Raquel Lyra (PSDB) optou pelo varejo. No fim do ano passado, logo após a Assembleia Legislativa ter aprovado medidas solicitadas pela governadora que ainda iria assumir, a coluna adiantou que ela não iria negociar com os partidos, do jeito que todo mundo estava acostumado, no atacado.
Ao invés disso, a tucana negociaria espaços no governo usando o varejo, conversando com cada deputado, ouvindo suas dores e buscando saná-las da maneira mais republicana possível.
Foi assim no fim de 2022, foi assim na eleição da Mesa Diretora e na escolha do comando das Comissões. Está sendo assim agora, na formação da base aliada e na negociação pelos cargos de segundo e terceiro escalão.
O varejo tem suas vantagens, A principal delas é poder articular dentro da realidade de cada deputado, sem ficar sujeito à pressão de um grupo partidário. É bom para o deputado, que é ouvido diretamente e é bom para o governo, que não precisa ficar “refém” de um “dono de partido”, com interesses que nem sempre são os da bancada.
O problema de ficar nesse varejo de articulação política é que a energia gasta para conter rebeldias na base aliada é multiplicada.
Quando as negociações com a base são feitas no atacado, a lealdade do partido sufoca a maior parte dos individualismos.
Na escolha dos presidentes de Comissão, há alguns dias, aconteceu isso. O que já estava resolvido precisou ser “resolvido de novo”, às custas de uma suposta manobra, com direito a deputado sendo acusado de sair da sala para evitar votação que poderia terminar em derrota para Raquel.
Outro problema é que, com negociações feitas individualmente, as coisas ficam pessoais demais e as insatisfações também. É sempre mais difícil recuperar um apoio pessoal do que um partidário, com interesses coletivos.
O varejo pode até dar certo, é uma forma válida de manter a base a aliada, mas dá muito trabalho, sem dúvida.
Só em 2016, o TCU se pronunciou e definiu que apenas presentes de “natureza personalíssima” e de uso imediato, como perfumes, poderiam ser recebidos pelos presidentes. Era um tema antigo que gerava discórdia.
Como ninguém tinha certeza de nada até aquele ano, o ex-presidente Lula (PT) mantinha os presentes que havia recebido em seus dois primeiros mandatos num cofre, no Banco do Brasil.
Após a decisão do TCU, um juiz mandou confiscar tudo e incorporar os presentes do petista ao acervo da União.
Esse juiz era Sergio Moro (UB), hoje senador pelo Paraná.
Havia espadas, adagas e pesos de papel, nenhuma joia de R$ 16,5 milhões, mas a apreensão causou estardalhaço, como mais uma ação moralizadora executada por Moro, dentro do que se esperava dele.
Esta semana, a imprensa procurou o senador Moro para que ele dissesse o que acha do caso dos diamantes milionários que Michelle Bolsonaro teria recebido e que funcionários da gestão do marido dela, seu aliado, tentaram contrabandear.
Ele não deu nem uma palavra.
Esse caso das joias é um problema que vai marcar a ex-primeira-dama, independente de ficar provado que ela teve má intenção ou não.
Michelle vinha sendo preparada pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto, para ser candidata em 2026.
A apuração do caso, que já une Receita Federal e Polícia Federal na investigação, tem substância. Há vídeos, com boa resolução e áudios bem claros, com um ministro de Bolsonaro tentando liberar as joias e afirmando que está lá a mando do então presidente.
Há registros de um voo em avião da FAB classificado como em “missão para o presidente da República”, no dia 29 de dezembro de 2022, em que um militar viajou para tentar, uma última vez, retirar os diamantes que teriam entrado no Brasil de forma irregular.
Depois que o barulho passar, mesmo se Michelle não for juridicamente implicada, Valdemar terá que buscar outro nome para 2026.