O futuro de um partido como o PT quando não houver Lula para costurar os rasgos

O PT sempre está brigando internamente e os problemas só silenciam quando o presidente usa seu poder. Quando não houver Lula, ainda haverá PT?

Publicado em 01/08/2024 às 20:00

O PT não acabou com os escândalos de corrupção, nem com a prisão de Lula. Goste-se ou não do partido, a verdade é que ele se fortaleceu. Alguns podem dizer que Bolsonaro (PL) contribuiu muito para essa sobrevivência do PT. Se tivesse feito um governo minimamente normal, estaria reeleito e o PT seguiria nos cantos de página.

Mas existe uma ameaça real, esperada e que vai mudar todo o futuro da sigla: o dia em que Lula não estiver mais disponível para preencher as fraturas do grupo que hoje comanda. E por não estar disponível, entenda-se uma aposentadoria, um afastamento ou até o fim de sua contribuição ao mundo em vida.

Aí vai complicar.

Tucanos

O PSDB tem dois exemplos de pessoas que eram linha e agulha no partido.

Em que se transformou o ninho tucano depois da morte de Sérgio Guerra e do afastamento voluntário de Tasso Jereissati das decisões partidárias nacionais?

O PSDB virou um nanico, repleto de nostalgia e vazio de planos futuros. Rachado, há um PSDB de direita, um de centro-direita e outro de centro-esquerda.

Partido e repartido

Quando aconteciam encontros da chamada Juventude Socialista, que incluíam PT, PCdoB, PDT e outros partidos de esquerda brasileiros, é normal que haja entre os participantes uma certa rivalidade. Bem no clima de piada, os integrantes do PCdoB costumam cantar uma música para provocar os petistas que tem o seguinte refrão, repetido irritantemente: “Partido partido e repartido”.

A crítica é exatamente por ninguém se entender dentro do PT. A única unidade do partido é Lula.

Divisão sempre

Trazendo a conversa para Pernambuco, alguém lembra de um único ano eleitoral em que os petistas não divergiram internamente? Aconteceu agora no Recife, uma ala queria indicar o vice de João Campos (PSB), outra queria lançar candidato próprio e havia até quem defendesse ficar neutro e liberar a militância para apoiar Dani Portela (PSOL).

No fim, só se resolveu quando Lula bateu o martelo com o apoio ao atual prefeito, mesmo sem a vice. Imediatamente os que eram críticos foram abrandando as reclamações gradualmente. Até os que reclamaram da decisão nacional logo estavam afirmando que seguiam o partido.

Nota da discórdia

Outro exemplo foi a nota sobre a Venezuela. Todos sabem que o texto reconhecendo com ar de timidez canalha a vitória de Nicolás Maduro teve a aprovação de Lula. Mas o conteúdo conseguiu desagradar quase todo mundo no partido. Alguns porque acharam que foi um movimento radical, outros porque acham que foi tímido.

Quando você tem pessoas reunidas em um mesmo grupo divergindo com essa distância, num assunto tão delicado quanto o ambiente democrático, a chance de haver cisão é enorme caso não haja o que os una.

Divisões

O PT, numa situação parecida com a do PSDB, tem gente de centro-esquerda, de esquerda e de esquerda radical. Vai de gente que tem pensamento aproximado ao liberalismo moderado até os que defendem uma revolução comunista a ferro e fogo.

Tem gente com bastante juízo e gente sem nem um pingo dele.

Implosão prevista

Diferente de siglas que são cartoriais, com figuras que se assemelham mais a proprietários do que a gestores, o PT é um organismo repleto de divergências costuradas com habilidade pela sua liderança máxima, Lula.

Quando ele não estiver disponível para traçar linha e agulha pelos rasgos desse tecido frágil, sem sucessão definida, o PT vai implodir.

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