O sonho que não passar por 2024 com muito cuidado, pode não chegar em 2026
Confira a coluna Cena Política desta sexta-feira (23)
Os caminhos que levam a vontade até a realização são longos e precisam ser percorridos com muito trabalho, dedicação, inteligência e uma boa pitada de sorte. Em Pernambuco já se discute com muito empenho a eleição de 2026, como se não houvesse um pleito em 2024.
Essa antecipação pode ser prejudicial porque a pressa excessiva faz a gente errar o caminho com muita facilidade e acabar perdido. Quem não souber jogar 2024 pode acabar tendo as vontades inviabilizadas depois.
Abaixo, algumas reflexões sobre a importância do pleito de 2024, mesmo para quem não consegue esquecer 2026.
João
O atual prefeito do Recife, Joao Campos (PSB), ainda tem uma campanha de reeleição para enfrentar. Caso estivesse destinado a se dedicar apenas a esta disputa, o caminho poderia ser mais simples. Com algo em torno de 70% de intenções de voto, hoje, é difícil enxergar grandes dificuldades.
O problema é que ele já está pensando em ser candidato a governador em 2026. Começar uma campanha com todo mundo já sabendo que você não pretende ficar até o fim do mandato é um risco por si só.
Acirramento
Por mais que pareça conversa de “gente ultrapassada” dizer que não se pode colocar o carro na frente dos bois, existem vários motivos para essa preocupação.
Antecipar eleições acaba ampliando a concorrência. Ao invés de lutar apenas contra aqueles que querem a sua cadeira atual, os que pretendem disputar o governo, quem pretende se candidatar ao Senado e até gente que nem é candidato em 2024 começa a acreditar que precisa começar a questionar e criticar mais cedo.
Quando você pula etapas, convida os adversários a fazerem o mesmo.
Batalha
Imagine uma batalha, dentro de uma guerra, na qual você tem várias linhas de defesa para penetrar. Ao invés de enfrentar uma de cada vez e ir avançando na medida de cada conquista, você acelera o passo, ultrapassa a primeira trincheira antes de anular o inimigo naquele trecho e todas as linhas se juntam contra você, ao mesmo tempo. O apressado vai acabar cercado e rendido.
E o PSB
Se ainda assim João Campos insistir em ser candidato a governador, apesar de não ter sido reeleito ainda, a eleição de 2024 será um divisor de águas para o PSB dizer se ainda tem grande força estadual ou se ela vai ficar resumida à capital.
Em 2016, o PSB chegou a fazer 68 prefeituras e, ao longo dos quatro anos seguintes, filiou mais dois. Chegou em 2020 com 70 prefeituras, mas encolheu na campanha e terminou a eleição com 58 prefeitos.
Na época, é bom lembrar, o PSB ocupava o Palácio do Campo das Princesas e podia influenciar nas disputas. Isso já não existe mais.
Se João resolver ser candidato a governador em 2026, será com um partido que pode ter encolhido ainda mais em 2024. É preciso ficar atento.
Republicanos
Silvio Costa Filho (Republicanos) quer ser candidato ao Senado em 2026. O ministro dos Portos e Aeroportos não é o presidente estadual do partido, atualmente, mas é quem manda na sigla em Pernambuco. Hoje, é aliado de João Campos e conta com a candidatura dele ao governo. O Republicanos fez 12 prefeituras em 2020 e deve crescer em 2024.
Recentemente, filiou dois prefeitos ligados ao deputado Álvaro Porto (PSDB) que vão para a reeleição e outros oito nomes de pré-candidatos que pretendem disputar prefeituras.
Costa Filho precisa ampliar muito seu alcance nas prefeituras para ter o que oferecer a João em 2026 e se viabilizar. É outro cujo resultado em 2024 pode aproximar ou enterrar o sonho.
Disputando espaço com ele nessa possível chapa de João Campos podem estar Miguel Coelho e Humberto Costa.
Raquel
A governadora Raquel Lyra (PSDB) pretende buscar a reeleição e está fazendo a movimentação correta para o momento, preocupada com a eleição de 2024. Há expectativa de filiação de muitos prefeitos ao partido dela e todos vão tentar a reeleição com o apoio do Palácio.
Essa base, que ela não tinha em 2022, será essencial tanto para equilibrar a relação com a Assembleia Legislativa quanto para lhe garantir um palanque abrangente em 2026 quando for tentar ser reeleita.
Prefeituras precisam muito de ajuda do Estado e da União para pagar as contas. A tendência é de aproximação, sempre. Raquel não está deixando de receber ninguém.
PSD
O PSD é um partido a ser muito bem observado nas eleições deste ano. André de Paula, presidente estadual da sigla e ministro do governo Lula, tem como meta ser candidato ao Senado mais uma vez. E, agora, quer fazer isso com o apoio do Palácio. O PSD é aliado de Raquel e, dizem, no futuro pode vir a ser o partido de Raquel Lyra, caso ela saia do PSDB.
Uma movimentação observada nas últimas semanas é que os prefeitos interessados em passar para a base do governo estão sendo orientados, quando não quiserem ir para o ninho tucano, a procurarem André de Paula.
O PSD é a opção do prefeito de Caruaru, Rodrigo Pinheiro, por exemplo, que não pretende seguir no PSDB.