Igor Maciel: Como Priscila Krause apaziguou o medo de esvaziamento do PSDB em PE
Convenhamos, hoje em vias de extinção, o PSDB ganha muito mais com deputados do que com um governador. Não ser extinto depende de pragmatismo.

Quem na oposição ao Palácio planejou assumir o PSDB com a saída da governadora Raquel Lyra para o PSD pode ter que desistir do projeto. E não é uma questão de competência, força política ou empenho, mas de oportunidade e calendário. Raquel Lyra conduziu a própria ida ao novo partido com o cuidado de não deixar espaço para que alguém levasse o PSDB de seu palanque. E conseguiu.
Bruno
A Executiva Nacional mobilizou Bruno Araújo, ex-presidente do partido e nome ainda muito influente entre os tucanos, para conduzir o processo local, com medo de que a sigla implodisse no estado, sendo esvaziada pela governadora na saída.
Bruno é hábil, pisou bem o terreno e entendeu a entrada de Priscila Krause, vice-governadora, como uma garantia de que Raquel ainda fará aquilo que o PSDB mais precisa neste momento, que é a formação de uma chapa para disputar cadeiras na Câmara Federal.
Calma
Convenhamos, hoje o PSDB ganha muito mais com deputados do que com um governador. Não ser extinto depende de pragmatismo. A garantia de Raquel ser a vice-governadora ajudou Bruno a tranquilizar o ambiente tucano. “Pessoalmente estou orgulhoso em recebermos um quadro da envergadura moral e política de Priscila Krause. Ela é um exemplo de vida pública”, comentou ele à reportagem do JC.
Chapa
O fato é que, num ambiente tranquilo, Priscila terá até o fim do ano para viabilizar a formação de chapas no PSDB e demonstrar que vale a pena manter o partido com Raquel. No fim de 2025 haverá a eleição para o diretório estadual e termina o mandato do atual presidente, Fred Loyo. Quando havia o medo de esvaziamento, até uma intervenção chegou a ser cogitada, segundo uma fonte que conversou com a coluna. Mas a solução Priscila arrefeceu os ânimos.
Calendário
É no fim de 2025 que entra a questão do calendário, porque o tempo até a eleição será curto quando terminar o mandato do atual diretório. Se a chapa não for o que o PSDB espera, haverá poucos meses para qualquer outro assumir e viabilizar o grupo até as eleições.
Para evitar uma crise futura, Bruno Araújo, que vinha se mantendo bem restrito aos bastidores, terá que fazer um tipo de supervisão e tornar-se mais ativo na vida partidária, mais do que tenha planejado, talvez.
Não é algo ruim. Em muitos momentos mais críticos dos últimos anos, a figura prática dele fez falta ao estado.
Fora também
Algo que chamou atenção na filiação de Raquel Lyra ao PSD foi a quase completa ausência do assunto Lula (PT). Uma das principais justificativas para a migração era a de que o PSDB é oposição à gestão do petista e ela precisava estar numa sigla aliada ao Planalto.
Mesmo no PSDB, Raquel conseguiu criar pontes diretas com a gestão federal e garantiu recursos, mas a proximidade com a eleição de 2026, quando os tucanos devem ficar mais enfáticos contra os petistas, iria trazer constrangimentos.
O problema é que o PSD, até onde se percebeu, também não vai ficar com Lula na próxima eleição.
Ratinho
Pela entrevista que concedeu ao "Passando a Limpo", na Rádio Jornal, esta semana, Gilberto Kassab (PSD) não está disposto a apoiar a reeleição de Lula. Ele deixou isso claro ao afirmar que é grande a possibilidade de lançar uma candidatura própria e citou o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD).
A informação é reforçada pela conversa que a coluna teve com um filiado ao PSD e muito próximo de Kassab. Para esta fonte, o partido planeja desembarcar do governo Lula e apresentar um candidato próprio com a proposta de moderação entre extremos, como foi Simone Tebet para o MDB em 2022.
Prioridades
Este candidato vai tentar se viabilizar na disputa, terá postura equilibrada e a possibilidade de, não vencendo a eleição, servir como ponte entre o PSD e o próximo governo, independente de quem alcançar a vitória. Enquanto isso, Kassab trabalhará para fazer o maior número de governadores, deputados e senadores da história da sigla, como fez na eleição municipal em 2024.
Nas primeiras posições da lista de prioridades está, segundo esta fonte, a reeleição de Raquel em Pernambuco.