João Campos e sua inexplicável hegemonia indiscutível
De cada 100 eleitores recifenses, os que dizem não votar em João Campos de forma alguma caberiam numa Kombi, e ainda sobra espaço para bagagem.
O prefeito João Campos (PSB) encerrou o período legal no qual pode participar de solenidades e inaugurações antes da campanha comemorando uma pesquisa Datafolha que o coloca como a opção prioritária de três em cada quatro eleitores do Recife. Dos entrevistados pelo instituto, 75% dizem que vão votar no socialista para que ele continue sendo o prefeito da capital.
Impressiona
É cedo para afirmar qualquer coisa? É. Tudo ainda pode mudar? Pode.
Mas nem no lugar em que dois rios se unem para formar o Oceano Atlântico e bois saem voando, terra de histórias fantásticas, é possível ignorar um resultado tão acachapante.
Principalmente pelas evidências suplementares de uma resistência eleitoral impressionante.
Kombi
Não é apenas o dado de 75%, mas a rejeição ao candidato João Campos também chama atenção.
Enquanto o pré-candidato menos rejeitado da oposição é o nome do Palácio do Campo das Princesas, Daniel Coelho (PSD), com 28% dos eleitores dizendo que não votariam nele de jeito nenhum, o atual prefeito tem apenas 8% de rejeição.
Significa que de cada 100 eleitores recifenses, aqueles que dizem não votar em João Campos de forma alguma caberiam dentro de uma Kombi, e ainda sobraria espaço para levar bagagem.
Desconectado
A habilidade de Campos para desligar sua imagem do PSB e do grupo que era tão rejeitado quando Paulo Câmara foi governador é algo notável.
A imagem do prefeito está completamente desconectada de qualquer problema que a cidade possua, de qualquer dificuldade que os recifenses enfrentam e até do partido que os pernambucanos tanto detestavam.
Justificado
É estranho, mas não deixa de ser um sintoma do mundo hiperconectado e superficial das redes sociais, no qual é possível vencer disputas de argumentação mesmo sem ter grandes e consistentes argumentos. João tem, é preciso reconhecer, bons serviços prestados nesta gestão.
Ele tem o que entregar, sim. Mas seria o suficiente para justificar 75% de intenções de voto? Não.
O ruim é bom
O único dado que Gilson Machado (PL) tem para comemorar na pesquisa Datafolha é algo que muitos poderiam achar ruim, mas é bom: seu desconhecimento.
O bolsonarista surpreendeu nisso. Ele foi ministro do Turismo, participava até de “batizado de boneca” ao lado do ex-presidente Bolsonaro (PL) em Pernambuco, foi candidato a senador e conseguiu mais de 320 mil votos na capital. Mas apenas 35% disseram que sabem quem é ele.
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João Campos é conhecido por 100% dos entrevistados e Daniel Coelho foi citado por 90% dos eleitores.
Espaço limitado
A notícia é boa para Gilson porque ainda há espaço para ele fazer campanha, tentar chamar atenção e conquistar votos. Embora num ambiente em que o prefeito larga com 75%, essa missão é um tanto complicada. E se você considerar a rejeição do bolsonarista, em 38%, o aperto é ainda maior.
Expectativa
O resultado da pesquisa não é bom para a oposição no Palácio, mas está dentro do que vinha sendo trabalhado pela equipe de Daniel Coelho.
Diferente dos bolsonaristas, que imaginavam largar com dois dígitos, esperava-se mesmo já algo abaixo de 10% para o nome escolhido pelo Palácio do Campo das Princesas.
O ponto de crescimento maior deve vir somente após o período de convenções partidárias nos planos deles.
O ato e o tempo
A missão de Daniel Coelho acaba sendo muito dificultada pelo momento que vive o governo Raquel Lyra (PSDB) no Recife.
Pelo planejamento do Palácio, as entregas da gestão só estão começando a acontecer para a Região Metropolitana neste segundo semestre. Não houve tempo para melhorar a imagem do governo e contaminar positivamente a candidatura de Daniel. A burocracia e o calendário atrapalham.
Agora não
Não adianta, por exemplo, falar nada relacionado ao Recife, no nível do governo de Pernambuco, sem levar em conta os setores de Saúde e Segurança. Na capital, é o maior calo da gestão estadual.
A questão da segurança terá grande melhoria com a contratação de novos policiais, mas por causa dos cursos de formação, o efetivo só será reforçado em abril do ano que vem, muito depois da eleição. Melhorias na Saúde também vão demorar, porque o setor está sendo reestruturado.