As faixas salariais da PM e a estranha prática parlamentar do atrapalhamento
Confira os destaques da coluna Cena Política desta quarta-feira (8)
Quem acompanhou a votação do projeto que extingue as famigeradas faixas salariais dos policiais militares apenas pelo número de votos deve ter ficado confuso.
Barulhenta, a oposição formada principalmente por deputados do PSB em parceria oportuna com o PL bolsonarista atrasou a votação o quanto podia, atrapalhou de todas as formas possíveis, tentou substituir o texto enviado pelo Palácio e ainda trabalhou para modificar o projeto já em plenário.
Contra, mas a favor
Eram parlamentares convictos de que estavam certos, ao ponto de fazer com que a tramitação prevista para durar no máximo 45 dias, por ter entrado em regime de urgência, acabasse durando mais de dois meses.
Os socialistas e os bolsonaristas, curiosamente unidos no legislativo pernambucano, empenhados como estavam, poderiam ter dado ao menos 16 votos contra o projeto. E não deram nenhum.
O que aconteceu? De repente passaram a concordar com o Palácio?
Era blefe?
Aconteceu aquilo que a coluna antecipou algumas vezes aqui: o projeto era necessário, aumenta o salário dos policiais, faz justiça com o trabalho das forças de segurança, respeitando a hierarquia interna de cada corporação.
Os deputados poderiam até reclamar e dizer que o texto não era o que eles queriam, mas como iriam assumir a responsabilidade por votar contra e deixar os policiais sem reajuste e ainda amarrados às faixas salariais tão injustas? Ficou parecendo um blefe.
E, se foi, é uma pena que parlamentares de um estado tão importante e tão cheio de obstáculos para atravessar todos os dias percam tempo com esses joguinhos.
Para atrapalhar
Se eles não iriam votar contra, por qual motivo houve tanta polêmica? É que alguém convenceu os nobres deputados de que tudo valia a pena se fosse possível atrapalhar o governo.
Alguém andou dizendo aos deputados que questionar tudo que viesse do Palácio era necessário para mostrar que o Legislativo é “independente” ou para fazer parecer que a governadora é “fraca”.
Pareceu que nunca foi sobre os policiais e era sobre eles próprios, como sempre.
Antecipar o calendário do fim das faixas, como eles queriam, ainda iria comprometer os cofres do Estado e poderia atrapalhar o governo Raquel em outros setores.
A favor, mas contra
Não havia lógica, não havia razão, e eles insistiram mesmo sendo necessário mobilizar público para gritar nas galerias da Assembleia contra algo que, no fim, até eles próprios deram voto favorável. Sim, toda a confusão foi por nada. Eles mesmos aprovaram o projeto e votaram favoráveis ao governo.
Quase unânime
Porque, no fim, terminou 41 x 1. O único voto contrário foi o de um deputado de um partido que nem é da oposição.
Na primeira votação, os parlamentares chegaram a conversar com o público, foram se explicar, disseram que estavam votando a favor mas “era só estratégia” para tentar modificar o texto antes da segunda votação.
Aí a modificação também foi rejeitada e, mesmo assim, na segunda votação o projeto com o texto do governo foi confirmado com todos os votos da oposição incluídos.
Foi tudo teatro? Se foi, era um tipo de "prática parlamentar de atrapalhamento". Não é nenhuma exclusividade brasileira, mas você encontra nos piores ambientes políticos mundo afora.
Pra não esquecer
O projeto aprovado pelos socialistas extinguiu as faixas salariais que foram criadas pelos próprios socialistas no governo Paulo Câmara. Já que votaram para acabar com a segmentação, deve ser porque reconhecem que foi um erro do governo anterior.
Seria honroso pedir desculpas. Não?