Proibição de celulares em escolas: estudantes podem enfrentar sintomas de abstinência
Na última semana, o Presidente Lula sancionou lei que proíbe uso de celulares nas escolas, mesmo em intervalos. Texto prevê algumas exceções
A volta às aulas em 2025 será diferente para milhares de estudantes do ensino básico brasileiro. Isso porque o uso de celulares na escola, mesmo em momentos de intervalo, foi proibido por lei.
A recente decisão, sancionada pelo Presidente Lula na última semana, lança luz sobre os principais aspectos que cercam a decisão.
Para além das questões educacionais, a exposição imoderada de crianças e adolescentes às telas pode gerar graves danos motores, cognitivos e emocionais.
Segundo Cleyton Costa, diretor geral da educação adventista das unidades da região ABCDM e Litoral paulista, a proibição apresenta desafios tanto para estudantes quanto para educadores.
“Para uma geração que cresceu cercada por telas e que vê o celular como uma extensão de si mesma, a proibição do uso na escola pode desencadear uma espécie de ‘abstinência digital’ que afeta tanto o bem-estar emocional quanto o físico dos alunos”, explica.
“Muitos jovens hoje nunca conheceram um mundo sem acesso instantâneo à informação, redes sociais e entretenimento na palma de suas mãos, e essa mudança abrupta de cenário pode provocar diferentes tipos de desconforto e desafios”, aponta.
Especialistas alertam que essa transição pode gerar efeitos emocionais, como ansiedade e irritabilidade, especialmente entre os estudantes que possuem o hábito constante de verificar notificações.
A escola desempenha um papel primordial na conscientização sobre o uso de mídias digitais, principalmente nesse momento de transição para a proibição do uso.
“As escolas precisam dialogar com as famílias e com seus alunos, inicialmente. O melhor caminho sempre é o diálogo", aconselha a psicóloga Ana Cristina Fonseca, coordenadora de Graduação do Centro Universitário Frassinetti do Recife (UniFafire).
"As explicações sobre os danos e prejuízos precisam ser conhecidas por todos para que as decisões sejam acertadas e feitas com consciência dos benefícios trazidos por essa medida de proibição”, completa.
Nomofobia
Necessidade de ter um aparelho de celular sempre ligado por perto, mesmo em momentos de descanso ou enquanto dorme; ansiedade em verificar o telefone muitas vezes para verificar se recebeu mensagens; imensa preocupação com a quantidade de bateria disponível no aparelho móvel; ou disponibilidade de rede wi-fi.
Esses são alguns dos principais sintomas da nomofobia (do inglês, no mobile phone phobia). A condição é um transtorno do tipo fóbico-ansioso, de acordo com o CID-11, que consiste em medo ou pavor de ficar longe de um aparelho celular ou sem bateria, ou mesmo sem sinal de internet.
Neste momento de retorno às atividades escolares, os pais e responsáveis precisam estar atentos ao comportamento das crianças e adolescentes frente à recente proibição, que pode levar alguns jovens ao desenvolvimento de condições como esta.
O desafio também recai sobre os educadores, que precisam se adaptar à nova realidade.
“O professor também precisa mudar. Ele também vive a dependência e vai lidar com alunos que estão em abstinência e tédio, e que, possivelmente, serão mais questionadores e atentos. O apoio de toda a comunidade escolar é necessário nesse período de adaptação de ambos os lados”, aconselha Cleyton.
Prejuízo irreparável
A exposição imoderada às telas ainda na infância pode acarretar prejuízos incontornáveis para a constituição psíquica mais primordial da criança. “O prejuízo às relações sociais são enormes e podem incluir, isolamento social, ansiedade, depressão, baixa autoestima, entre outros”, explica Ana Cristina.
Mesmo em casa, o uso das telas deve ser controlado. "Os pais podem tentar refletir e negociar horários e ocasiões. Ou ainda substituir por atividades de socialização e de contato com o meio ambiente, diferentes texturas e atividades que envolvam tato, motricidade, entre outras", sugere.
A decisão do Governo Brasileiro segue uma tendência internacional. Na Europa, países como França, Itália, Holanda e Portugal já proíbem o uso de equipamentos conectados à internet por estudantes no ambiente escolar.
Nas Américas, Canadá e México também restringiram o uso dos aparelhos.