O petismo pernicioso à espreita da nova regra fiscal criada por Fernando Haddad

Confira a coluna Cena Política deste domingo (19)
Igor Maciel
Publicado em 19/03/2023 às 0:01
Gleisi e Haddad Foto: Divulgação


Esta semana, Fernando Haddad, aquele ministro da Fazenda do PT, deve apresentar a proposta de nova regra fiscal para tentar dar ao Brasil a ideia de que o governo Lula (PT) é algo carregado de um mínimo de responsabilidade com o dinheiro do contribuinte.

A âncora fiscal, que Haddad chama de “arcabouço” (uma palavra horrível, por sinal), vai substituir o antigo e vilipendiado “Teto de Gastos” (esta, uma expressão mais bonita e responsável).

Mas, tem um aspecto do noticiário dos últimos dias que assusta mais do que a semântica. Chamar Haddad de “aquele ministro da Fazenda do PT” no início deste texto não foi por acaso. É para que você perceba a ironia quando eu citar de quem ele está escondendo o texto com a nova regra fiscal: sim, dos outros petistas.

O ministro, primeiro, conversou com a colega Simone Tebet, do MDB, que é ministra do Planejamento. Depois, procurou o vice-presidente Geraldo Alckmin, do PSB, que é vice-presidente e ministro. Em seguida, procurou o presidente Lula (PT) e mostrou a ele o que estava preparando.

Em todo esse percurso, a maior preocupação era que o restante do PT não descobrisse do que se tratava. Uma pessoa era a que mais preocupava: Gleisi Hoffmann (PT). O clima indica que, se ela souber, vai fazer de tudo para atrapalhar.

Não estamos falando de um ministro de partido fisiológico, agregado ao governo por amor às verbas, tirando um projeto das axilas, para tentar alguma promoção pessoal e sendo perseguido pela presidente nacional petista.

É o principal ministro da gestão petista, do PT, preocupado que o próprio PT descubra o que ele pretende fazer para equilibrar um dos setores mais sensíveis e debilitados da Economia.

É difícil esperar uma grande revolução nascendo da mesa de Haddad, por isso, perdoe a comparação, mas isso lembra muito a revolução que a economia brasileira viveu quando FHC e equipe criaram o Plano Real.

Então ministro da Fazenda, Fernando Henrique (PSDB) passou meses escondendo o projeto do próprio presidente, Itamar Franco, para que ele não o estragasse.

O problema é que, naquela época, o medo era de que Itamar atrapalhasse tudo por imprudência, dando alguma entrevista ou comentando algo com alguém. Agora, a petista Gleisi virou o problema do próprio governo petista não por imprudência, mas por ambição irresponsável.

Itamar era um perigo inocente e Gleisi é um risco pernicioso.

O princípio do sanduiche

Um sanduíche, para ser possível, precisa de algum recheio que o legitime. Fora isso, o sentido de dois pães unidos sem nada que os sustente depende da fome.

As federações partidárias são sanduíches, duplos, triplos ou com múltiplos pães. Mas seguem esse princípio: fome ou recheio.

A federação que hoje dá sustentação ao PT tem um recheio poderoso chamado Lula (PT) e a expectativa de poder que havia em torno do petista em 2022 quando o grupo foi chancelado no TSE. A Federação Brasil da Esperança, como é chamada, uniu PT, PCdoB e PV. Uniu também a fome e o recheio, necessidade e perspectiva.

É interessante, nesse caso, o PSB não estar junto, apesar de ter a mesma linha ideológica. É que, em 2022, o PSB era um faminto orgulhoso. Só depois de terem perdido muitas cadeiras no Congresso, os socialistas se renderam ao instituto da “Federação” e negociam algo com PDT e Solidariedade. Fome, necessidade. São três partidos que tinham bons quadros e tiveram um choque de realidade com péssimos resultados nas urnas.

Todas as outras federações no Brasil, até agora, são por necessidade. PSDB/Cidadania e Rede/PSOL representam ações de sobrevivência. São abraços de afogados, tentando resistir.

A verdade é que os últimos resultados eleitorais deveriam ter feito com que alguns desses partidos desaparecessem ou buscassem uma fusão. Como ambas as possibilidades implicariam extinção de nomes, cargos e histórias, inventaram as federações.

A federação entre União Brasil e PP, que chegou a ter nome (União Progressista) era a única, fora a do PT, que tinha o recheio esperado em um sanduiche desse tipo, de expectativa de poder. O grupo teria mais de 100 deputados e prefeituras para vender, alugar ou distribuir pelo Brasil. Teria força para impor ao governo Lula uma agenda inescapável.

E por que não deu certo? É que existe uma outra questão nos sanduíches: os pães precisam estar inteiros para segurar o recheio.

O União Brasil e o PP são uma bagunça dentro de suas próprias caixinhas. Não daria certo, nem amarrando a iguaria com barbante.

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