Posto Ypiranga de Bolsonaro, Paulo Guedes virou Bandeira Branca

Paulo Guedes sempre soube que ela é a ancora junto ao mercado. E sabe que é pau de barraca. Sabe que terá que ficar e fazer as entregas
Fernando Castilho
Publicado em 12/08/2020 às 13:20
O ministro da Economia, Paulo Guedes teve liberdade para montar a equipe que quis, juntando um grupo de secretários cuja conexão era a proposta de reestruturar o governo brasileiro. Foto: ALAN SANTOS/PR


Por Fernnado Castilho da Coluna JC Negócios

 
Na linguagem dos distribuidores de combustíveis, posto bandeira branca é aquela empresa que, livre da padronização e rigidez de procedimentos típicos de uma franquia, pode comprar combustível de qualquer distribuidora, definir o que colocar na área comercial e ajustar suas margens sem ter que pagar, entre ouras coisas, pelo uso de imagem corporativa das grandes marcas.

Funciona, mas o sujeito está por sua conta e risco ainda que possa, por exemplo, ser dono de vários postos.

O ministro Paulo Guedes, que chegou ao governo com a marca de Posto Ypiranga, corre o risco de virar bandeira branca onde o objetivo passaria o de se equilibrar politicamente entre as diversas alas do governo e continuar do cargo. Estaria avalizado pelo governo Bolsonaro que, aliás, foi quem cunhou nele a marca da distribuidora do Grupo Ultra, mas sob intenso bombardeio.

Justiça de faça, Jair Bolsonaro viu em Paulo Guedes aquilo que boa parte dos clientes de posto de combustível enxerga na franquia Ypiranga: Gasolina confiável, lojas de apoio, inclusive uma farmácia (Extra Farma), e segurança de um grupo empresarial forte e que tem boas práticas no mercado.

Não tem fama de vender barato. Mas e daí? Como diz a sabedoria popular ninguém sabe de empresa que quebrou porque vendia caro.

E Paulo Guedes teve liberdade para montar a equipe que quis, juntando um grupo de secretários cuja conexão era a proposta de reestruturar o governo brasileiro criando as condições de um ajuste que, no médio prazo, encaminhar a gestão do governo para uma redução drásticas dos custos do setor público.

O problema é que não havia nivelamento de expertise no setor público na equipe. Parte dela, não distinguia nota fiscal de empenho. Não sabia que no setor público as coisas só acontecem depois de três ordens iguais e que o tempo, literalmente, não é o senhor da razão.

O próprio Paulo Guedes não tinha essa expertise. Mas ele sabia que junto com Sérgio Moro era um dos pilares do governo Bolsonaro. Podemos acusar Paulo Guedes de qualquer coisa, mas ele tem dez vezes mais compromisso com o Governo Bolsonaro que tinha o ex-juiz.

Moro podia dar o charme que Bolsonaro desejava. Ser uma espécie do que Gilberto Gil e Marina Silva foram no Governo Lula. Mas Guedes sempre soube que ela é a ancora junto ao mercado. E sabe que é pau de barraca. Não está ali para ter mimimi, dar piti e sair. Não fará isso.

O problema é que depois de 18 meses as entregas não foram as que imaginou. Mesmo antes da crise do coronavírus, a equipe não estava entregando o que, internamente, eles se haviam auto imposto para o final de 2020.

Primeiro, Joaquim Levy foi demitido do BNDES por Bolsonaro. Depois Mansueto de Almeida viu seu projeto de ajuste com o estados virar pó Marcelo Labuto viu que Rubens Novaes não tinha um projeto sério para organizar a privatização do Banco do Brasil e voltou para o Banco Santander.

Rubens Novaes também se convenceu que não iria avançar na privatização do Banco do Brasil enquanto Salim Matar se convenceu que o estatal de Governo não era a Localiza que ele pode vender a frota de usados pelo preço que deseja e ainda ganhar dinheiro.

Ele mesmo disse numa carta que distribuiu nesta quarta-feria em que reconhece que parte da equipe não tinha experiencia e citou que cada processo envolve ao menos 15 instituições do Governo.

Finalmente, Paulo Uebel que foi secretário de João Dória viu que, na medida em que 2022 se aproxima. Bolsonaro não iria falar mais de reforma administrativa.

Isso não quer dizer que a equipe tenha se esfacelado. Mas não é time principal. Pode construir outra? Pode! Mas não era o que ele desejava. Pode reajustar? Pode! Mas é complicado em termos de gestão dentro do grupo.

Por exemplo, Rogério Marinho que entrou na equipe pela sua articulação com o Congresso. Ele foi estratégico na reforma da Previdência mas percebeu que o projeto de Guedes não tem como sair do papel porque as condições políticas mudaram.

Animal político, ele foi se juntar com quem quer uma porta de saída para ajudar o presidente ao menos chegar a 2022. Não está ainda pensando em reeleição porque, se não trabalhar agora, talvez Bolsonaro não vai entrar na sala da disputa de 2022.

O problema é que Guedes é pavio curto e às vezes tem uma crise de sincericídio que prejudica o governo. Ele fala o que pensa e muitas vezes não pensa no que fala e faz isso de forma errada e termina sendo mal interpretado. Em política isso é fatal. Ministro da Fazenda tem que animar  o governo. Mas tem que ser uma espécie de oráculo.

Mas no fundo o que aconteceu é que Paulo Guedes perdeu o apelo de eficiência que o Posto Ypiranga tem no imaginário e que Bolsonaro ajudou a consolidar. De certa forma virou posto bandeira branca que como sabe pode até ser um bom negócio, mas não é bem visto pelo cliente.

 

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