Ninguém se livra do passado se não conseguir, antes de tudo, aceitá-lo
Confira a coluna Cena Política desta sexta-feira (19)
Lula não precisava voltar ao canteiro de obras da Refinaria Abreu e Lima. Entenda: a retomada é importantíssima e não se pode negar isso.
No próprio Jornal do Commercio, há uma reportagem de Adriana Guarda mostrando o impacto econômico da obra. Não é pouca coisa. A Petrobras está buscando ao menos parte dos 50 mil funcionários que já trabalharam no empreendimento. Deve contratar 10 mil pessoas de forma direta e gerar outras 30 mil vagas indiretamente.
O que não precisava era de evento grandioso, não precisava de festa ou de palanque para isso. O anúncio podia ser mais discreto. A impressão é que há dificuldade do PT para seguir em frente e admitir erros e tudo que já foi alvo de investigação precisa ser "celebrado com pompa".
Prejuízo
O presidente da República poderia ter evitado as referências negativas que surgem naturalmente, por ser a Refinaria Abreu e Lima um exemplo muito claro da corrupção que houve na Petrobras nos últimos anos, como lembrou Fernando Castilho neste mesmo JC, ontem.
É lá na Refinaria que os contratos foram sendo esticados, atrasados e manipulados até o custo da instalação sair dos 2,5 bilhões de dólares iniciais e passar para 18 bilhões de dólares.
Sabe-se muito bem que parte desse dinheiro virou propina.
Corrupção
Ex-diretores da estatal admitiram que roubaram a empresa, dinheiro nunca explicado foi encontrado com eles.
Lula não é culpado, nunca foi acusado disso, mas é levado a agir numa intenção petista de desforra que acaba reavivando um período que o Brasil gostaria de não reviver, embora não deva ser esquecido.
E daí vem o “grande evento” para reforçar a tese petista de que tudo foi um “grande golpe”, tudo inventado (apesar das confissões e do dinheiro devolvido).
A retomada da Refinaria, algo tão importante, vira uma “resposta” à Operação Lava Jato.
Virar a página
A maneira correta de lidar com eventos traumáticos é admiti-los, entendê-los e cuidar para que não se repitam. Não se pode jogar debaixo do tapete e, muito menos, fingir que eles não aconteceram e nem criar fantasias.
O problema do PT, desde o Mensalão, passando pelo Petrolão, é que os petistas são os primeiros a não conseguir virar a página e muito menos admitir qualquer coisa.
Ninguém consegue aprender com erros quando quer que o mundo acredite na teoria de que os erros nunca aconteceram.
Para frente
Aliás, seria possível deixar muitas críticas do passado no passado se Lula se empenhasse, também, em deixar o passado de lado.
É difícil esquecer a corrupção, quando os petistas estão todos os dias preocupados em reescrever a história com seus pincéis. É difícil esquecer os malfeitos quando o PT, vez por outra, tenta reabilitar José Dirceu (PT). É difícil esquecer a incompetência quando se tenta a todo custo arranjar um espaço para o ex-ministro da Fazenda de Dilma Rousseff (PT), Guido Mantega, na Vale do Rio Doce. Só para citar alguns exemplos.
Equívoco
O Brasil elegeu democraticamente um presidente petista depois de tudo o que aconteceu nas gestões passadas e isso deve ser respeitado.
Mas o Brasil não elegeu Lula para que ele se vingasse ou para que reescrevesse a História. Pensar isso é o equívoco do grupo que ocupa o Planalto hoje.
Há quem acredite que Lula foi eleito porque os brasileiros não acreditam na corrupção do PT. Isso não é verdade. É só olhar pesquisas sobre o assunto. Não há a ideia de um “Lula santo”, como alguns defendem no PT, mesmo entre quem votou nele e ajudou a elegê-lo.
Motorista
Lula foi eleito para conduzir o país em direção ao futuro porque a outra opção, a anterior, tinha se mostrado um completo desastre no exercício básico das noções de chefia de um Estado.
Comparando com um ônibus, o brasileiro resolveu que era melhor um motorista que sabe conduzir o coletivo, mesmo estando cheio de pontos na carteira, do que um que não sabia diferenciar o freio do acelerador e colocava todo mundo em risco.
Mas a eleição não absolveu o PT, e nem o próprio Lula. Não apagou o passado.
Simples
Se quiser ter sucesso, o presidente só precisa entregar um país melhor do que recebeu. Fazer o ônibus chegar à estação.
De resto, se os petistas tiverem a honestidade de admitir erros e virar a página, em algum momento os brasileiros também vão conseguir fazer o mesmo.