Por que a interrupção das exportações de carne para a China não fez o preço do produto cair no Brasil? Entenda
Grandes frigoríficos estão buscando novos mercados de exportação como forma de manter a rentabilidade do setor
A suspensão das exportações da carne brasileira pela China, desde o dia 4 de setembro, por conta de casos atípicos do mal da vaca louca ocorridos no Mato Grosso e Minas Gerais, causou um desequilíbrio no mercado interno. O preço da arroba do boi caiu cerca de 14%, e o resultado é que o pecuarista está preferindo manter o boi no pasto, a vender para o abate, isso explica, em parte, porque o preço da carne nos açougues brasileiros não caiu como poderia cair.
A saída para os grandes frigoríficos é buscar alternativas para manter o nível de exportações. É o caso da empresa pernambucana Masterboi, cujas exportações respondem por 25% das vendas da empresa. Em média, 2 mil toneladas por mês são enviadas para o mercado externo, das quais 50% seguiam para a China. Mas, com a decisão dos chineses de suspender a compra da carne brasileira, o cenário mudou. Mesmo exportando regularmente também para outros países como Hong Kong, Vietnã, Angola, Kuwait, Singapura e Arábia Saudita, a Masterboi está em busca de novos mercados e, há cerca de dois meses, passou a exportar para o Chile e Líbia.
EQUILÍBRIO
"Nada se compara ao mercado chinês em termos de volume, mesmo um mercado como o chileno, que está extremamente satisfeito com os nossos produtos e remunera bem, não chega a compensar o que vendíamos para a China", explica Miguel Zaidan, diretor executivo da Masterboi. Segundo Zaidan, a exportação ajuda, inclusive, a equilibrar os preços nos açougues brasileiros. “Sem um volume maior de exportação, parte das nossas unidades ficam ociosas. Nossa planta no Pará está quase que 50% ociosa, porque era muito voltada para a exportação para a China. Vendendo para o mercado externo, buscamos equilibrar nosso custo médio de vendas, contribuindo para que o preço no mercado nacional não suba tanto. Estamos fazendo nossa parte”, explica Miguel Zaidan.
Outros aspectos que forçam o aumento no preço da carne no Brasil é o aumento dos insumos, como energia elétrica e frete. "Como toda atividade econômica, sofremos os efeitos da macroeconomia. O mercado é soberano, não podemos controlar, o que estamos fazendo é rentabilizar as vendas externas para zerar nossa margem no mercado interno, que é o que está acontecendo", diz o executivo.
Como não há previsão da volta das exportações para a China, a empresa ampliou a venda aos países para os quais já exportava e reforçou sua presença nacionalmente. “Como a Masterboi tem um mercado interno muito sólido e bem trabalhado, tem explorado esse potencial. Além disso, o mercado externo é muito volátil, depende de muitas variáveis”, explica Miguel Zaidan. Ele acredita que, se a renda do brasileiro melhorar, as vendas internas de carne tendem a crescer, ajudando a restabelecer o mercado com o equilíbrio entre oferta e demanda. "Uma maneira segurar o preço da carne é garantir a oferta do produto”, explica.