Lula, Marina Silva e a incompetência disfarçada com gritaria coletiva
Desde fevereiro, a pasta do Meio Ambiente publica portarias com a declaração de emergência ambiental e o risco de incêndios em várias regiões do País.
Lula (PT) viaja esta semana para Nova Iorque onde deve abrir a reunião da ONU. Vai falar, entre outros assuntos, sobre meio ambiente. O Brasil fala sobre meio ambiente com uma autoridade confusa: a de quem possui algo em grande volume, florestas, mas não tem a mínima ideia de como lidar com aquilo.
É como ter uma nave espacial e entregar o comando a alguém cuja única experiência com o espaço é fazer poesia sobre as estrelas.
Gritaria
Antes de viajar, enquanto o fogo tomava conta de vários estados brasileiros, distribuídos em mais de 184 mil focos de incêndio, o presidente pedia uma reunião dos outros poderes para ajudá-lo a resolver o problema, a ministra Marina Silva (Rede) se limitava a dizer que a culpa é do terrorismo climático e a Advocacia Geral da União declarava, na Rádio jornal, que haveria “tolerância zero” com quem estivesse desmatando e colocando fogo nas florestas.
E nenhuma solução prática e objetiva ainda foi apresentada. Lula grita por ajuda, Marina evoca sua militância, “terrorismo climático”, e o Advogado da União ameaça processar todo mundo.
Se isso é ter algo sob controle, melhor voltar a fazer poesia.
Já sabia
No meio desse caos, surgem informações divulgadas por jornais como o Estado de São Paulo provando que o governo Lula já sabia desde o início do ano sobre o risco de incêndios na proporção em que eles estão ocorrendo.
Desde fevereiro, a pasta do Meio Ambiente, da própria Marina Silva, publica portarias com a declaração de emergência ambiental e o risco de incêndios em várias regiões do País. A mais recente, de abril, deu conta da probabilidade crescente de queimadas ao longo do ano, chegando a citar 13 estados nos quais o risco era maior.
Resta saber se a gritaria de agora é fingimento ou fruto de incompetência.
Agiu pouco
O governo diz que se preparou quando foi alertado, mas se tivesse sido suficiente não haveria tanta correria e nem o desespero cada vez mais aparente da gestão, porque nem um plano integrado com os estados parece ter sido criado preventivamente. Está tudo sendo forjado no calor do fogo, com apertos de mão cobertos de fumaça.
Até a reação do STF, que ultimamente em tudo se mete, não é a habitual também. O ministro Flávio Dino tem dado ordens cada vez mais executivas, Luís Roberto Barroso dá demonstrações de impaciência e o ambiente que se apresenta é qualquer coisa, menos o de algo que estava dentro de alguma previsão.
Autoridade
Tanto que somente quando a situação já estava fora do controle Lula anunciou que iria criar a tal da Autoridade Climática, um cargo de deveria ser de representação interna e externa, como se fosse a nomeação de um primeiro-ministro para o clima, mas que não havia sido resolvido até hoje porque Marina Silva não queria o cargo, mas também não queria que a pessoa a assumi-lo tivesse autonomia longe de suas ordens. Marina queria um subordinado, não uma solução.
Agora, sua ineficiência no governo faz com que todos sonhem que ela seja a tal da autoridade. E que o ministério vá para alguém que esteja disposto a carregar baldes de água nas chamas.
Apontar o dedo
É impossível não lembrar de Bolsonaro (PL), cuja incompetência, inclusive no clima, impede a saudade. Bolsonaro tinha motivos objetivos, embora criminosos, para sua inoperância, que era salvaguardar os interesses da bancada ruralista que o apoiava com ardor e interesse. Ao menos no caso do governo Lula e de Marina Silva, por enquanto, parece ser apenas um terrível caso de incompetência. Parece.
Mas na situação atual, se Bolsonaro fosse presidente, o que Marina e Lula estariam dizendo por aí?
Patriota
O deputado estadual José Patriota trabalhou por mais de uma década à frente da Associação Municipalista de Pernambuco e reunia seus colegas prefeitos mesmo quando deixou de ser prefeito e continuou à frente da Amupe por um tempo ainda. Era uma das criaturas mais sensatas e apaziguadoras da política pernambucana atual, dominava a arte de fazer pontes independente de partido, ideologia ou posição administrativa.
Engenheiro de alternativas
Certa vez, numa conversa com este colunista durante a fase mais radical da polarização política do Brasil, dizia que até entendia as pessoas defenderem aquilo em que acreditam, mas política para ele “servia somente para unir” e na Amupe ele virou “engenheiro de alternativas” que unissem os municípios. Por isso deixa tanta saudade em sua partida precoce, após uma luta de anos contra um câncer que, embora agressivo, nunca conseguiu impedi-lo de trabalhar.