Cena Política

Refinaria Abreu e Lima: um texto essencial, mas com os mesmos atores de duvidosos

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Igor Maciel

Publicado em 23/03/2024 às 20:00
Análise
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A jornalista e escritora Malu Gaspar, em seu livro “A Organização - A Odebrecht e o escândalo de corrupção que chocou o mundo”, relata os bastidores da empresa, do final do governo Fernando Henrique (PSDB) até a crise gerada pela operação Lava Jato, passando pelos governos Lula (PT) e Dilma (PT).

É uma obra imprescindível para entender as relações entre os governos petistas, com o presidente Lula no centro de tudo.

Todo mundo que, em algum momento, pensar em reclamar das investigações anticorrupção, porque “maltrataram” as empresas e “atrapalharam o desenvolvimento do Brasil provocando desemprego”, deveria ser obrigado por dever moral a ler a obra.

Amizade lucrativa

Há um relato, por exemplo, sobre a gênese e o fortalecimento da Braskem, braço petroquímico da Odebrecht (que hoje se chama Novonor) que é muito elucidativo sobre o jeito Lula de governar usando estatais para atender a interesses privados.

Gaspar conta o episódio em que, já usando a influência de Lula sobre os fundos de pensão da Petrobras, antes mesmo de o petista assumir como presidente pela primeira vez, a Odebrecht garantiu sua posição de líder no mercado petroquímico, sempre com muita influência política e propinas sistemáticas como base.

Para quem não lembra, a Braskem é a mesma que hoje está envolvida no afundamento de um bairro inteiro em Maceió também.

PRC

Depois, já no início do governo Lula 1, o livro relata como foi a queda de um diretor da Petrobras que não estava aceitando negociar com a Odebrecht, numa operação que envolveu o ex-deputado José Janene, do PP, e colocou em evidência um novo personagem da época, hoje bastante conhecido por causa da operação Lava Jato: Paulo Roberto Costa (PRC, como era conhecido por alguns).

Refinaria

O tema vem à tona novamente após a notícia de que o TCU já demonstra preocupação com a retomada dos investimentos do governo petista na Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. O anúncio foi feito por Lula há algumas semanas.

A expectativa é que as obras, que foram paralisadas em 2015, sejam retomadas ainda no segundo semestre deste ano. A refinaria deve receber cerca de R$ 8 bilhões em novos investimentos, já incluídos no novo PAC.

Razões, muitas razões

E por qual motivo o Tribunal de Contas da União anda tão preocupado dizendo que vai fiscalizar tudo de perto? Razões não faltam.

Uma delas é que as novas obras ficarão a cargo de duas empresas: Andrade Gutierrez e, não sem surpresa, Odebrecht (já com seu novo nome, Novonor). É de se preocupar mesmo.

Na construção, iniciada em 2005, o empreendimento foi tocado pelas empreiteiras Odebrecht, OAS, Camargo Corrêa e Queiroz Galvão.

De acordo com confissões feitas em depoimento por ex-executivos da Odebrecht, as obras teriam rendido cerca de R$ 90 milhões em propinas direcionadas ao PP, PT e PSB.

Propinas

O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa (olha ele) foi condenado a sete anos e meio de prisão por organização criminosa e lavagem de dinheiro desviado das obras de Pernambuco. Segundo Malu Gaspar, ele recebeu diretamente R$ 15 milhões só da Odebrecht, na época, para garantir a empresa no empreendimento.

Encarece tudo

O resultado de tanta propina sendo paga é que o serviço fica mais caro. As propinas entram no custo das construtoras que, como compensação, exigem aditivos aos contratos, cada vez mais caros.

O empreendimento de Abreu e Lima é um exemplo bem claro desse sistema que acaba torrando o dinheiro do contribuinte. O TCU, em relatório, diz que o custo da refinaria pernambucana aumentou mais de oito vezes, de US$ 2,4 bilhões para US$ 20,1 bilhões.

Adivinhe quem pagou por isso.

É necessário

Num país em que a carga tributária é excessiva, como no Brasil, é impossível pensar em desenvolvimento arrojado sem investimento público. É inegável a necessidade de geração de empregos.

Somente essa ampliação da Refinaria Abreu e Lima deve garantir, durante as obras, a criação de novos 30 mil postos de trabalho. Depois que for finalizada, a operação deve crescer também e gerar mais empregos.

Boom econômico

A ampliação é necessária, precisava ser feita há muito tempo (e talvez tivesse sido, não fossem os desvios e sobrepreços). O Brasil vai se aproximar mais de uma independência no refino de petróleo e deve aumentar de 100 mil para 260 mil barris por dia.

Não há o que falar de ruim sobre a importância da Refinaria Abreu e Lima para a economia de Pernambuco e do Brasil. O que foi anunciado, precisa ser realizado e vai trazer benefícios, sim.

Texto bom, atores duvidosos

Mas, como se diria de uma peça clássica encenada por um grupo de teatro de baixa categoria, o texto é maravilhoso, o teatro é estupendo, homens e mulheres na platéia precisam disso para suas vidas. O problema são os atores, diretores e até o pessoal da maquiagem. Até mesmo os flanelinhas que guardam os carros do público nas ruas são os mesmos dos fiascos anteriores.

É com isso que o TCU anda preocupado, e com toda razão.

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