Rejeição e desconhecimento vão limitando as chances da oposição no Recife
No Recife, como se diz, até boi voa. Mas não parece haver ninguém na oposição com a engenhosidade de um Maurício de Nassau para operar o impossível
O dado mais importante da pesquisa Quaest, que fugiu à margem de erro (3 p.p.), foi o aumento da rejeição de Daniel Coelho (PSD). O percentual daqueles que conhecem e não votam no candidato passou de 47% para 52%.
No dia seguinte à estreia do guia eleitoral, a coluna apontou que isso iria acontecer, por causa da estratégia utilizada, de bater no candidato adversário que disputa a reeleição, João Campos (PSB). Não se esmurra uma rocha bem postada no solo, porque o único resultado é machucar a mão. É preciso cavar o solo ao redor.
Tempo, tempo
Mas para ter algum resultado nesse trabalho manual paciente é necessário ter mais tempo nas ruas, no cotidiano da população. E também apontamos aqui o atraso da oposição para surgir como oposição nesse cotidiano, portanto o tempo é algo que o ex-deputado nunca teve. A missão de Daniel Coelho (PSD), que na pesquisa sobre intenção de voto caiu de 6% para 4%, já era difícil demais. Tornou-se praticamente impossível, porque a rocha nem se moveu, apesar dos socos e pontapés.
Campos continua no patamar próximo a 80% e a rejeição do socialista que era de 12% na primeira e na segunda pesquisa seguiu inalterada agora, em 12%.
Trocando votos
Por outro lado, Gilson Machado (PL) conseguiu chegar aos 8%. Há duas questões que precisam ser observadas sobre essa pesquisa e o candidato bolsonarista. A primeira é que ele não está tirando votos de João Campos.
Na última semana, Gilson tirou eleitores de Daniel Coelho. Exatamente os 2 p.p. que o colega de oposição perdeu fizeram o ex-ministro sair de 6% para 8%. Isso fica mais evidente por causa da tendência de alta que Campos apresentou.
Todas essas variações foram dentro da margem de erro, mas são indicativas de movimentação positiva para o socialista que saiu de 76% e chegou a 77%.
Rejeição caiu
Outra questão importante: muitos acreditavam que na medida em que Gilson fosse ficando mais conhecido sua rejeição aumentaria, pressionado pela alta rejeição de Bolsonaro (PL) no Nordeste. Mas o percentual de pessoas que dizem não votar de jeito nenhum em Gilson caiu (dentro da margem de erro) de 32% para 31%. O ex-ministro bolsonarista tem menos rejeição do que Daniel Coelho e do que Dani Portela (PSOL), que manteve os 34% da última pesquisa.
Não significa que essa rejeição não pode ainda crescer ou cair porque, curiosamente, apesar do avançado eleitoral, faltando menos de 20 dias para as urnas, 51% ainda dizem não conhecer o candidato do PL.
Agora, será coincidência que todas as limitações da oposição estão justamente na rejeição e no desconhecimento?
O PT não está indo
Dani Portela (PSOL) também merece atenção. Havia uma expectativa de que o voto dos petistas no Recife poderia migrar de João Campos para ela, por causa da indisposição do PT que foi rejeitado na formação da chapa do socialista. Até agora, isso não aconteceu.
Dani manteve 2% das intenções de voto desde o início da campanha e nada se alterou.
Nassau e o boi
Pode acontecer uma migração ainda? Daniel pode crescer apesar da limitação com a rejeição? Gilson pode escalar sua votação? João Campos pode cair? Pode. Tudo isso pode acontecer. No Recife, como se diz, “até boi voa”.
Mas não parece haver nas campanhas da oposição, entre seus estrategistas, nenhum conde Maurício de Nassau, engenhoso para operar o impossível como seria necessário.
Então, é melhor não esperar muito.