bolsonaro. Algo difícil.

Mas, o objetivo é criar um fato político internacional. Acontece que, por ética, os embaixadores não podem comentar o conteúdo da reunião publicamente. E, muito menos, irão chamar o presidente que os recebe no país de mentiroso.

Bolsonaro vai dizer que apresentou provas de fraude nas eleições, os embaixadores não poderão rebater. Ele vai dizer que muitos concordaram com ele. E os embaixadores não poderão comentar.

E, assim, o presidente fala para sua bolha novamente e reforça a manifestação que pretende fazer no dia 7 de setembro.

Imagine que você é convidado para passar o fim de semana na casa de alguém e, no meio da tarde de um sábado, o dono da casa lhe põe sentado no sofá para fazer reclamações sobre a própria esposa e esperar que você endosse as críticas. Isso enquanto você dorme e come debaixo do teto dele. Qualquer pessoa normal arrumaria as malas e voltaria para casa.

O problema é que os embaixadores estão aqui a trabalho, em missão por seus países. Voltar como?

No Itamaraty há um desconforto imenso com a reunião que acontece nesta segunda-feira (18), mas ninguém pode falar nada.

Uma fonte da coluna que trabalha no ministério das Relações Exteriores, relata que o assunto virou uma preocupação porque pode ser apenas o início de um problema.

Estima-se que essa eleição brasileira seja a que mais será acompanhada de perto por órgãos internacionais desde 1989.

“Nunca uma eleição brasileira interessou tanto aos outros países, por causa das dificuldades que o presidente criou nas relações com outras nações”, explica essa fonte.

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