E se a eleição americana terminar empatada? Lá não tem segundo turno
Nesse caso seria realizada uma eleição contingente. Um tipo de voto indireto com resultados separados na Câmara e no Senado. Já aconteceu duas vezes.
O mundo acompanha com muita tensão a apuração dos votos nos EUA. Não é exagero dizer que vidas estão em jogo, por causa das guerras que se desenrolam pelo mundo. Quem vencer a disputa entre Kamala Harris e Donald Trump poderá definir o futuro de Ucrânia, Rússia, Israel, Líbano e Irã.
No momento em que você lê este texto, já pode haver ou não uma projeção de vitória para qualquer um dos lados, nesta que é a eleição mais acirrada da história americana, mas a apuração oficial deve se desenrolar até o fim da semana. O que pouca gente sabe é que a eleição pode ficar empatada. E aí, gera uma confusão.
O sistema do que eles chamam de democracia mais sólida do mundo é, na verdade, uma bagunça. Ninguém é obrigado a votar, mas quem vota pode fazer isso até pelos correios. Tem voto impresso e tem voto eletrônico. Quem vence em um estado leva todos os delegados daquela localidade, mas isso não é em todos os estados.
Em dois deles, os delegados tomam suas decisões de forma independente, de acordo com o distrito que representam. O voto popular não é direto, porque quem elege é o colégio eleitoral. E nesta disputa, em especial, existe a possibilidade real (atestada por simulações estatísticas) de o pleito terminar empatado com 269 delegados para cada candidato. E aí?
Se isso acontecer, não existe segundo turno. Nesse caso, haverá o que é chamado de “eleição contingente”. O presidente seria escolhido pela Câmara de Representantes, com os deputados que serão empossados no ano que vem. Já o vice-presidente seria escolhido pelo Senado.
A situação, se acontecer, vai gerar muita polêmica, porque a Câmara deve ter maioria Republicana e elegeria Donald Trump, mas o Senado deve ter maioria Democrata e elegeria um vice do outro partido. Como todo vice-presidente é também o presidente do Senado, Trump teria muita dificuldade para aprovar qualquer coisa, além de ter a sombra de um adversário o tempo todo na Casa Branca.
É menos provável que um empate aconteça em 2024, claro, mas já aconteceu duas vezes. A primeira foi em 1800 e a última em 1824, duzentos anos atrás. Na época, respectivamente, venceram Thomas Jefferson e John Quincy Adams na eleição contingente.
Uma curiosidade é que os partidos Democrata e Republicano eram um só nessa época. O Democrata-Republicano só se separou na eleição seguinte, em 1828, dando origem aos grupos que existem hoje e polarizam na eleição americana.
O famoso estatístico Nate Silver, chamado de “mago das eleições americanas”, fez sua análise do modelo estatístico que usa para “prever” os resultados. Em 2024 ele rodou um algoritmo com 80 mil cenários de simulação (o dobro do que faz normalmente).
A partir daí, Silver realiza previsões e aponta um vencedor. Até a madrugada do dia 5, Kamala venceu em 40.012 simulações (50,01%), Trump venceu em 39.718 cenários (49,6%) e o tal “empate quase impossível” apareceu em 270 resultados. A possibilidade é mínima, é verdade, mas já pensou?
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