O poder de Gilberto Kassab e do seu PSD que emerge em 2024

A eleição de 2026 deve passar pelo PSD. Se quiser ser reeleito, Lula precisará do PSD. E se quiser ter alguma chance, o bolsonarismo precisará do PSD.

Publicado em 21/10/2024 às 20:00

O ponto mais alto da carreira eleitoral de Gilberto Kassab (PSD) foi ter sido reeleito prefeito de São Paulo, depois de ter assumido o lugar de José Serra (PSDB), de quem era vice. Foi a época já passada em que o grupo ligado aos tucanos, hoje amargando menos de 2% dos votos, mandava na capital paulista e no estado de São Paulo. Acabou.

A verdade é que Kassab quase não tem votos próprios. Se fosse candidato hoje, apenas com o nome, poderia ser um fiasco. Mas o que consta e conta na ficha de Kassab hoje não é mais a carreira eleitoral e sim a carreira política, como dirigente partidário.

Nesse setor, ele é simplesmente o maior do Brasil.

O maior

Quando o segundo turno terminar, o PSD comandado nacionalmente por Gilberto Kassab deve se aproximar de 900 prefeituras. No primeiro turno, a sigla já ultrapassou o MDB e se transformou na referência partidária para o maior número de prefeitos do país. Esse número ainda deve crescer e se aproximar de mil prefeituras após o segundo turno.

É que há grupos políticos que começam a se movimentar para se filiar e devem levar prefeitos na bagagem. Pernambuco é um desses casos, com a governadora Raquel Lyra, hoje no PSDB e tendo ajudado a eleger mais de 30 prefeitos tucanos. Há muitos comentários nos bastidores de que ela está com a mudança acertada para 2025 e leva seu grupo junto.

Receita

A receita de sucesso do PSD passa pelo posicionamento equilibrado e paciente de Gilberto Kassab. O partido ficou à margem de escândalos, tornando-se campo seguro para os que não queriam se ver vinculados à corrupção que era uma das maiores preocupações dos brasileiros até meses atrás.

Além disso, a sigla não assumiu uma posição firme à direita e nem à esquerda com o vigor que a polarização política de 2018 a 2022 exigiu de alguns. Foi o caminho acertado.

Hoje o PSD está com Tarcísio de Freitas (Republicanos) no Governo de São Paulo, com o próprio Kassab como secretário, mas também está com três ministérios no governo Lula (PT).

Guerra internas

Muitos podem dizer que outros partidos, inicialmente, tentaram fazer o mesmo, colocando-se como uma alternativa ao antagonismo, como o MDB, o União Brasil e o PSDB. Mas há diferenças cruciais entre esses partidos e o PSD: o poder definido e a neutralidade no segundo turno da última eleição presidencial.

Em todos os outros partidos houve conflitos internos sobre ficar mais à direita aproveitando a onda do momento, ou não.

Sem conflito

Todos esses conflitos eram guerras de poder, com grupos mais à direita ou à esquerda tentando ganhar influência interna. No PSD esse conflito não existiu, porque não tinha razão de existir.

O comando está tão bem definido que não há luta pelo poder apoiada na influência do bolsonarismo ou da esquerda, como ocorre no PSDB, União Brasil e MDB. Todo mundo sabe quem manda, sabe que isso não vai mudar e sabe que Kassab não vai obrigar ninguém a votar na esquerda ou na direita.

Fiel da balança

Essas escolhas trouxeram o todo poderoso presidente nacional do partido a ser considerado agora também o todo poderoso da próxima eleição, em 2026. Kassab, com suas quase mil prefeituras e com a expectativa de filiar deputados que vão tentar a reeleição na próxima janela de transferências entre as siglas, será o fiel da balança.

A eleição deve passar pelo PSD. Se quiser ser reeleito, Lula precisará do PSD.

Se quiser ter alguma chance, o bolsonarismo precisará do PSD.

Lula pragmático

Quem já percebeu isso foi o atual presidente da República, que não é bobo e sinalizou para os aliados: quer Kassab bem perto em 2026. Há quem diga que o petista estaria disposto até a entregar a vice a ele em troca do apoio que não teve em 2022, quando o partido ficou neutro no segundo turno.

Essa aliança com Kassab pode se desenrolar para algo até mais amplo, com garantias de apoio ao ex-prefeito de São Paulo para uma disputa presidencial futura, por exemplo. O atual presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD) também tem interesse num acordo, já que pretende ser candidato a governador em MG.

Radical

Do outro lado do antagonismo, há mais dificuldade e por puro radicalismo. Bolsonaro vetou qualquer aliança entre o PL e o PSD. O ex-presidente reclama que Kassab não defende as pautas da direita que ele defende, então não é bem vindo ao lado de seu grupo, seja quem for o candidato.

Pelas projeções do poder de Kassab para os próximos dois anos, a birra de Bolsonaro pode ser um erro definitivo na estratégia da direita para a próxima eleição.

O que fará a felicidade de Lula.

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