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Prêmio Melhores Escolas do Mundo: escola de Pernambuco avança na disputa, está entre as 15 melhores e faz campanha para conseguir votos

A Escola de Referência em Ensino Fundamental Evandro Ferreira dos Santos, da rede municipal de ensino de Cabrobó, no Sertão de Pernambuco, está entre as 15 melhores do mundo

Margarida Azevedo
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Margarida Azevedo
Publicado em 27/09/2022 às 18:41 | Atualizado em 27/09/2022 às 18:47
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Escola Evandro Ferreira dos Santos fica na periferia de Cabrobó. É a única de ensino integral da rede municipal - FOTO: Divulgação
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A Escola de Referência em Ensino Fundamental Evandro Ferreira dos Santos, da rede municipal de ensino de Cabrobó, no Sertão de Pernambuco, avançou no Prêmio Melhores Escolas do Mundo. Em junho, foram divulgados 50 semifinalistas. Agora em setembro saiu o resultado com os 15 colégios que continuam na disputa. Nessa etapa, um dos critérios é votação popular. Por isso, a escola sertaneja está fazendo uma grande campanha para conseguir votos.

Os vencedores serão anunciados em 19 de outubro, durante a programação da Semana Mundial da Educação. Mas a votação, pela internet, só vai até o próximo domingo, dia 2 de outubro. Quanto mais votos a escola tiver, mais chances de levar o prêmio. A organização do concurso ressalta, no entanto, que a votação popular servirá de indicação da opinião do público. Porém a palavra final será dada por uma Academia de Juízes.

O projeto da Escola Evandro Ferreira dos Santos focou na alfabetização das mães dos alunos. Batizado de “Distantes sim, desconectados não! Família e escola projetando sonhos, promovendo a inclusão”, a iniciativa envolve entre 20 e 22 mães e começou ano passado.

O PRÊMIO

Organizada pela instituição britânica T4 Education, em parceria com Fundação Lemann, Fundação Templeton World Charity, Accenture, American Express e Yayasan Hasana, a premiação é dividida em cinco categorias: inovação, colaboração comunitária, ação ambiental, superação da adversidade e apoio a vidas saudáveis. Portanto, das 15 finalistas sairão 5 vencedoras, que receberão, cada, prêmio de 50 mil dólares.

O prêmio Melhores Escolas do Mundo tem como objetivo reconhecer o papel que escolas desempenharam no desenvolvimento da próxima geração de estudantes, sobretudo durante a pandemia de covid-19.

A escola de Cabrobó concorre na categoria superação da adversidade. Em cada categoria, nessa fase do concurso, há três finalistas. As outras duas concorrentes que disputam o título com o colégio de Pernambuco são a Escola Primária do Norte de Pinelands, da África do Sul; e o Projeto Abrigo Wakadogo, que fica na Uganda, também no continente africano.

Do Brasil tem outra unidade de ensino na disputa. É Escola Municipal Professora Adolfina J. M. Diefenthäler, localizada em Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul. É finalista na categoria colaboração comunitária.

PERNAMBUCO

A Escola Escola Técnica Estadual Professor Agamenon Magalhães (Etepam), que fica no bairro da Encruzilhada, Zona Norte do Recife, também esteve no grupo dos 50 semifinalistas. Ficou entre as 10 melhores com projetos na categoria inovação, com o projeto Life Up, que estimula o empreendedorismo na rotina escolar com a perspectiva de resolução de problemas sociais e ambientais. Mas o colégio não passou para a final do prêmio.

PROJETO DA ESCOLA DE CABROBÓ

A Escola Evandro Ferreira dos Santos fica na periferia de Cabrobó, no bairro Santa Rita. É a única de ensino integral da rede municipal. A maioria dos alunos é de famílias de baixa renda.

Os 144 estudantes são de turmas do 6º ao 9º ano do ensino fundamental. Eles chegam na escola às 7h30 e largam às 15h. A escola só abre vagas para novatos do 6º ano. Em média são oferecidas 80 vagas, com preenchimento por ordem de chegada.

Ano passado, quando a pandemia de covid-19 ainda estava em alta, as escolas municipais de Cabroró só abriram para aulas presenciais em setembro. Mas a Evandro Ferreira dos Santos manteve aula remota todo o ano letivo porque o prédio da escola estava em reforma.

"Passamos o ano distribuindo kit de merenda, tarefas para os alunos. As famílias, principalmente as mães dos alunos, vinham até a escola buscar. Percebemos que muitas não assinavam a ficha comprovando que haviam recebido o material porque não sabiam ler e escrever", conta a diretora Elineide Alves.

"Também notamos uma desmotivação das mães. Foi quando surgiu o projeto de juntar uma ação de alfabetização e motivação das mães", diz Elineide.

PARTICIPAÇÃO

No final de julho começou o projeto com a participação de 20 mães. Duas vezes por semana, à tarde, elas foram até a escola para ter aulas por 2 horas. "As que não sabiam ler e escrever aprenderam. As que já sabiam foram estimuladas a resgatar seus sonhos, projetá-los e ir em busca da realização deles", explica a diretora. A ação acabou no final do ano com 10 alunas. Foi retomada em abril deste ano.

"Além do investimento na educação e autoestima das mães, melhoramos o desempenho dos filhos delas pois muitas passaram a se interessar mais pelos estudos das crianças. E conseguiram ajudar os filhos nas tarefas", comemora a gestora da escola. Uma das ações para assegurar a presença delas foi a oferta, no mesmo horário do projeto, de aulas de reforço para os estudantes.

Uma mãe contou que tinha vergonha porque sua carteira de identidade tinha que ela era analfabeta. Aprendeu a escrever no projeto. Tirou uma nova carteira esse ano e está muito feliz, segundo Elineide. Ano passado o projeto foi conduzido pela professora Fernanda Sheilânia, contratada especialmente para a iniciativa.

Diana Maria Linhares da Silva, 47 anos, foi umas participantes do ano passado. Mãe de quatro filhos (17, 15, 13 e 11 anos), ela concluiu o magistério em 2005, quando teve o primogênito. Nunca mais voltou pra sala de aula nem tinha conseguido emprego formal. Agora, depois do projeto, é funcionária da escola onde seus dois filhos caçulas estudam.

"Acabei o magistério e passei a cuidar dos filhos, do marido, da casa. Trabalhei na roça, fiz muita faxina para ganhar dinheiro. Mas nunca tinha trabalhado com contrato assinado. Participei do projeto, fui muito incentivada pelas professoras e pela diretora", diz Diana. Seu sonho era justamente trabalhar. No início deste ano foi chamada pela direção da escola para ser auxiliar de serviços gerais.

COMO VOTAR NA ESCOLA DE PERNAMBUCO

Qualquer pessoa pode votar, desde que tenha uma conta de e-mail. Não há restrição de idade. Para votar, o primeiro passo é se cadastrar na página do prêmio. Basta inserir e-mail, nome completo, país de origem e ocupação. Em seguida, a pessoa receberá uma confirmação do cadastro. Será enviada uma mensagem para o e-mail informado.

Depois, deve-se entrar na página. Cada inscrito pode votar até cinco vezes, sendo um voto por cada categoria. Para escolher a escola de Cabrobó, é só escolher a categoria superação de adversidade. Tem um vídeo que mostra o projeto, realizado pela organização do prêmio.

"Estamos muito felizes em avançar na premiação. É um orgulho esse reconhecimento do trabalho feito na nossa escola", diz a diretora Elineide. Foi organizada uma grande mobilização em Cabrobó e cidades da região para angariar votos.

"Todos ganham com esse prêmio. É a prova que vale a pena investir em educação pois transforma vidas", ressalta a gestora.

RIO GRANDE DO SUL

Na cidade gaúcha de Novo Hamburgo, a Escola Profª Adolfina J. M. Diefenthäler é conhecida por ter uma gestão democrática. Antes, era tida como uma escola fraca, com altas taxas de reprovação e de evasão, era frequentemente depredada e professores e funcionários eram desrespeitados pelos alunos.

Em 2013, depois que o modelo de gestão democrática foi apresentado à comunidade escolar e implementado na escola, o cenário mudou. Todos alunos, familiares e funcionários participam de assembleias mensais para levantar temas a serem discutidos e, anualmente, é feita uma conferência com toda a escola para resolver as demandas maiores.

“A voz de cada um é respeitada e o clima escolar melhorou, nossos resultados de aprendizagem também”, conta a coordenadora Joice Lamb.

O colégio gaúcho e a Escola Evandro Ferreira dos Santos, de Cabrobó, têm educadoras que fazem parte da Associação Conectando Saberes, uma rede de apoio sem fins lucrativos que coloca professores no centro das discussões sobre a educação básica no Brasil.

O objetivo é fortalecer a profissão e construir em conjunto soluções para os desafios da escola pública. A Conectando Saberes tem apoio da Fundação Lemann.

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