Lula (PT) vem a Pernambuco amanhã e vai almoçar com Raquel Lyra (PSDB) no Palácio do Campo das Princesas. Houve quem questionasse, no PT, a necessidade de o presidente se deslocar para o Palácio e, ainda por cima, para almoçar com a governadora que, consideram, foi eleita com apoio do bolsonarismo no estado.
A resposta de Lula: “até aqui ela foi muito correta conosco e não há qualquer motivo para deixar de aceitar o convite para um almoço no Palácio”.
A expectativa é que o presidente e a governadora acertem detalhes sobre Fernando de Noronha. Ideia é dividir responsabilidades na administração da Ilha principal. O território continua sendo pernambucano, mas as responsabilidades serão melhor compartilhadas.
Curioso é que essa resolução poderia ter sido encaminhada bem antes, quando Bolsonaro (PL) era presidente e Paulo Câmara era governador. Não foi porque os socialistas, no poder, costumavam reagir a tudo de forma negativa se a origem fosse a gestão bolsonarista, mesmo antes de raciocinar sobre os benefícios.
O contrato que o STF cancelou agora (sem que a esquerda desse um pio), e possibilitou o novo acordo entre Raquel e Lula, é o mesmo que Bolsonaro tentou cancelar há alguns meses e foi, na época, acusado de estar “roubando Noronha dos pernambucanos”.
Acontece.
Depois da visita a Pernambuco, o presidente Lula viaja à China, no domingo (26). No voo, com ele, deve embarcar uma comitiva que inclui o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP).
Durante a longa viagem, um dos assuntos que o petista quer tratar com o poderoso líder parlamentar diz respeito a um pernambucano: Mendonça Filho (UB).
O ex-ministro da Educação ia lançar a própria candidatura à presidência, concorrendo com Lira em fevereiro.
Por um acordo feito com o União Brasil, durante a eleição da Mesa Diretora, foi prometida a Mendonça a relatoria do projeto que deve instituir o substituto do “Teto de Gastos”, a nova regra fiscal que está sendo preparada pelo governo para ser apresentada na Casa.
Prestes a divulgar o texto, agora, o PT começou a reclamar de Mendonça. Dizem que ele “radicalizou” como oposição e que iria ser crítico ao texto.
A verdade é que os petistas não querem limites para gastos e, por isso, estão brigando até com o próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT). Ter alguém que vai analisar a proposta com olhar técnico e o conhecido viés liberal de Mendonça é mau negócio para figuras como Gleisi Hoffmann (PT).
Por isso, Lula deve aproveitar os momentos a sós numa viagem de mais de 20h para tentar convencer Lira a não cumprir o acordo feito com o deputado pernambucano, evitando Mendonça na relatoria do projeto.
Mais uma vez: acontece.
Já há quem brinque que se o Governo Federal continuar relançando programas que fizeram parte das gestões petistas anteriores, vai acabar sendo necessário renomear José Dirceu ministro outra vez.
Falando sério, agora: na falta de algo inovador de verdade, ao menos o que é antigo está sendo reformulado. É o caso do novo Mais Médicos, anunciado esta semana.
O foco, dessa vez, não serão os profissionais de Cuba como aconteceu em 2013. A prioridade do governo Lula será para médicos brasileiros, principalmente os que aceitarem atuar no interior do país. Os cubanos não terão espaço.
A parceria com o governo de Cuba foi o principal ponto de insatisfação dos médicos brasileiros com os petistas na época de Dilma Rousseff (PT) e isso fez com que a classe médica embarcasse no bolsonarismo com a mão no peito e cantando o Hino Nacional. O plano é tentar reaproximar.
As recentes nomeações de Raquel Lyra para o Detran e para a secretaria-executiva de Justiça, trazendo para o governo personagens ligados a Anderson Ferreira (PL), fazem parte de uma estratégia maior e natural numa gestão, que passa por governabilidade no presente e olho na eleição de 2024.
O movimento criou uma certa ciumeira em outros aliados, mas a principal implicação, por enquanto, é dentro do próprio PL de Pernambuco, que está rachado.
O comentário é que Anderson e os bolsonaristas mais fiéis não estão se entendendo.
Com um detalhe: os bolsonaristas nem têm esperança de assumir o comando do partido no estado porque a relação do ex-prefeito de Jaboatão com Valdemar Costa Neto é muito sólida.
A propósito das últimas nomeações no Governo do Estado, o publicitário Marcelo Teixeira lembra um fato curioso: em 1959 o avô de Raquel, João Lyra Filho, teve como secretário de agricultura, na Prefeitura de Caruaru, Raimundo Ferreira da Silva, que vem a ser avô de Carlos Ferreira, o novo diretor do Detran.