Cena Política | Análise

A confusão inaceitável na Alepe que precisa ser avião e não fusca

Motorista de fusca, com a mobilidade que tem, faz o que quer e bem entende. Mas piloto de avião segue o plano de voo, ou provoca uma tragédia.

Por Igor Maciel Publicado em 14/02/2025 às 20:30

Dois fatores são inegociáveis quando se fala em força institucional. O primeiro é credibilidade e o segundo é alcance. Quanto mais cidadãos a instituição alcança e quanto mais confiança inspira, mais forte ela é.

Nos últimos anos a Alepe ampliou seu alcance e passou a estar presente na vida de mais pessoas. É um ponto positivo, mesmo quando essa não é a função prioritária da Casa. Mas em termos de credibilidade, há um problema sério que precisa ser observado.

Não se constrói confiança com dúvida, nem com atropelo e muito menos apoiado em confusão.

Confuso

O que aconteceu na Assembleia Legislativa de Pernambuco nos últimos dias é algo que não pode acontecer numa instituição com a história e a representatividade da Casa.

Para a manutenção da credibilidade não importa tanto a direção que o grupo toma, se é ao lado do governo ou ao lado da oposição, porque isso vai do preço da política na gôndola do mercado e varia de acordo com diversos fatores. Mas é preciso que o produto esteja exposto, o preço seja claro e não mude, ao menos enquanto o cliente chega ao caixa.

Um deputado que faz com que o partido altere sua formação e a composição da casa por três vezes no espaço de poucas horas, sendo apenas ele a causar essa confusão, precisa ser repreendido. Um deputado que, conduzindo a Alepe a coloca em confusão, também.

Credibilidade

O que constrói credibilidade é previsibilidade, equilíbrio e firmeza. Esta última, a firmeza, deve ser inquestionável e numa casa legislativa só é inquestionável o que está bem apoiado no regimento. Os questionamentos formais de ao menos 13 parlamentares dizem que isso não aconteceu no episódio da convocação para a instalação das comissões.

Conduzir uma instituição é como conduzir um avião, não um fusca. Com o “Volks” pequeno você consegue fazer retornos com facilidade, entra e sai em qualquer beco. Já com um jato A330, basta o piloto pensar demais antes de executar o que foi planejado para que um grande desastre com centenas de mortos aconteça.

Instituições públicas e privadas não são um fusca, precisam de planejamento, devem ser previsíveis e firmes na execução de seus planos e regras. Se não for assim, a tragédia é grande.

Fusca e avião

O União Brasil, tem todo o direito de agir segundo sua condução democrática interna, retirando o partido do blocão do governo e migrando para a oposição ou ficando lá na base governista. O que não tem cabimento é que um deputado modifique seu próprio entendimento de acordo com o próprio humor, seja qual for a base decisória dele, bagunçando o planejamento de todos.

Da mesma forma, alguém que está no exercício da presidência da Casa, continua sendo deputado e tem todo o direito de se conduzir segundo a própria preferência, mas como presidente deve obedecer regras básicas do regimento interno.

Motorista de fusca faz o que quer, mas piloto de avião segue o plano de voo para não matar ninguém.

Padaria e plenário

Esse é o tipo de coisa que não deveria ser necessário explicar. Na Alepe há homens e mulheres extremamente experientes. Não se conhece ainda o caso de alguém que saiu de bermuda e chinelo de dedo para comprar pão e terminou virando deputado sem querer. Todos os que estão ali tiveram outros cargos e são minimamente experientes com a condução de instituições públicas.

Mesmo que não devesse ser necessário explicar, é preciso porque a relação da Alepe com o Palácio foi muito ruim nos primeiros dois anos do governo Raquel. E quando coisas assim acontecem, Pernambuco sai muito prejudicado.

Convém, então, sempre lembrar do que realmente importa nisso tudo, que é o povo pernambucano. Os passageiros desse avião.

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