Uma gestão que estaria no "rumo correto" se não fosse o atraso de 10 anos
Confira a coluna Cena Política desta quarta-feira (13)
Existe uma desconexão flagrante entre o terceiro governo Lula (PT) e a evolução dos anos desde que o segundo governo Lula terminou. O petista parece estar fazendo a gestão certa, adequada e precisa para 2014, não para 2024. Um ex-parlamentar contou, certa vez, que Lula lhe confidenciou durante a eleição de 2014 que estava irritado com a teimosia de Dilma Rousseff (PT). O problema era que a presidente, na época, insistia em tentar a reeleição, quando ele próprio queria ser candidato. Queria o terceiro mandato logo ali. E, talvez, teria dado certo.
Se assim tivesse sido
Uma vez eleito em 2014, Lula poderia indicar Guido Mantega para a presidência da Vale e a repercussão negativa seria mínima. Ninguém estaria muito preocupado com déficit fiscal, além de alguns economistas mais chatinhos. Nem Fernando Haddad perturbaria o presidente querendo cortar gastos, porque o atual ministro da Fazenda era prefeito de São Paulo e não estava preocupado com as contas da União. Tivesse sido candidato em 2014, Lula teria sido eleito sem nenhuma dificuldade, e governaria com a habitual parcimônia do Congresso, porque sabia fazer política como Dilma não tinha a mínima ideia.
Tranquilo
Na época não tinha centrão independente, vivendo dos bilhões das emendas de relator, nem ameaçando o governo dia sim e dia também. Nas vésperas do impeachment de Dilma, quando Lula acampou em Brasília para tentar reverter a situação, ouviu de um deputado federal aliado de muitos anos a seguinte frase: “perdão, presidente, se fosse o senhor no Palácio, isso nem estaria acontecendo. Mas até eu vou votar contra ela”.
Pode interferir
Se tivesse sido eleito em 2014, Lula poderia interferir na Petrobras e todo mundo veria isso como um “direito de quem manda”. Poderia gastar todo o dinheiro dos cofres e, por causa dos resultados anteriores, todo mundo acreditaria que o caminho estava correto. Poderia mandar baixar os juros no Banco Central e o Banco Central baixaria imediatamente, porque não havia qualquer tipo de autonomia.
Derrubaria
Em 2014, Lula poderia anular reformas do Ensino Médio e ninguém teria força para dizer que ele estava sendo estúpido. Ninguém nem faria pesquisa para mostrar que 65% dos estudantes querem a reforma, como aconteceu esta semana, ao contrário de tudo que os petistas têm dito como se soubessem do que falam.
Anos 1970
Se tivesse sido eleito em 2014, Lula teria visto, como presidente, a chegada dos transportes por aplicativo naquele mesmo ano e, talvez, pudesse entender como funcionam essas plataformas e encontrar formas de valorizar esses trabalhadores sem querer obrigá-los a entrar em sindicatos com formatação criada entre os metalúrgicos do ABC nos anos 1970.
Mas…
O problema é que Lula não foi eleito em 2014. E o mundo mudou completamente, o Brasil mudou completamente de 2014 para cá. Em 10 anos tivemos um avanço em inovações, em governança e na mentalidade econômica e social do brasileiro sem precedentes em décadas anteriores. Mas Lula e o PT parecem completamente perdidos num outro calendário. Chegaram a 2024 demonstrando uma desconexão tão ampla com a realidade que quase parece um caso digno de terapia.
Receita
Depois desses últimos dias, é válido dizer que o PT e Lula precisam consultar três profissionais essenciais para este terceiro governo: um historiador intelectualmente honesto, um especialista em geopolítica sem partido e um bom psicólogo. É urgente.
Socos e pontapés
O Desunião Brasil, partido resultante da junção de socos e pontapés entre integrantes dos antigos DEM e PSL, conseguiu oferecer um espetáculo ainda mais desastroso do que o dos últimos anos. O incêndio ocorrido em propriedade do atual presidente eleito do partido, Antônio Rueda, se foi mesmo um ato criminoso, precisa ter apuração da polícia de Pernambuco e apresentar resultados o mais rápido possível.
Representa quem?
Não apenas o incêndio, mas toda a briga envolvendo o deputado federal Luciano Bivar (UB) e os outros integrantes da sigla, são exemplos inequívocos de que a relação da sociedade com os partidos políticos extrapolou os limites da representação democrática e isso faz muito mal ao país.
Dinheiro
Os partidos dividem fundos públicos para manutenção e para realização de campanhas que, em anos eleitorais como em 2024, podem alcançar algo perto de R$ 7 bilhões. Nos partidos, hoje, ninguém está brigando para ter mais força dentro da democracia ou para ser representante da população. O que todo mundo quer é o dinheiro gordo que o TSE distribui.
Aplaudida
A prefeita de Bezerros, Lucielle Laurentino (UB), foi muito aplaudida durante discurso em Brasília, num evento em que representou os gestores municipais de Pernambuco durante o lançamento de 100 novos Institutos Federais em todo o país. Ela estava acompanhada da governadora Raquel Lyra (PSDB). O estado foi contemplado com seis novas unidades dessas escolas técnicas e uma delas será implantada em Bezerros.
Estrada
Lucielle tem uma trajetória de muita luta dentro da educação, filha de pais analfabetos, com 19 irmãos, trabalhou no campo e começou a estudar numa escola pública local. Hoje é professora e mestre em engenharia florestal e prefeita da cidade. No final do discurso, Lucielle foi abraçada pelo presidente Lula e pelo ministro da Educação, que participavam do evento.
Ainda estudante
Não é a primeira vez que Lucielle faz discurso em Brasília para presidentes da República. Em evento sobre o Ensino Médio, ela também discursou e foi bastante aplaudida pelo então presidente Michel Temer (MDB). O discurso foi em 2017. Na época, Lucielle ainda nem era prefeita e foi apresentada ao público como estudante.